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Réu no caso Cayman diz ter recebido ordens de FHC

Por Agencia Estado
Atualização:

Em depoimento ontem como réu no julgamento da montagem do dossiê Cayman, o ex-diretor da Polícia Federal, Vicente Chelotti, disse que recebeu ordens do então presidente Fernando Henrique Cardoso para omitir um documento assinado pelo advogado Emerick Knowles, da CH,J&T, que isentava FHC, o ex-ministro José Serra e o então governador Mário Covas, de serem donos da empresa nas Bahamas, mas omitia o nome do então ministro das Comunicações, Sérgio Motta. "Recebi ordens para não informar a ninguém sobre o documento porque o presidente Fernando Henrique considerou a informação uma questão de Estado, para ficar em segredo", disse Chelotti na 10ª Vara Federal da Justiça federal em Brasília. Com isto Chelotti confirma as razões que levaram os delegados a indiciá-lo e ao procurador federal a denunciá-lo pelo crime de falsidade ideológica. O crime ocorreu quando Chelotti voltou da viagem às Bahamas com o documento do advogado, mas omitiu a informação do relatório feito aos delegados responsáveis pela investigação do caso. Chelotti informou à juíza Maria de Fátima pessoa Costa que antes de viajar às Bahamas, esteve reunido com o ministro José Serra, o secretário executivo do ministério da Justiça, Milton Seligman, e até Nelson Jobim, que já era ministro do Supremo Tribunal Federal, e recebeu ordens do grupo para ir buscar o original do documento e conseguir que o advogado da empresa CH,J&T emitisse outra carta isentando também Sérgio Motta de responsabilidade pela empresa. Ao omitir o documento das Bahamas do inquérito policial, o então diretor da PF preferiu seguir uma determinação do Palácio do Planalto que tinha pressa em esclarecer o caso, ao invés de colaborar com os delegados seus subordinados para a conclusão do inquérito. Mesmo atrapalhados pela ação de Chelotti, os delegados Paulo de Tarso e Jorge Pontes depois descobriram que Sérgio Motta também não era responsável pela empresa. A assinatura do ex-ministro já falecido foi copiada de um documento público por uma servidora do Ministério das Comunicações, que a passou a Francisco Sena e este a Roberto Barusco, um dos falsificadores do dossiê, que morava em Miami, Estados Unidos. Esta cópia da assinatura do ex-ministro foi a origem de toda a falsificação. Também prestou depoimento ontem o ex-diretor da Interpol brasileira, o delegado aposentado Washington Melo. Ele também é réu no caso porque ajudou a esconder o documento emitido pelo advogado da CH,J&T. Foi Washington quem primeiro obteve o documento nas Bahamas e o repassou, via fax, para a casa de Chellotti. Com o fax em mãos, o ex-diretor da PF reuniu-se com Serra, Seligman e Nelson Jobim. "Quando voltei das Bahamas deixei o original do documento com o presidente Fernando Henrique", informou Chelçotti. O principal falsificador do dossiê, o empresário Honor Rodrigues da Silva, continua com o pedido de prisão pedido e, por isso, não apareceu. Seu advogado Getúlio Humberto informou que Honor está no México e pediu à juíza que fosse ouvido no exterior por carta precatória. Ainda este ano a Justiça deve ouvir mais dois réus, o empresário Leopoldo Collor, irmão do ex-presidente Collor, e Cláudio Ferraz da Silva, compradores do falso dossiê.

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