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Resultado no Congresso não vai atrapalhar reformas

Por Agencia Estado
Atualização:

O mercado financeiro deu sinais de intranqüilidade com a guerra em torno da sucessão no Congresso, mas até a oposição reconhece que a preocupação com o nome dos futuros presidentes da Câmara e Senado é exagerada e revela o desconhecimento da agenda de reformas para 2001. O que preocupa o investidor, na verdade, não é a escolha de Aécio Neves (PSDB-MG) ou Inocêncio Oliveira (PFL-PE) para comandar os deputados, já que ambos têm perfis governistas que em nada ameaçam o governo. Mas se a disputa põe em risco a coesão dos aliados e o tamanho da base palaciana, ninguém acredita que o processo sucessório ameace a maioria parlamentar do governo no Congresso, por maior que sejam as seqüelas. "A agenda do Congresso este ano não depende mais do rolo compressor do governo, que tocou as reformas com três quintos dos congressistas, atropelando a oposição", resume o líder do PPS no Senado, Paulo Hartung (ES). Para aprovar a nova lei das Sociedades por Ações, a regulamentação do artigo da Constituição que trata do sistema financeiro ou as regras que permitirão privatizar os serviços de saneamento básico, o governo só precisa de maioria, e não do quórum de três quintos (308 dos 513 deputados e 49 dos 81 senadores). Ele salienta que, nem mesmo na hipótese de o governo "sair do imobilismo" e resolver tocar a reforma tributária, o Palácio do Planalto precisará dos três quintos. Neste caso, raciocina o líder, o Executivo poderá contar com muitos votos da oposição, já que a reforma tributária é uma reivindicação da sociedade, e não do governo. Presidência - O que está em jogo, por trás de toda essa guerra no Congresso, é o xadrez da sucessão presidencial de 2002. A disputa precipitou a corrida presidencial e é neste jogo que a eleição do presidente e líder do PMDB, senador Jader Barbalho (PA), para o Senado, ou a vitória do PFL de Antonio Carlos Magalhães (BA), com uma terceira via ou com o presidente nacional do partido, senador Jorge Bornhausen (SC), faz diferença. A cúpula do PFL sabe que o PSDB já fez opção pela parceria preferencial com o PMDB, mas ainda aposta que o presidente Fernando Henrique tem dúvidas. Por isto vai insistir em manobras judiciais para adiar a eleição do Congresso e ganhar tempo, numa última tentativa de eleger Inocêncio Oliveira ou, na pior hipótese, mostrar que lutou até o fim e deixar claro que a derrota custará caro ao governo. Não é o que diz um interlocutor que priva da intimidade de Fernando Henrique. Na avaliação deste político, o chefe já fez sua escolha e prepara-se para administrar os estragos na aliança que lhe dá sustentação no Congresso, garantindo a governabilidade nos dois anos de mandato que lhe restam. Ele acredita que o PFL encontra-se hoje nesta situação difícil porque "errou demais" com ACM ao longo do processo. "Estão jogando agora com enorme chance de perder, mas com grande competência para que a fatura seja a maior possível", resume o interlocutor presidencial. Segunda classe - Os próprios pefelistas já discutem o cenário de final desfavorável e admitem que isto colocará o partido em uma posição de "segunda classe" na aliança governista. "A vitória do PMDB vai sugerir uma chapa com Serra (o ministro tucano da Saúde, José Serra) na cabeça e o PMDB na vice, o que nos empurra para uma candidatura própria", raciocina um dirigente do PFL. Mas esse mesmo dirigente pondera que o PFL pode ganhar tanto espaço com o candidato próprio - o governador Jaime Lerner (PR) ou a governadora Roseana Sarney (MA) - que o governo precisará chamá-lo para uma composição mais à frente, dispensando o PMDB.

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