Requerimentos da oposição dominam CPI das Fake News

Entre os 92 pedidos aprovados na comissão, 85 são de parlamentares do PT, PSB e PDT; governo promete reação

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Por Thiago Faria
Atualização:

BRASÍLIA - Foco de preocupação do governo Jair Bolsonaro, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Fake News tem sido dominada pela oposição. Dos 92 pedidos aprovados no colegiado desde seu início, em setembro, 85 tiveram como autor parlamentares do PT, PSB ou PDT. 

O único requerimento de um governista aceito até agora foi apresentado pelo senador Eduardo Gomes (MDB-TO), novo líder do governo no Senado. Ele pediu uma audiência pública com especialistas e representantes de Google, Facebook e Twitter. Nesta quarta-feira, o colegiado deve votar a convocação de assessores da Presidência ligados ao vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente. 

O plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília Foto: Andre Dusek/Estadão

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A comissão investiga a disseminação de notícias falsas nas eleições presidenciais do ano passado. Adversários tentam usar a CPI para encontrar irregularidades na campanha que elegeu Bolsonaro. Na lista de pedidos aprovados está a convocação de representantes de empresas que prestaram serviços ao então candidato do PSL, como a AM4 Brasil.

A ofensiva de opositores deve ganhar força após a ex-líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), apontar a ligação de filhos de Bolsonaro com uma rede organizada para espalhar fake news e atacar adversários. As declarações da deputada foram dadas durante entrevista, na segunda-feira, ao programa Roda Viva, da TV Cultura.

Entre os pedidos que estão na pauta da reunião marcada para hoje está a convocação dos assessores da Presidência da República Tercio Arnaud Tomaz, José Matheus Salles Gomes e Mateus Matos Diniz, nomes ligados a Carlos, o “zero dois” do presidente, que comandou a estratégia de comunicação da campanha do pai no ano passado. Conforme mostrou o Estado, o núcleo formado pelos três tem forte influência sobre o presidente e é conhecido por integrantes do governo como “gabinete do ódio”.

“O tema fake news atinge o centro do governo. Isso não vem da minha boca, vem inclusive de membros do PSL, como a deputada Joice Hasselmann”, afirmou o deputado Tulio Gadelha (PDT-PE), integrante da comissão. Um convite para Joice ser ouvida na CPI, apresentado pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE), também será analisado hoje.

Em minoria na comissão, aliados de Bolsonaro têm perdido a batalha para evitar que a CPI se aproxime do presidente. Em sessão no fim de setembro, os deputados Caroline de Toni (PSL-SC) e Filipe Barros (PSL-PR) tentaram barrar a aprovação de uma série de requerimentos em bloco - sem a análise individual de cada pedido. Não conseguiram.

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"É uma armadilha! É uma armadilha da oposição para pegar o presidente Bolsonaro", protestou Caroline após o presidente da comissão, senador Angelo Coronel (PSD-BA), rejeitar seus pedidos.

A deputada do PSL é autora de 47 requerimentos na CPI, mas nenhum deles foi votado até agora. Entre eles, Caroline de Toni pede a convocação da presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), da ex-presidente Dilmar Rousseff e do ex-ministro e delator Antonio Palocci.

Briga do PSL ameaça governo na CPI

O flanco aberto pela CPI também foi arma na guerra interna que implodiu o PSL nos últimos dias. Na semana passada, em retaliação à ala bolsonarista do partido, o então líder da sigla na Câmara, Delegado Waldir (GO), retirou Caroline de Toni e Filipe Barros e nomeou dois deputados da ala rival - Julian Lemos (PSL-PB) e Nereu Crispim (PSL-RS). A troca foi desfeita por Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), novo líder da sigla.

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A CPI é formada por 16 deputados e 16 senadores titulares e o mesmo número de suplentes. Além da dupla de deputados, o PSL conta apenas com a senadora Soraya Thronicke (MS). Eduardo e o irmão Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), também senador, são suplentes na comissão.

“Não tivemos sucesso com os requerimentos porque não apresentamos quase nada ainda. Amanhã (hoje) colocamos 40 requerimentos na pauta. Estamos pedindo convocação do Palocci e de blogueiros como Dilma Bolada. Com esses requerimentos vamos ver se a intenção é investigar mesmo. Não temos medo de nada”, disse Filipe Barros. / COLABOROU CAMILA TURTELLI

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