Renúncia pode ser última cartada de ACM

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Por Agencia Estado
Atualização:

Com o relatório do Conselho de Ética pedindo a cassação de seu mandato, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) começou a preparar um discurso político, para justificar a sua renúncia. Apesar de negar publicamente que irá renunciar ao mandato, políticos e interlocutores próximos de ACM garantem que já começou a prevalecer o pragmatismo do experiente senador baiano, ameaçado de perder os seus direitos políticos por oito anos. A justificativa para começar a preparar o anúncio de sua renúncia começou a ser dada nesta quarta-feira. Em entrevista à imprensa, depois da sessão do Conselho de Ética, ACM fez duras críticas ao parecer do relator Saturnino Braga (PSB-RJ) e à decisão do presidente do Conselho, senador Ramez Tebet (PMDB-MS), de fazer uma votação aberta do parecer. Segundo um político próximo, Antonio Carlos deve alegar que o Senado já se antecipou no julgamento sem dar condição alguma de defesa. Com uma condenação prévia, explicará ACM, não restará alternativa que não seja a renúncia. ?Talvez o meu crime tenha sido o de ter acusado ladrões demais?, disse ACM, afinando o tom de suas declarações. ?Afinal, não sou acusado de nenhum roubo.? Mas nesta quarta, ele demonstrava irritação ao ser questionado sobre a renúncia. Pela manhã, ACM ficou extremamente incomodado ao perceber a ênfase dada por um telejornal ao fato de ele ter admitido a renúncia e tratou de desmentir a notícia. ?Essa palavra foi muito explorada e essa hipótese não existe?, reagiu. Ele também voltou a atacar a mídia. ?A opinião pública foi manipulada pela imprensa.? Por enquanto, o senador baiano deverá resistir até o prazo máximo para a renúncia, antes da abertura do processo de cassação. Ele ainda quer tentar reverter a situação desfavorável no Senado. Na próxima semana, será apresentado um voto em separado, na sessão do Conselho que irá analisar o relatório de Saturnino. Segundo um parlamentar carlista, ACM vive um grande dilema. Afinal, a renúncia poderia ser interpretada como uma admissão de culpa. Mesmo assim, é grande a pressão de políticos baianos para que faça uma opção pragmática, e, com isso, possa disputar o governo da Bahia em 2002. Nesta quarta-feira pela manhã, ACM assistiu à sessão do Conselho de Ética pela TV Senado, em seu gabinete. Acompanhado de poucos políticos e alguns assessores, ele demonstrou em vários momentos indignação e contrariedade com a leitura do relatório de Saturnino Braga. Mas o que mais decepcionou Antonio Carlos foi a decisão de Tebet em manter o voto aberto. Ele apostava no voto secreto para conseguir mudar a posição de alguns senadores. Apesar disso, ACM não deve entrar com uma ação no Supremo Tribunal Federal para tentar reverter a decisão. ?Não existe definição alguma de entrar no STF, apesar de a decisão não ter sido correta?, adiantou o advogado Márcio Thomaz Bastos, que está assessorando o senador. Já ACM considerou que o relatório de Saturnino Braga poderá ajudá-lo. ?Acho que o relatório vai facilitar a minha defesa, já que existem vários erros; é uma colcha de retalhos?, disparou. Segundo um amigo, ACM tem alternado com freqüência momentos de esperança com momentos de grande desânimo. Nesta quarta, por exemplo, ele estava visivelmente abatido. Nos últimos dias, perdeu dois quilos. ?Isso é por causa do aborrecimento que eu estou enfrentando?, explicou. Apesar do cansaço físico, ele tem procurado manter a rotina diária e vem conduzindo pessoalmente sua defesa jurídica e política. Na terça-feira, ficou boa parte da noite com o advogado Márcio Thomaz Bastos e alguns assessores, preparando a sua defesa. Já nesta quarta-feira, almoçou em seu apartamento e voltou logo em seguida ao Senado. ACM tem conversado com vários senadores para tentar reverter a cassação. Ele tentará de todos as maneiras salvar o mandato. A renúncia será sua última cartada.

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