''''Renúncia não faz parte da minha personalidade''''

Renan reitera que é inocente e alega que abandonar cargo seria desrespeito ?ao Brasil e ao Senado?

Por Ana Paula Scinocca , Expedito Filho , Marcelo de Moraes e BRASÍLIA
Atualização:

Na véspera de seu julgamento, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tentou demonstrar tranqüilidade e assegurou, em rápida conversa com jornalistas, que renunciar ao cargo ou licenciar-se dele não está em seus planos. Ao chegar ao Congresso, pouco antes do meio-dia, ele repetiu o comportamento dos últimos dias e descartou a hipótese de deixar o posto. "Qualquer coisa que diga respeito a licença ou renúncia não faz parte da minha personalidade", afirmou ele, ressaltando que vem há mais de cem dias lutando para provar a inocência "com sofrimento e com a exposição da família". Segundo ele, abrir mão do cargo seria "um desrespeito ao Brasil e ao Senado". "Por isso, não tem sentido, absolutamente nenhum sentido que agora se faça isso (renúncia ou licença)." Caso renuncie ou peça licença da presidência, o primeiro vice-presidente, Tião Viana (PT-AC), terá cinco sessões para convocar nova eleição. Depois de chegar ao Senado, Renan trancou-se em seu gabinete e só saiu de lá para presidir a sessão em homenagem ao Círio de Nazaré, no início da tarde. O evento serviu para mais uma ofensiva em busca de apoio contra a cassação no julgamento de hoje. ACM No DEM, Renan tem como certo o voto do senador ACM Júnior, filho de Antonio Carlos Magalhães, morto em julho. No leito de morte, ACM teria ordenado ao filho que votasse contra a cassação do peemedebista. O resultado é que o senador baiano não sabe se atende ao pai ou se vota pela condenação de Renan. "Do ponto de vista moral, ele votaria pela cassação, mas o desejo do pai pode ser decisivo", resumiu um amigo de ACM Júnior. Meticuloso, ao tabular voto a voto para tentar construir maioria, o senador confessou-se animado na véspera da reunião que decidirá ou não por sua cassação. Outro senador do DEM em sua lista de apoio é Heráclito Fortes (PI). Ele seria um voto camuflado pró-Renan, mas a oposição duvida. "Eu já demonstrei minha posição no Conselho de Ética", relembrou o próprio senador. Ali, com a ressalva de que atendia a uma orientação partidária, o senador piauiense votou realmente pela cassação de Renan. A seu lado, emprestando experiência e força de ex-presidente, o senador José Sarney (PMDB-AP) tem trabalhado para uma saída vitoriosa para o peemedebista, desde que ela seja politicamente viável. "Ele tem sido um grande aliado e tem estado todos os dias com Renan", confirmou um amigo do senador. Nas contas de Sarney, o presidente do Senado será absolvido, mas o problema é saber se terá condições políticas para continuar no cargo sem aprofundar a crise. LUA-DE-MEL De Maiorca, na Espanha, o ex-senador Gilberto Miranda (PMDB-AM), amigo de Sarney, interrompeu sua lua-de-mel para fazer uma sondagem fora do roteiro. Ele ligou para alguns senadores e perguntou se eles absolveriam Renan, caso ele se comprometesse a renunciar logo em seguida. A enquete informal do ex-senador não teve seu resultado revelado, mas demonstra claramente que, apesar de todas as negativas, a saída pela renúncia ainda não foi totalmente descartada. "Eu falei com o Renan sobre a renúncia e ele continua resistente. Mas, no último segundo, quem sabe ele não renuncia", ponderou o senador Gilvan Borges (PMDB-AP).

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.