Renan explora alianças para sobreviver no jogo político

Adversários, especialmente os que Renan cultivou nas lutas do PMDB, dizem que o presidente do Senado é exemplo da sobrevivência política a qualquer preço

Por Agencia Estado
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A habilidade para controlar o jogo em espaços pequenos e a capacidade de se movimentar rapidamente de um extremo ao outro do campo são duas credenciais do presidente reeleito do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). No futebol e na política. Lateral-direito do Guarani FC de Maceió, nos anos 1970, ele subia velozmente da defesa ao ataque. Imodesto no esporte, Renan considera-se precursor de Marinho, lateral do Botafogo e da seleção de 1974. Desde 1978, quando se elegeu pela primeira vez deputado estadual em Alagoas, Renan jogou na ala esquerda do velho MDB, ciscou a bola na estréia do PSDB, em 1988, e cedeu o passe ao PRN de Fernando Collor em 1989. Sem contrato em 1991, voltou ao PMDB pelas mãos de Orestes Quércia e jogou no time reserva de Itamar Franco. Tabelou com Jader Barbalho e José Sarney, foi contratado por Fernando Henrique, defendeu José Serra em 2002 e chegou a ser vetado por Lula em 2003, antes de virar o centro-avante do Planalto no Congresso, na crise de 2005. "Quem conheceu a vitória e a derrota sabe o valor das alianças na política", diz o irmão Olavo Calheiros, deputado em quinto mandato (PMDB-AL) e um dos articuladores pela reeleição de Aldo Rebelo à presidência da Câmara. Os adversários, especialmente os que Renan cultivou nas lutas internas do PMDB, preferem dizer que o presidente do Senado é um rematado exemplo da sobrevivência política a qualquer preço. Lula, Collor, Lula de Novo Renan nunca foi comunista, nem mesmo no movimento estudantil, mas sua primeira aliança eleitoral em 1978 foi com o PCdoB de Aldo Rebelo e do caçula da família, o deputado Renildo Calheiros, que se elege por Pernambuco. Candidato à Assembléia, Renan entrou na lista do "MDB Popular", que abrigava parte da esquerda clandestina e militantes católicos contra a ditadura, diferenciando-se do MDB "moderado" de Tancredo Neves e Tales Ramalho. Na inauguração do novo aeroporto de Maceió, em setembro de 2005, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recordou aquela campanha, quando fez seus primeiros comícios pelo País, ainda como líder sindicalista do ABC. "A primeira vez que andei por Alagoas foi para apoiar o Renan e os companheiros do velho MDB popular", disse Lula diante de dois mil alagoanos. Era a recordação mais conveniente que Lula poderia sacar naquele momento. A crise do mensalão estava no auge e Renan tinha acabado de firmar um "acordo de governabilidade" com o Planalto ao preço de três ministérios para o PMDB. Quando chegou a Brasília como deputado constituinte (1987), Lula suou a camisa no campinho de futebol da casa de Renan no Lago Paranoá, junto com Aécio Neves, Sigmaringa Seixas, Nelson Jobim e outras jovens promessas. Naquela altura do campeonato, Renan já havia feito outra aliança para levar o deputado Fernando Collor da Arena ao PMDB e, em 1986, ao governo de Alagoas. Em 1989, ele seria o chefe político da campanha de Collor contra Lula na primeira e disputadíssima eleição presidencial pós-ditadura. Veto de Dirceu, aval da oposição Em 1990, Renan rompeu com Collor, a quem atribuiu sua derrota na disputa pelo governo de Alagoas. Caiu em desgraça, mas manteve a amizade com o vice Itamar Franco, que chegaria ao topo em 1992 com o "impeachment". Itamar abrigou Renan numa vice-presidência da estatal Petroquisa, até ele se eleger senador em 1994. Em 2006, Itamar apoiou Geraldo Alckmin para o Planalto e rompeu com o antigo aliado. Fernando Collor elegeu-se senador, almoçou com Renan há duas semanas e prometeu-lhe o voto nesta quinta-feira. "Não tente adivinhar o futuro" é uma das frases prontas que o presidente do Senado usa com frequência, seguramente autorizado por seu próprio passado. A partir de 1995, Renan ajudou o líder do PMDB no Senado, Jader Barbalho, a conquistar posições no governo Fernando Henrique, numa disputa constante com o PFL. Eleito por um dos menores Estados e acostumado a jogar nos pequenos espaços, Renan conseguiu apoio da bancada para ser ministro da Justiça, de pouca importância política em 1998. Valendo-se de nichos pouco explorados como defesa do consumidor, legislação de trânsito e controle de armas, Renan pôs a Justiça em evidência até perder o cargo, em 1991, numa troca de acusações com o governador Mario Covas. De volta ao Senado, entrou na fila como segundo de Jader na liderança do partido e, depois, de José Sarney, na presidência do Senado, sempre por meio de acordos para manter o apoio da maioria da bancada. Para se eleger presidente do Senado em 2005, jogou com o PFL e o PSDB, e superou um veto do então poderoso chefe da Casa Civil, José Dirceu. Seis meses depois, era o Planalto quem precisava, e muito, de Renan Calheiros. Atropelando a direção do PMDB, próxima ao PSDB, o grupo de Renan deu uma base mínima a Lula no Senado, garantiu a eleição de Aldo Rebelo na Câmara e implodiu a candidatura de Anthony Garotinho ao Palácio do Planalto.

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