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Renan Calheiros e Tasso Jereissati batem boca no Senado

Briga começou com peemedebista apontando dedo para tucano, que pedia retirada de manifestante na tribuna

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Por Carol Pires , Denise Madueño e da Agência Estado
Atualização:

Renan aponta para Tasso, provocando reação do Senador cearense. Foto: CELSO JUNIOR/AE

 

Os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Tasso Jereissatti (PSDB-CE) travaram um agressivo e tumultuado bate-boca no plenário da Casa no fim da tarde desta quinta-feira, 6, depois que Renan, líder do PMDB no Senado, pediu a cassação do líder tucano, Arthur Virgílio (AM), por quebra do decoro parlamentar.

 

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A briga fez com que o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), interrompesse por alguns instantes a sessão, e a TV Senado suspendeu momentaneamente a transmissão da reunião.

 

O tumulto começou assim que Renan terminou o pronunciamento e retornou à sua cadeira. Nesse momento, um estranho invadiu a tribuna e passou a fazer declarações de apoio a Renan. O senador Tasso pediu a Sarney que o manifestante fosse retirado. Renan, por sua vez, passou a defender a permanência do mesmo e, enquanto falava, apontava um dedo para o senador cearense. Começou o bate-boca:

 

Tasso Jereissati: "Eu pediria, senhor presidente, duas coisas. Primeiro, que fosse dado ao senador Artur Virgilio o mesmo tempo que foi dado ao senador Renan em função das graves colocações, graves e agressivas colocações que foram ditas. Outra coisa senhor presidente, existem manifestações aqui nessa Tribuna de Honra, eu pediria que retirassem esse senhor aqui que está fazendo constantes manifestações, porque não está de acordo com o regimento."

 

Renan Calheiros: "A respeito da manifestação do senador Tasso Jereissati. Essas crises acontecem por isso, porque é a minoria com complexo de maioria. Quer expulsar agora um cidadão que está aqui participando de uma sessão que infelizmente é uma sessão história do Senado Federal"

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Tasso: Que me desculpe senador Renan. Senador Renan, não aponte esse dedo sujo pra cima de mim! Não aponte esse dedo sujo pra cima de mim! Estou cansado de suas ameaças"

 

Renan:"Esse dedo sujo infelizmente é o de Vossa Excelência. São os dedos dos jatinhos que o Senado pagou"

 

Tasso revida: "Não aponte esse dedo sujo para cima de mim". Foto: CELSO JUNIOR/AE  

 

Tasso: "Pelo menos era com meu dinheiro. O jato é meu, não é dos seus empreiteiros."

 

Renan: "O dinheiro é seu?"

 

Tasso: "É meu, é meu, é meu, é meu! Eu tenho pra falar, tá?

 

(Fora do microfone) Renan: Coronel...

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Tasso: Eu, coronel? Cangaceiro, cangaceiro de terceira categoria...".

 

Renan: "O senhor é coronel!" - Baixa o microfone e diz: "Seu merda" (relato dos senadores próximos a Renan)

 

Tasso: "Repete o que você disse. Decoro parlamentar, repete o que você disse"

 

Renan: "Não é coronel?"

 

Tasso: "Repita o que você disse aí"

 

Renan: "Me respeite"

 

Tasso: "Repita o que você disse aí"

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Renan: "Você é minoria com complexo de maioria"

 

Tasso: "Repita o que você disse aí"

 

Renan: "Você é minoria com complexo de maioria. Me respeite"

 

Tasso: "Presidente, o senador Renan Calheiros acabou de quebrar o decoro parlamentar me dirigindo com palavras de baixo calão. Eu peço que seja feita uma representação sobre isso"

 

Renan: "Presidência, eu peço desculpas e peço para Vossa Excelência retirar da sessão de hoje que "minoria com complexo de maioria é falta de decoro parlamentar"

 

Pedido de cassação

 

Antes do tumulto, Renan havia lido, em plenário, a representação que seu partido apresentou contra Virgílio ao conselho de ética.

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O PMDB acusa Virgílio, entre outras coisas pelo pagamento indevido a servidor do Senado, utilização indevida do serviço médico da Casa, recebimento de dinheiro emprestado por autoridade pública; ocultação da Receita de doação do imóvel em que mora; recebimento de dinheiro do Senado para "tratamento de saúde para pessoa da família que não é dependente"; e nomeação de um 'personal trainer' de Manaus pago pelo Senado.

 

O líder do PMDB também admitiu que a apresentação de ação contra Virgílio é uma resposta às ações que o PSDB registrou contra Sarney.

 

Renan afirmou que estava "constrangido" ao fazer a leitura da representação, mas disse que estava "cumprindo um dever" como líder. O peemedebista referiu-se ao discurso que Virgílio fez no dia 29, reconhecendo o erro de ter mantido em seu gabinete, por 13 meses, um servidor que estava fazendo um curso na Espanha sem deixar de receber os salários e as gratificações pagas pelo Senado.

 

Renan leu também trecho em que afirma que Virgílio "utilizou e superou em muito os limites do plano de saúde parlamentar para atender pessoa de sua família", em uma referência a tratamento de saúde a que foi submetida a mãe do líder do PSDB, recentemente falecida. De acordo com Virgílio, o tratamento teria sido financiado pelo plano de saúde do pai dele, ex-senador Arthur Virgílio.

O texto lido por Renan acusa Virgílio de ter elevado "às culminâncias do absurdo o tráfico de influência e o patrimonialismo".

 

Renan atribuiu ainda a Virgílio a nomeação de quatro parentes no serviço público e o acusa de "escabrosa utilização de dinheiro público" em benefício próprio. Durante todo o pronunciamento de Renan, Virgílio fazia anotações.

 

A defesa de Virgílio

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Após o bate boca, o senador tucano voltou à tribuna para contra-atacar Calheiros. Virgílio leu diversas reportagens nas quais são apontadas supostas irregularidades cometidas por Renan.

 

O líder tucano também sugeriu que Renan pode ter se "desvirtuado", pois, segundo o senador tucano, os dois nunca receberam rendimentos diferentes, durante a carreira política. "Vossa Excelência não pode ser mais rico que eu. A não ser que o senhor tenha se desvirtuado. O senhor nunca ganhou mais do que eu", disse.

 

Virgílio ironizou ainda declaração feita há alguns dias pelo senador alagoano, que disse que Virgílio era cada vez menos um caso de política e cada vez mais um caso de psiquiatria. "O senhor me diagnostica como precisando de psiquiatra. Vossa Excelência está na vida pública, mas revela uma vocação para medicina invejável", ironizou.

 

Por fim, Virgílio admitiu ter cometido irregularidade no caso do funcionário, mas garantiu estar "estornando" o dinheiro ao Senado, usando o mesmo termo utilizado por Sarney para explicar a devolução do auxílio-moradia aos cofres públicos.

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