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Relatório admite hipótese de assassinato de Jango

Por Agencia Estado
Atualização:

O relator da comissão externa da Câmara que investigou as circunstâncias da morte do ex-presidente João Goulart, o Jango, Miro Teixeira (PDT-RJ), concluiu que não se pode rejeitar a hipótese de assassinato. "Tenho minha opinião sobre a morte de Jango, mas, no relatório, vou dizer que, diante dos fatos apurados, não se pode descartar a hipótese de assassinato." O deputado chamou a atenção para o depoimento do ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes (presidente nacional do PSB), exilado na Argélia nos anos 70, que contou ter recebido informações do serviço secreto soviético sobre as movimentações dos norte-americanos no Brasil, Chile e Argentina, a Operação Condor (que, nos anos 70 e 80, caçou esquerdistas no Cone Sul) e do plano para matar Jango e outros políticos de oposição. Miro Teixeira apresentará o parecer na quinta-feira (13) depois de 19 meses de investigação, quando foram ouvidos políticos, funcionários dos governos do Chile, Argentina e Uruguai e até o ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1980, Adolfo Perez Esquivel. O documento prova a existência da Operação Condor e a participação nela da ditadura militar brasileira. "Ao solicitar a instalação da comissão, já pressentíamos que chegaríamos à Operação Condor, mas há pelo menos dois documentos conclusivos: o depoimento de Perez Esquivel (defensor argentino de direitos humanos), que contou ter visto informes dos serviços secretos dos três países, durante seus interrogatórios na Argentina, e um telegrama de um agente da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA), detalhando como os serviços secretos e os militares dos três países estavam organizando-se", disse Miro Teixeira. O relatório, com mais de 600 páginas, tem um depoimento do filho de Jango João Vicente Goulart, que contou ter recebido um telegrama do pai em 1976, dizendo que voltaria, de qualquer maneira, ao Brasil no Natal daquele ano e que havia recebido um pedido para a sair da Argentina, após a queda do peronismo. "Cito ainda o livro ´Los AÏos del Lobo: Operación Condor´, da historiadora argentina Stella Caloni, que lembra que os dados do Departamento de Estado sobre o período do governo do general Ernesto Geisel (1974-1978) foram disponibilizados para o público e, depois, retirados", adiantou o deputado. Na opinião dele, com a derrota americana no Vietnã, os Estados Unidos, que, até então, apoiavam os regimes militares na América Latina, viram-se obrigados a retirar o apoio. "A Operação Condor foi uma tentativa da CIA de reverter essa tendência, à revelia do presidente Jimmy Carter, que não tinha mais condições, internamente, de apoiar governos militares."

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