Relator de processo contra Cunha diz que gostaria que acusações 'não fossem verdade'

Sem antecipar teor do relatório que entrega nesta 3ª, Marcos Rogério elogiou trabalho do peemedebista como presidente da Câmara, mas afirmou que ele tem 'passado comprometedor'

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Por Redação
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SÃO PAULO - O relator do processo contra Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no Conselho de Ética, deputado Marcos Rogério (DEM-RO), afirmou nesta terça-feira, 31, que gostaria que as acusações contra o presidente afastado da Câmara não "fossem verdade". Sem querer adiantar o conteúdo do parecer que apresenta nesta manhã -  possivelmente a favor da cassação do peemedebista -, Rogério, em entrevista à Rádio Estadão, chegou a elogiar Cunha como presidente da Casa, mas afirmou que o acusado tem "um passado comprometedor".

Rogério, que não quis antecipar sua posição para não "eternizar" o processo, voltou a afirmar que segue a decisão do presidente interino da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA),que limitou seu escopo à acusação de que Cunha teria mentido à CPI da Petrobrás no ano passado sobre a existência de contas no exterior. Com isso, ficam de foras questões como o suposto pagamento de propina ao peemedebista no âmbito da Lava Jato. "Para evitar que o processo se arraste, acabei adaptando. Mas estou levando em consideração um conjunto de provas. Farei menção ponto a ponto sobre o que ouvimos no processo [...] Meu voto não terá pegadinha", disse.

O relator do parecer que pede a cassação de Cunha, deputadoMarcos Rogério (DEM-RO) Foto: Câmara dos Deputados

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O relator também assumiu que sofreu muita pressão de aliados e oposicionistas a Cunha nos últimos diass "Estamos numa casa política, você é abordado o tempo todo. Isso é normal. O que não considero natural são manobras para trancar o processo", falouRogério, mais uma vez sinalizando uma posição contra Cunha. 

Dois lados. Rogério também afirmou que Eduardo Cunha tem "duas faces". "De um lado, é um personagem político de sucesso, que cresceu, é forte e respeitado pelos liderados e por outros. Colocou ordem na Casa, organizou muita coisa e fez a casa produzir muito", destacou Rogério, fazendo comentário favorável ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff conduzido por Cunha.

"Por outro lado é um político com passado comprometedor. Ele não vai ser julgado por papel como presidente na Casa. Ele teria ampla margem de aprovação. Mas sobre o que cometeu como cidadão, que usava poder políticos para atos incompatíveis com o decoro parlamentar. Gostaria que não fossem verdade, uma ilação. Esse tipo de conduta depõe contra o parlamento", disse Rogério.

O democrata confirmou que entrega o relatório às 11h ao presidente do Conselho, deputado José Carlos Araújo (PR-BA) . Em seguida, será marcada a leitura do parecer e, depois, a votação no colegiado.

Cunha confiante. Em entrevista à Rádio CBN nesta terça, Cunha voltou a se defender das acusações de quebra de decoro parlamentar. Ele reiterou que não é titular de conta que não esteja declarada no Imposto de Renda e que não mentiu à CPI da Petrobrás. "O dinheiro, não o patrimônio, antes de ser transferido, me pertenceu. No momento em que foi doado ao truste, o truste passou a ser o proprietário do patrimônio. E mesmo se eu tivesse, a pergunta é se eu tinha conta. E conta eu não detinha", disse. 

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Indagado se está preparado para o processo que poderá resultar na cassação de seu mandato, Cunha disse que pretende ser absolvido e que está confiante por não ter culpa nos fatos elencados.

Ele ainda repetiu que não tem conta que não esteja declarada no Imposto de Renda e que não mentiu. "O processo que quer me condenar é político, sem se ater às provas." Cunha também rebateu as críticas de que teria levado o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara por vingança, dizendo que tudo ocorreu de forma legal. E disse esperar que seu processo tenha os trâmites legais respeitados.

Cunha falou que o Conselho de Ética obviamente é soberano, mas em última instância o processo vai para o plenário. "Se o devido processo legal for respeitado, vai rapidamente para o plenário e se não for, terá nulidade a ser arguida na CCJ", afirmou Cunha, em referência à Comissão de Constituição e Justiça. E ironizou que o seu processo interessa muito mais àqueles parlamentares sem expressão na Casa.

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