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Relator da ONU diz que falta acesso à terra no Brasil

Por Agencia Estado
Atualização:

A fome no Brasil não é causada pela falta de alimentos para a população, mas gerada, principalmente, pela falta de acesso à terra para os trabalhadores rurais. A avaliação é do relator da ONU para o direito à alimentação, Jean Ziegler. "A falta de acesso à terra é um dos principais fatores para a fome no Brasil", afirma o relator da ONU. Em seu relatório sobre a situação da fome no mundo, que será apresentado à ONU em novembro, Ziegler afirma que a reforma agrária é um dos principais instrumentos para garantir a segurança alimentar de uma população. Ele também diz que no Brasil a concentração da posse da terra é uma das maiores no mundo. Ziegler lembra que, apesar dessa situação ter sido gerada ainda durante o colonialismo, a existência dos latifúndios improdutivos é uma realidade que ainda não foi solucionada no País. Para o relator, promover a reforma agrária não custaria muito. Segundo ele, os gastos que governo tem, ao prestar serviços às favelas, são maiores que os custos de legalizar ocupações de terra e promover expropriações. "Os custos seriam menores que os da rápida urbanização e desemprego nas cidades brasileiras", afirma. Apesar de reconhecer os avanços na reforma agrária durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, Ziegler ressalta que ainda há muito o que fazer no Brasil para solucionar o problema, e lembra que em países como o Japão e a Coréia, a reforma agrária gerou uma queda nos índices de fome. O relator diz que, embora a Constituição brasileira fale sobre a função social da terra, isso acaba não sendo observado pelos juízes na maioria dos julgamentos sobre a ocupação de terras. Por esse motivo, Ziegler classifica o sistema judicial do País de "conservador". O relator da ONU afirma esperar que o novo governo do Brasil promova uma reforma agrária que solucione esses problemas. "Com o novo governo, vamos tentar lutar para acelerar a reforma agrária e lutar contra a fome", afirma Ziegler, que não deixa de mencionar para jornalistas de todo o mundo que Lula será o vencedor das eleições presidenciais. Ziegler ainda mostrou, em seu relatório à ONU, uma simpatia em relação ao trabalho do MST, e condena a força utilizada para reprimir os protestos do grupo. Segundo ele, "os trabalhadores rurais não lutam apenas por sua subsistência, mas pelos meios para conseguir ter uma vida digna". Para Ziegler, a fome no mundo não é uma fatalidade. "Existe alimento suficiente na Terra para alimentar 12 blhões de pessoas, o dobro do que existe atualmente", afirma. No Brasil dados do governo falam 22 milhões de desnutridos. Ziegler, em seu relatório, aponta que um terço da população não se alimenta de forma suficiente. "Por trás de cada vítima da fome está um assassino", diz o relator.

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