Reitor da UFRJ deixa cargo como campeão de impopularidade

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Por Agencia Estado
Atualização:

O atual reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), José Henrique Vilhena, vai entrar para a história da maior instituição de ensino federal do País como o mais impopular desde a ditadura militar. Ele enfrentou a ira dos alunos que o agrediram e a oposição constante dos professores que conseguiram fazer com que o reitor imposto por Fernando Henrique Cardoso chegasse ao fim de quatro anos de gestão (a escolha do novo reitor começa nos dias 12 e 13, mas o cargo é transferido em julho) sem implantar nenhum de seus projetos da modernização encomendada por FHC. Mesmo tendo recebido apenas 11% dos votos e ter sido o último da lista tríplice de candidatos, Vilhena foi o escolhido pelo ministro Paulo Renato Souza (Educação) em 1998. O presidente tem o poder de nomear qualquer um dos indicados na lista tríplice, mas, desde 1985, quando foi criada a consulta à comunidade acadêmica, todos os reitores indicados eram também preferidos da maioria. Ao desrespeitar essa regra não-escrita, o ministro abriu uma guerra na UFRJ. Vilhena foi combatido, rejeitado, até seus amigos pediram que ele renunciasse, mas ele não cedeu e conseguiu chegar ao fim dos quatro anos na reitoria. Agora, às vésperas da nova consulta para escolha de seu sucessor (nos próximos dias 12 e 13), o balanço da administração mostra que ele não conseguiu levar adiante nenhum de seus principais projetos. Quando assumiu, Vilhena traçou um Plano Estratégico, relacionando cinco principais objetivos para sua administração - equilíbrio financeiro, periodização (aumento do número de dias no calendário escolar), investimento, gestão planejada (criação de novas estruturas administrativas e redução do número de conselhos) e educação continuada. Desses, seus únicos êxitos - segundo o próprio reitor - foi conseguir reduzir a dívida da UFRJ (de R$ 27 milhões para R$ 9 milhões) e aumentar os investimentos em infra-estrutura. Todas as mudanças estruturais foram barradas pelo Conselho Universitário. Vilhena conta o que ocorreu: "Eles nem queriam saber se a idéia era boa ou não, eram contra por princípio". Greve e violência - Mesmo isolado e tendo sido obrigado a instalar um sistema de vídeo e colocar um guarda armado na porta de seu gabinete para garantir a sua segurança, teimou em ficar no cargo. No fim do ano passado, quando quase já tinha sido esquecido, Vilhena voltou às páginas dos jornais. Apesar de uma longa greve de professores ter prejudicado secundaristas de escolas federais, Vilhena manteve o vestibular na data prevista contrariando a opinião de todos. O episódio chegou a comprometer a então pré-candidatura do ministro Paulo Renato à Presidência, que, depois de um confronto dos estudantes com a polícia, obrigou o reitor a mudar a data do vestibular. Mais uma vez, Vilhena foi desprestigiado e isolado. "Sou teimoso porque no Brasil a gente tem de teimar", declara Vilhena. "Acho que fiz a coisa certa. Eu me guio pelo que acredito e não pelas pressões." O reitor não admite derrota nem frustração e, às vésperas do fim de sua gestão, faz um peregrinação por Brasília em busca de verbas para tentar alguma marca de sua administração. "Consegui R$ 12 milhões para recuperar a infra-estrutura dos prédios e agora estou tentando conseguir mais R$ 10 milhões para reformar salas de aula, pintar os prédios e melhorar a segurança do campus do Fundão", conta. "Quero embelezar o campus." Ele tenta fazer uma maquiagem nas fachadas, já que as mudanças no funcionamento da UFRJ foram para a gaveta e não há perspectivas de que sejam desengavetadas. Nas palavras do próprio reitor, nenhum dos três candidatos (os professores Carlos Lessa, Eloy Eharaldt e Person Cândido Matias da Silva) ao seu lugar tem seu apoio ou possui projetos semelhantes aos seus. Ao contrário, os três se consideram de oposição. Críticas - "Tenho até pena do Vilhena, eu mesmo fui até a casa dele pedir que renunciasse. Mas ele não aprendeu que é impossível administrar uma universidade com truculência", afirma o professor e decano do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas, Carlos Lessa, que é o favorito dos três candidatos. Lessa admite que concorda com vários projetos de Vilhena. "O problema não são as propostas, mas a forma autoritária que ele queria implantá-las. Em quatro anos, ele quase não convocou o conselho para discutir suas idéias, preferiu se fechar. E o resultado é que suas propostas não caminharam." Agora, com apenas mais quatro meses na reitoria, Vilhena vive um corre-corre para tentar finalizar pelo menos algumas reformas nos prédios da Ilha do Fundão e para preparar seus projetos futuros. Aos 57 anos, ele pretende voltar a dar aulas de filosofia e tem outros dois projetos além das atividades acadêmicas. Quer fundar uma ONG para criar projetos de qualificação para o trabalho de jovens que terminam o 2º Grau e escrever um livro contando sua experiência como reitor. "Quero contar como foi a minha luta contra o corporativismo e a favor da sociedade brasileira", explica Vilhena. "Ele não travou guerra nenhuma contra o corporativismo o que ele fez foi ter sido um símbolo de autoritarismo. E vai ficar na história por isso", afirma Carlos Lessa.

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