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Regina aceita ser acareada com ACM e Arruda

Por Agencia Estado
Atualização:

A ex-diretora do Prodasen, Regina Célia Peres Borges, afirmou nesta quinta-feira ter sido pressionada pelo líder do governo no Senado, José Roberto Arruda (PSDB-DF), a manter segredo sobre a violação do sigilo da votação que cassou o mandato do senador Luís Estevão (PMDB-DF). ?O Arruda me disse que não sabia (quem estava vazando a lista de votação), mas mandou manter sigilo até sob tortura?, declarou. Em depoimento aberto ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado, ela demonstrou tranqüilidade quando autorizou a quebra do seu sigilo telefônico e aceitou participar de uma acareação com o próprio ACM, Arruda e seu assessor, Domingos Lamoglia Dias, a quem entregou a lista com os votos. Visivelmente abalada, Regina Borges relatou o episódio sem reservas e convenceu os senadores da veracidade da sua versão dos fatos. O depoimento provocou a queda na bolsa e uma escalada na cotação do dólar. Às 16 horas desta quinta-feira, quando ela falava há mais de uma hora, o mercado financeiro entrou em turbulência. Preocupado com as declarações da ex-diretora do Prodasen, Lamoglia decidiu adiar seu depoimento ao Conselho de Ética, que seria tomado ainda nesta quinta. ACM e Arruda não assistiram ao testemunho em plenário. Aguardado com expectativa, o depoimento de Regina Borges foi usado pelos senadores para confirmar detalhes do caso. Ela sustentou os termos de sua confissão, confirmando a troca de telefonemas e encontros pessoais com os dois políticos. Em uma dessas conversas, frisou, ACM teria lhe agradecido o trabalho. ?Ele é meio ríspido, fala rápido e não dá conversa para a gente?, ilustrou. Ela frisou que o fato de Arruda, então líder do governo, ter falado em nome de ACM pesou na sua decisão de conseguir a lista. ?É meio chato colocar em dúvida a palavra de um senador, era uma ordem do presidente do Senado?, justificou. Admitindo o erro, deixou claro que, fosse outro o senador pedindo a mesma coisa em nome próprio, não teria feito. ?Mas se outra pessoa tivesse falado em nome do senador Antonio Carlos eu teria feito a mesma coisa?, reagiu. Regina Borges também disse não ter perguntado para que seria usado o documento. Nervosa, a ex-diretora do Prodasen entrou no plenário do Conselho de Ética sozinha e usando um tailleur azul marinho. Seu relato foi longo e emocionado, porém firme. A sessão foi acompanhada por dezenas de servidores do Prodasen, que ajudaram a lotar o plenário. Também seu marido, Ivar Alves Ferreira, outro dos envolvidos no episódio, e seus filhos assistiram à sessão. Regina Borges fez um mea-culpa e disse ter consciência de que participou de uma operação ilegal. ?Eu não tenho orgulho de não ter dito não?, frisou, com humildade. Mais controlada, respondeu com calma e segurança a todas as perguntas dos senadores. Ela se esforçou para eximir de qualquer responsabilidade os três colegas que ajudaram-na a conseguir a lista com os votos. Chorando, pediu perdão aos colegas de trabalho e tentou defender a imagem do órgão onde trabalhou por mais de duas décadas. ?Vivo hoje o dia mais doloroso da minha vida?, afirmou.?Me perdoem meus colegas, fui eu, me perdoem?, disse, entre lágrimas. Leia os principais trechos do depoimento: Arruda ? O primeiro contato entre a ex-diretora do Prodasen e o senador José Roberto Arruda durou cerca de 20 minutos, às vésperas da sessão em que o mandato de Luís Estevão seria cassado. Ela contou que era noite e já estava em sua casa, quando recebeu um telefonema do senador tucano dizendo que precisava falar-lhe pessoalmente, pedindo que fosse à sua casa. ?Nunca tomei a precaução de levar nada para conversar com o senador, um gravador, nada?, disse aos senadores. ?Fui para lá apreensiva?, admitiu. Ao chegar, contou, ouviu música e pensou tratar-se de uma festa. Foi recebida por um dos filhos do senador, que estudava música. Arruda, reafirmou, disse estar falando em nome de ACM, e pediu que conseguisse a lista com os votos da cassação. ?Eu disse que não tinha jeito, mas ele disse que tinha sim, pois já tinha se informado?, lembrou. Madrugada ? Ao deixar a casa de Arruda, já tarde da noite, Regina Borges começou a procurar ajuda. ?Fiquei pensando no que fazer, se pedia demissão ou se falava com alguém?, comentou. Primeiro, Regina conversou com seu marido, Ivar Alves Ferreira, que sugeriu que procurassem Heitor Ledur, outro funcionário do Prodasen. Juntos, os dois dirigiram-se à casa do colega e ficaram esperando que ele chegasse. Era mais de 23 horas quando se encontraram. Informado da missão, Ledur sugeriu que procurassem um dos técnicos da empresa que havia formatado o sistema de votações do Senado, Sebastião Gazola, que saberia como fazer. ?Não sabíamos como fazer, pois sempre nos preocupamos em manter a segurança para o público externo, nunca imaginamos uma ação do público interno?, justificou. Gazola foi localizado ainda na madrugada e seguiu com o grupo para o Senado. Antes das primeiras horas da manhã, o grupo já tinha preparado o esquema para conseguir a lista com os votos dos senadores. Militar ? Regina contou aos senadores como conseguiu o apoio de outras três pessoas para cumprir a missão que lhe fora determinada por Arruda. Ela lembrou o fato de ter passado por graves problemas de saúde tempos antes e garantiu que o marido agiu por pura solidariedade. ?Não vou deixar você sozinha nessa?, disse-lhe Ivar. ?Se você tem que fazer, eu faço com você e assumo.? Segundo a ex-diretora do Prodasen, Heitor Ledur não deixaria de cumprir uma ordem superior. ?Ele tem origem militar, é daqueles que cumprem ordens sem questionar?, ilustrou. Sebastião Gazola, contou, é o único dos envolvidos que jamais soube o que estava fazendo naquela madrugada. ?Inventamos uma versão para ele e dissemos que aquilo era para garantir a segurança da votação?, contou. Disquete ? Na manhã do dia da votação, Regina disse ter telefonado ao senador tucano para relatar-lhe os fatos da madrugada e tranqüilizá-lo sobre a entrega da lista. Ele disse que o documento seria entregue a ACM o mais rápido possível. Horas antes da sessão, Heitor Ledur foi à sala onde está instalado o sistema de votações do Senado e instalou o disquete onde seriam armazenadas todas as informações pedidas por Arruda. Seguiu rigorosamente a recomendação de Gazola e deixou o local antes do início da sessão. Ao longo daquele dia, contou Regina, Arruda telefonou para cobrar a entrega da lista. ?Estamos esperando esvaziar o plenário?, disse a ex-diretora do Prodasen. O disquete só foi resgatado e a lista impressa em papel após o completo esvaziamento do Senado, muitas horas depois. ?Quando acabou a votação, pegamos o disquete e rodamos em um micro para reproduzir a lista?, lembrou. O documento, impresso em papel sem timbre, foi colocado em um envelope pardo. Entrega ? Regina foi instruída a entregar a lista a Domigos Lamoglia, assessor de Arruda. ?Fiquei preocupada, pois pensei que seria entregue diretamente a ACM?, contou. Mesmo assim, combinou um encontro com o assessor em frente à biblioteca do Senado. A ex-diretora do Prodasen disse ter ficado preocupada em ser descoberta e que sentiu desconforto com a situação. Foi tranqüilizada por Lamoglia: ?Pode ficar sossegada, pois isso vai para onde o senador falou?. Na noite daquele dia, reafirmou, recebeu um telefonema do senador baiano, que agradeceu o documento. ?Ele é meio ríspido, fala rápido, não dá conversa para a gente?, lembrou Regina ontem. Segundo ela, este assunto não foi mais abordado entre os três. Vazamento ? A divulgação de notas pela imprensa informando que a senadora Heloísa Helena (PT-SE) teria votado contra a cassação de Luís Estevão acendeu um sinal amarelo para Regina Borges. ?Ali começou o nosso calvário?, contou. Segundo ela, a senadora enviou-lhe dois ofícios pedindo esclarecimentos sobre a segurança do sistema de votações do Senado e perguntando se teria havido alguma pane no dia da cassação. ?Respondi superficialmente, não precisei mentir demais, sofismei um pouco?, admitiu a ex-diretora. Em sua resposta, ela disse à Heloísa Helena que o sistema do Senado era seguro e inviolável. Sua preocupação foi aumentando na medida em que outros votos foram declinados pela imprensa. ?Vi que aquilo ia nos dar problemas?, disse. Regina Borges declarou ter procurado por ACM e por Arruda pedindo explicações sobre o vazamento. Segundo ela, a divulgação de conversas entre ACM e procuradores pela revista IstoÉ deixou claro que a situação poderia se agravar. Pressão ? A ex-diretora do Prodasen disse aos senadores ter sido pressionada por Arruda para manter silêncio sobre a violação do painel eletrônico do Senado em diversas ocaciões. Primeiro, após a divulgação do voto de Heloísa Helena. ?Eu procurei o senador Antonio Carlos, e ele me disse que era coisa do Arruda?, afirmou, frisando que conversou com os dois políticos no mesmo dia. ?O Arruda me disse que não sabia que teria vazado, mas que o sigilo tinha de ser mantido até sob tortura.? Uma segunda conversa aconteceu após a divulgação das conversas entre o senador baiano e procuradores da República, pela revista IstoÉ, quando ACM disse que tinha a lista de votação. Nessa ocasião, sustentou Regina Borges, Arruda teria reiterado a ordem para que mantivesse silêncio e pediu-lhe que ?segurasse os meninos?, numa referência aos outros dois funcionários do Prodasen que participaram da violação. Miami ? A ex-diretora do Prodasen continuou mantendo contato com os dois políticos. Atendendo a seu pedido, o senador baiano marcou um encontro na casa de sua assessora Isabel Flecha de Lima. Depois, quando esteve em Miami para descansar, o senador baiano telefonou para demonstrar solidariedade por sua exoneração. Quando assumiu a presidência do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA) mudou a direção do Prodasen. ?Ele também me perguntou porque as empresas de processamento de dados foram trocadas?, contou. ?Eu disse que não tinha nada a ver, o contrato tinha vencido?. Regina Borges esteve outra vez na casa de Arruda. Em uma delas, o senador queria esclarecer informações veiculadas pela imprensa. Regina teve de chamar pelo marido para responder a perguntas feitas pelo senador. Foi o único encontro testemunhado por terceiros. Na outra, encontraram-se diante de uma igreja no Lago Sul, área nobre da capital brasiliense. Seu marido a deixou lá. Regina conversou com Arruda dentro do carro, dando uma volta no quarteirão. Unicamp - A divulgação do laudo pela Unicamp, comprovando que o painel de votações havia sido violado deixou a ex-diretora do Prodasen transtornada. Ela contou ter telefonado ao ex-presidente do Senado, a quem relatou suas preocupações com o impacto que aquela revelação teria sobre o caso e sobre seus colegas. Confissão ? Regina Borges contou que a divulgação do laudo da Unicamp e a confissão de seu colega, Heitor Ledur, foram os fatores decisivos para a sua decisão de confessar a violação do sigilo da votação. ?Meu primeiro depoimento foi chorando?, disse nesta quinta-feira. ?Eu menti para manter o que estava combinado?, justificou. Regina Borges disse não ter recebido apoio nem de Arruda nem de ACM. Segundo seu relato, há poucas semanas telefonou para Arruda a fim de avisá-lo que contaria tudo à Corregedoria-Geral do Senado e pedir-lhe que dissesse o mesmo a ACM. Naquela ocasião, contou, o senador tucano não atendeu à sua ligação, e ela falou com seu assessor Domingos Lamoglia Dias. ?Diga ao senador que eu vou contar tudo e peça a ele para dizer ao ACM?, avisou. ?O senador vai negar, como é que você fica??, respondeu Lamoglia. ?Agora é cada um por si?, respondeu. ?Aí eu senti o enorme peso que havia sobre mim e vi que qualquer coisa seria problema meu?, contou aos senadores.

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