Reformas tributária e previdenciária podem render R$ 60 bilhões em 10 anos, estima Prefeitura de SP

Prefeito Ricardo Nunes (MDB) vai enviar à Câmara pacotão que prevê revisão da base de cálculo do IPTU, isenção para setores econômicos, nova reforma da Previdência e criação de uma taxa para custar o lixo; base aliada e oposição resistem

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Por Adriana Ferraz
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A Prefeitura de São Paulo estima obter um retorno financeiro de R$ 60 bilhões nos próximos dez anos se conseguir aprovar um pacotão de reformas fiscais prestes a ser enviado à Câmara Municipal. Serão dois projetos: um propõe um nova reforma previdenciária e o outro incide sobre tributos municipais, como o Imposto sobre Serviços (ISS) e Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU)

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes. Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

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As propostas estão em fase final de elaboração. A expectativa é que os textos possam chegar à mão dos vereadores ainda nesta semana para que, em seguida, técnicos da Prefeitura ajudem a tirar dúvidas dos parlamentares numa estratégia em busca de votos. A nova proposta de reforma previdenciára, por exemplo, exigirá o apoio de ao menos 37 dos 55 vereadores.

Em 2018, o então prefeito Bruno Covas (PSDB) obteve o aval da Casa para modificar as regras da Previdência Municipal, mas enfrentou uma série de protestos de servidores pela cidade e greve. Parte dos vereadores teme que isso se repita agora e afirma que a Prefeitura errou em fatiar a reforma. Mesmo sem conhecer os detalhes do projeto de emenda à Lei Orgânica do Município, parlamentares até da base aliada estimam dificuldades para aprová-la em véspera de ano eleitoral.

O ganho financeiro e os projetos possíveis de serem realizados a partir das reformas serão usados como argumento pela gestão Ricardo Nunes (MDB) para negociar votos na Casa. De acordo com a Secretaria Municipal da Fazenda, apenas a reforma previdenciária pode render uma economia de R$ 111 bilhões em 35 anos - o que não eliminará, mas fará cair o déficit de R$ 171 bilhões previstos para o mesmo período sem mudanças.

O remédio pra isso, no entanto, será amargo. Entre as propostas incluídas na reforma está baixar o valor que serve de base para a contribuição dos inativos. Hoje, só contribui quem recebe acima do teto do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), ou seja, quem ganha ao menos R$ 6,4 mil. O texto em elaboração prevê a cobrança já acima do salário mínimo, que é de R$ 1,1 mil. Esse é o ponto nevrálgico do projeto, segundo a própria Prefeitura. E dele depende a economia prevista.

Ex-vereador e presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (Sinpeem), Claudio Fonseca (Cidadania) já convoca os funcionários públicos a se posicionarem contrários à nova reforma e promete resistência. Segundo ele, é uma "contradição" dar isenção a empresas e tirar dos servidores. Ele se refere ao segundo projeto que chegará à Câmara, classificado pela Prefeitura como um pacote de "modernização fiscal".

"Sob o argumento de modernização, a contradição do prefeito é dupla com seu pacote de isenção tributária e uma nova reforma da previdência municipal. É absurdo! Os servidores públicos não vão pagar essa conta! Sempre lutamos e agora não será diferente!", escreveu Fonseca nas redes sociais. 

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Segundo o secretário da Fazenda, Guilherme Camargo, a intenção da Prefeitura é incentivar a retomada econômica de setores estratégicos para a cidade (como os de eventos e turismo), modernizar a legislação, combater a guerra fiscal e gerar empregos.

IPTU e taxa do lixo

A parte do pacote fiscal que trata dos tributos municipais vai abarcar do IPTU à criação de uma taxa para custear a coleta de lixo na cidade, passando por mudanças nas alíquotas que incidem sobre nove diferentes setores econômicos. As duas primeiras medidas são obrigatórias por lei.

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Cada novo prefeito deve, em seu primeiro ano de governo, revisar a Planta Genérica de Valores (PGV), usada como cálculo para a cobrança do IPTU. É ela que define se o metro quadrado de todas as ruas da cidade sofreu valorização ou desvalorizou, aumentando ou reduzindo o valor pago por ano. Segundo Estadão apurou, a gestão Nunes tinha a intenção de aumentar o tributo de cerca de 6% dos imóveis e terenos da cidade, mas recuou diante da reação dos vereadores. Deste modo, só pagarão mais imposto os moradores e comerciantes de locais valorizados, segundo a PGV.

A última tentativa de mexer na forma como a cobrança do IPTU é feita foi parar na Justiça. Na gestão Fernando Haddad (PT), a Prefeitura chegou a aprovar na Câmara uma nova fórmula, a fim de tributar mais os ricos, mas só conseguiu aplicar o reajuste (e de forma parcial) um ano depois. 

Garis trabalham na Avenida Paulista, na região central de São Paulo. Foto: Wladimir de Souza/AE

Outra obrigação legal, mas igualmente polêmica, é a criação de uma nova taxa de lixo - durante a gestão petista da prefeita Marta Suplicy (2001-2004), a cobrança foi aprovada pela Câmara em meio a protestos generalizados. Hoje secretária municipal de Relações Internacionais, Marta foi apelidada de "martaxa" e a pressão foi tamanha que ela teve de reduzir o valor cobrado de uma parcela da população apenas três meses depois. O tema ainda virou foco da campanha seguinte, quando José Serra (PSDB) venceu a eleição prometendo acabar com a taxa.

Agora prevista no Marco Legal do Saneamento Básico, aprovado ano passado, a cobrança valerá para todos os municípios. O valor ainda não foi definido nem a forma como ele será cobrado. Uma das possibilidades é incluir a taxa da conta de água em acordo a ser feito ainda com a Sabesp. Hoje, o contrato firmado pela Prefeitura para recolher o lixo das residências e comércios é de R$ 1,2 bilhão por ano.

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Complexas, as matérias ainda vão disputar atenção e a pauta de votação na Câmara com outros projetos já em trâmite na Casa e previstos para chegar também este ano, como a revisão do Plano Diretor. Não há prazo para votação.

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