Reforma trabalhista não significará baratear mão-de-obra, diz Wagner

Por Agencia Estado
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O ministro do Trabalho, Jaques Wagner, garantiu hoje que a reforma trabalhista que o governo pretende apresentar ao Congresso até o início de 2004 não irá representar o barateamento da mão-de-obra. "Se for para fazer leilão de escravos, não contem comigo", afirmou Wagner. "O foco que estou dando é: nem a intocabilidade da CLT (Consolidação da Leis Trabalhistas), nem a revogação da Lei Áurea." O ministro defendeu a simplificação da legislação trabalhista que, na sua visão, está cheia de "rococó", mas atacou a sua flexibilização. "A CLT já é flexível. O cidadão demite quando quiser, admite quando quiser." Num claro recado a segmentos do empresariado que defendem a redução de encargos trabalhistas, Wagner afirmou ainda que a precarização da mão-de-obra não garante mais empregos. "Para ser um país desenvolvido precisamos de massa salarial e é preciso espaço para criar empregos. Agora, não se pode trabalhar só com a idéia de precarização pois isso não levaria a lugar nenhum." Segundo o ministro, o objetivo maior das reformas trabalhista e sindical não deve ser apenas a geração de emprego, mas a melhoria das relações trabalhistas. "Ter regras mais objetivas para a relação capital e trabalho ajuda, mas não é o elemento central para definir o investimento das grandes corporações", afirmou. Acima da cintura O ministro avaliou que são as reformas tributária e previdenciária que irão provocar um impacto maior no crescimento econômico. Para ele, porém, a reforma trabalhista deverá causar um impacto mais direto nas micro, pequenas e médias empresas - responsáveis por cerca de 70% da força de trabalho do País. Por isso, ele defende um tratamento diferenciado para essas empresas. "Não se pode dar a uma padaria com cinco funcionários o mesmo tratamento jurídico dado a uma Volkswagen", disse. O ministro disse que a questão será debatida no Fórum Nacional do Trabalho. Com empresários, trabalhadores e governo representados de forma igualitária com 17 integrantes cada, o fórum será instalado no dia 29 de maio em Brasília. As declarações de Wagner foram feitas após uma visita à Força Sindical, central que faz oposição a Central Única dos Trabalhadores (CUT). É a primeira visita do ministro, que foi fundador da CUT da Bahia, à central dirigida por Paulo Pereira da Silva, o Paulinho. No início do ano, Paulinho e Wagner quase saíram no tapa em um encontro no Palácio do Planalto. Hoje, porém, eles fumaram o "cachimbo da paz", nas palavras do ministro. "Luta agora só como no boxe, com luva e acima da cintura", brincou.

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