‘Reduzir o número de ministérios não contraria o governo’

Leonardo Picciani, líder peemedebista na Câmara, segue os passos do aliado Eduardo Cunha, mas com estilo menos beligerante

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Por Luciana Nunes Leal - Rio
Atualização:

Em outubro de 2002, aos 22 anos, Leonardo Picciani (PMDB-RJ) foi eleito para o primeiro mandato de deputado federal com a bagagem da militância estudantil e da convivência com o pai, o deputado estadual Jorge Picciani, presidente da Assembleia Legislativa do Rio. Em fevereiro passado, no quarto mandato e aos 35 anos, Picciani assumiu a liderança do PMDB, em substituição ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), eleito presidente da Câmara.

O líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani. Foto: Divulgação

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Na disputa pela liderança, Picciani venceu Lúcio Vieira Lima (BA) por apenas um voto. Foi beneficiado pelo empenho do prefeito do Rio, Eduardo Paes, do governador Luiz Fernando Pezão e do ex-governador Sérgio Cabral, que atuaram como cabos eleitorais. Por causa da influência de Cunha sobre Picciani, deputados brincam que o presidente da Câmara “acumula a função de líder”.

Picciani faz o mesmo discurso de independência do Congresso, mas tem estilo menos beligerante que o antecessor. Como líder, entre 2013 e 2014, Cunha impôs derrotas à presidente Dilma Rousseff e manteve a mesma estratégia no comando da Câmara. “As pessoas são diferentes, temos estilos absolutamente distintos. Eduardo tem perfil mais agitado, eu tenho perfil mais conciliador. Não é mérito de um nem de outro, é apenas estilo”, disse.

Na mesma linha do presidente da Câmara, Picciani defende a votação de temas problemáticos para Dilma, como a emenda à Constituição que obrigaria o governo a reduzir a quantidade de ministérios de 38 para 20. “Reduzir o número de ministérios não significa contrariar o governo. É demonstração de comprometimento com as contas públicas”, sustenta Picciani. O fato de o PMDB correr o risco de perder cargos não é problema para o partido, diz.

Em um ponto de diferença com o evangélico Cunha, Picciani, católico não praticante, não abraça bandeiras como o combate ao casamento gay e à legalização do aborto. “Essa não é uma pauta à qual eu me dedique.” Se assuntos como esses chegarem ao plenário da Câmara, Picciani diz que levará a discussão à bancada. “O que for posição majoritária da bancada será encaminhado. Se houver divisão muito grande, cada deputado será liberado a votar como preferir”, afirmou.

Segundo ele, a regra “vale para todos os temas”, inclusive a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, emenda à Constituição já aprovada na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ), com voto da maioria dos peemedebistas. O governo e o PT são contra, assim como o vice-presidente Michel Temer (PMDB). A proposta será analisada em comissão especial e passará por duas votações no plenário. Eduardo Cunha prometeu celeridade.

“Pessoalmente, não creio que a redução da maioridade pura e simples seja suficiente, mas é preciso tratar dos casos mais graves. A sociedade exige que o tema seja discutido”, disse Picciani.

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Nas eleições de 2014, Leonardo Picciani aderiu ao movimento dissidente do PMDB-RJ, presidido pelo pai, de apoio ao candidato do PSDB a presidente, Aécio Neves. Agora, porém, não engrossa o coro do impeachment. “A presidente venceu as eleições legitimamente. O PMDB tem a democracia em seu DNA”, disse ele, casado e pai de duas meninas e um menino.

Picciani reforça a tese da candidatura própria do PMDB à Presidência, que ganhou corpo com a deterioração das relações do partido com o PT.

“Defendo que o partido tenha candidato desde que eu presidia a Juventude do PMDB do Rio, em 2000. Hoje, Eduardo Paes seria o melhor nome, porque tem vitrine para mostrar, o governo transformador que faz no Rio.” 

O deputado não esconde a intenção de disputar a prefeitura, embora Paes já esteja em campanha pelo secretário municipal de Coordenação de Governo, Pedro Paulo. Picciani não polemiza. 

“Se o partido entender que meu nome é melhor, tenho esse interesse. Mas a decisão só se dará no ano que vem.”

Para Picciani, o papel de articulador político assumido por Temer não aumenta o comprometimento do PMDB com o governo, mas “confirma o compromisso com a governabilidade, que sempre existiu”. O diálogo entre Congresso e governo será mais fácil, diz. “O vice-presidente não é um subordinado, não é um ministro. Se não der certo, vai botar quem no lugar? Não há outro caminho.” 

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