Recebido no Planalto, lavrador ganha R$ 200

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Por Vera Rosa
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Um dia depois de ter invadido o Palácio do Planalto, o lavrador baiano Ângelo de Jesus retornou ontem à sede do governo e pediu desculpas aos seguranças. Com jeito humilde e carregando uma imagem de São Lázaro, Ângelo disse que a desesperada tentativa de conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na véspera, foi movida por um único objetivo: salvar a Bahia da corrupção. "Eu tenho orgulho de ser brasileiro, mas a Bahia está afundando por causa dos prefeitos corruptos", afirmou o lavrador, que vive em Pindobaçu, no interior baiano. Sem conseguir audiência com Lula - que ontem estava em Manaus -, Ângelo foi recebido pelo chefe de gabinete, Gilberto Carvalho. Saiu do Planalto com uma passagem de ônibus para a sua cidade, R$ 200 para um lanche e várias fotos no gabinete presidencial. "Sei que Lula vai me agradecer muito. Ele não sabe que o dinheiro que manda para as cidades não chega lá", insistiu. "Eu peço desculpas aos seguranças pelo que fiz, mas era o único jeito de conversar com o pessoal da Presidência para salvar nossa Bahia da corrupção. Faria tudo de novo pela nossa bandeira." Ele não respondeu por que não encaminhou sua queixa ao governador da Bahia, Jaques Wagner (PT). "Eu queria era falar com o presidente." Portador de hanseníase, ele tentou a todo custo chegar ao gabinete de Lula, na quinta-feira. Dizia estar sem comer havia quatro dias. Depois de muito se debater, foi contido por seguranças, que o algemaram. "Presidente, salva eu, salva eu!", gritava. Do Planalto, Ângelo foi transferido para o Hospital Regional da Asa Norte e, de lá, seguiu para o das Forças Armadas, de onde saiu ontem após receber o diagnóstico de distúrbio psiquiátrico. "Ficamos chateados com o que aconteceu e por isso fiz questão de recebê-lo", disse Gilberto Carvalho. "Abrimos o Planalto para tanta gente..." Ele contou que Ângelo custou a aceitar os R$ 200 para o lanche. "Nós nos cotizamos para dar essa ajuda e ele queria devolver o dinheiro", afirmou. "Só pediu que o governo fiscalizasse a destinação dos recursos enviados à sua cidade e falou em corrupção." Pai de quatro filhos, o lavrador se definiu como "encostado" pelo INSS, por causa de uma queda de cavalo. Aposentado por invalidez, recebe um benefício mensal de R$ 450. "Minha mulher tenta há quatro anos receber o Bolsa-Família e não consegue." Questionado se havia sido bem tratado no hospital, abriu um sorriso: "Ôxe! Estava no céu..."

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