'Questão é mais política que jurídica', diz Bruno Araújo sobre estar na lista de Fachin

Ministro se disse 'mais do que constrangido' e afirma que constrangimento só pode ser reparado por meio de um processo no STF

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Por Célia Froufe (Broadcast)
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LISBOA - O ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB-PE), explicou nesta quarta-feira, 19, que a petição feita na última segunda-feira à noite para que o inquérito que o investiga sobre o recebimento de recursos da Odebrecht seja separado da Lava Jato teve como objetivo deixar claro que, no seu caso, as apurações não têm relação com a operação iniciada pela Polícia Federal. "A questão é mais política que jurídica. Politicamente, é muito importante nos distanciar do tema Lava Jato", afirmou.

O ministro das Cidades, Bruno Araújo Foto: Beto Barata/Estadão

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De acordo com o Ministério Público, um dos colaboradores no processo de delação informou que, diante da influência do parlamentar Bruno Araújo (que é deputado federal), decidiu-se manter com ele uma boa relação. Repasses teriam sido feitos nos anos de 2010 e 2012 como doação eleitoral no valor de R$ 600 mil, uma soma não contabilizada e paga pelo Setor de Operações Estruturadas do Grupo Odebrecht.

Segundo o relatório do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, o procurador-geral da República sustenta haver indícios de que o agora ministro praticou os crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e corrupção ativa.

Araújo disse que "fatos eventualmente imputados a nós" são fortemente repelidos e enfatizou mais uma vez que não têm qualquer conexão com o caso da Petrobras. "Nesse primeiro momento, além de apreciar como tendo sido descabida qualquer imputação de corrupção, queremos nos distanciar de temas que, conforme os próprios delatores, nunca tiveram qualquer relação de contrapartida", reforçou.

O ministro diz ficar surpreso com a reação de quem é informado sobre ter o nome em listas. "Vejo sempre de quem aparece nas listas que acham que as investigações são naturais, que fazem parte das instituições democráticas", disse. "Estou mais do que constrangido. Quem tem vergonha na cara tem que se constranger. Diferente disso, é não saber o que isso significa", argumentou.

Para o ministro, o constrangimento só pode de ser reparado por meio de um processo no STF.

O ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB-PE), disse que, além de ter disponibilizado ontem para o Estado todas as suas emendas parlamentares do período de 2008 a 2016, também as protocolou no Supremo Tribunal Federal (STF) e vai abrir um site para que todo o material fique de livre acesso para que a população possa consultar.

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O ministro do STF Edson Fachin autorizou a Polícia Federal a levantar as obras da Odebrecht 'no local de origem' do ministro das Cidades. A determinação de Fachin alcança ainda todas as emendas parlamentares propostas pelo tucano, no período em que ele estava na Câmara. "Todas as nossas obras são pequenas. Não me parece crível que a Odebrecht vá fazer obras de calçamento de R$ 200 mil no município do semiárido brasileiro, mas esse juízo de valor não quero fazer", comentou.

Araújo disse ainda ter urgência em relação às investigações que afetam seu trabalho. "Enquanto uns querem operar ou trabalhar para que as decisões sejam as mais lentas o possível, no meu caso quero que a resolução seja a mais rápida possível", disse.

A assessoria do Ministério das Cidades disse, em nota, que "apesar do Ministério Público pedir abertura de investigação contra o ministro Bruno Araújo por corrupção ativa com base nas delações dos executivos da Odebrecht, João Pacífico e Cláudio Melo Filho, os vídeos divulgados, na última quinta-feira, não confirmam o fato. Pelo contrário, transformaram-se na principal peça de defesa do ministro, a partir da negativa dos delatores sobre o ministro ter exigido qualquer tipo de contrapartida da empresa".

O ministro falou com jornalistas na capital portuguesa antes de participar do segundo dia do V Seminário Luso-Brasileiro de Direito, promovido pela Escola de Direito de Brasília do Instituto Brasiliense de Direito Público (EDB/IDP) e pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (Fdul). 

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