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''Quero ser um bom prefeito e fortalecer a candidatura Serra''

ENTREVISTA - Gilberto Kassab: prefeito reeleito de São Paulo

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Por Ana Paula Scinocca e Dora Kramer
Atualização:

Prefeito reeleito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), não disfarça a alegria em ter aumentado seu cacife político ao chegar ao comando da maior cidade do País pelas urnas. Antes, por pouco mais de 2 anos, ocupou o posto com a renúncia de José Serra (PSDB), seu padrinho político. Sua vitória, diz, fortalece o tucano e seu próprio partido. Mas avisa: "O DEM não é anexo do PSDB." Em entrevista ao Estado, Kassab demonstra fidelidade canina a Serra e lança o governador à Presidência. "Chegou a hora de ele ser presidente", afirma. Apesar da gratidão a Serra, acredita ter sido eleito não em razão de transferência de votos, mas sim por sua gestão. Em época de crise financeira mundial, Kassab sabe que os desafios serão muitos, e não descarta a possibilidade de vir a fazer cortes nos investimentos. Mas assegura que a área social não será atingida. "Teremos de ficar atentos às receitas porque não podemos quebrar a prefeitura. Se as receitas diminuírem, será necessário cortar investimentos", afirma. Ao final dos quatro anos, diz, quer ser reconhecido como o "Kassab da eficiência". A crise financeira mundial terá impacto no Orçamento da Prefeitura de São Paulo? Que tipo de ajuste terá de ser feito? Eu tomei o cuidado, até porque, quando encaminhei o Orçamento para a Câmara, nós já tínhamos a crise com muito mais intensidade do que quando o Lula enviou. No caso dele (quando o Orçamento da União foi feito), a crise ainda não tinha mostrado os dentes. Nós estamos muito atentos e não poderemos nos omitir se a crise passar a ter reflexos mais significativos nos municípios. Teremos de ficar atentos às receitas porque não podemos quebrar a prefeitura. Por enquanto, não temos nenhuma sinalização da crise. As receitas não diminuíram. Mas no caso de elas diminuírem é evidente que será necessário cortar investimentos, mas jamais investimentos no social, principalmente na saúde e na educação. Existindo necessidade de corte de despesa quais áreas são mais suscetíveis? Investimentos que não sejam no campo social. Campo social é transporte público, é habitação, saúde e educação. Falando em transporte público, o senhor se comprometeu a não aumentar a tarifa de ônibus até o fim de 2009. Isso significa que haverá aumento de subsídio? Na medida em que você não aumenta a tarifa, a prefeitura precisa pôr mais recursos. O subsídio aumenta. Quanto mais o Estado puder investir para não aumentar a passagem, melhor. Em relação à educação, há dados que mostram que muitas crianças terminam a 4ª série sem saber ler e escrever. O senhor tem uma meta? Daria para dizer que nenhuma criança vai terminar a 4ª série sem saber ler e escrever? Essa é a nossa meta. O importante é comparar. No início da atual gestão nós tínhamos 35% das crianças chegando sem saber ler e escrever ao fim do 2º ano. Hoje, são 15%. O foco agora nessa segunda gestão é continuar melhorando a qualidade do ensino. Nós já temos muita clareza do momento em que vamos acabar com o 3º turno, e, com o fim dele, teremos todas as crianças estudando cinco horas por dia. Isso significa dois anos a mais de estudo para cada criança. A expectativa é acabar com o terceiro turno quando? Em 2009, com certeza. Ao fim de sua nova gestão que marca o senhor pretende deixar? O senhor quer ser o Kassab da educação? O Kassab da saúde? O Kassab da eficiência. Para ficar quatro anos? Evidente. Meu único foco é ser um bom prefeito. Politicamente, meu objetivo é ser um bom prefeito e fortalecer a candidatura do Serra a presidente. Eu acho que é muito importante para o País a eleição do Serra. A partir do momento em que eu concluir meu mandato, e tendo sido um bom prefeito, eu estarei pronto para ser convidado a ajudar em outras missões. Mas os planos mudam... O Serra também foi eleito para ser prefeito e, no entanto, mudou. Mas no meu caso não pode. Eu não tenho biografia para isso. É meu primeiro cargo majoritário. Eu nunca disputei uma eleição (majoritária) antes. Seria um desastre, então, sair da prefeitura antes do fim do mandato? Sim. Seria uma desonestidade para com a cidade. O Serra não errou. Tanto não errou que foi eleito governador com uma votação expressiva. As circunstâncias mudam, mas no meu caso não mudarão. Eu não tenho biografia para essa mudança. E se em 2010 a oposição chegar à conclusão de que o senhor é o melhor quadro para disputar o governo de São Paulo. Se o Serra fizer um apelo, o senhor não entra na briga? Não. Não existe essa possibilidade e o Serra não fará esse apelo. Jamais ele iria fazer esse pedido. Uma das marcas da gestão Serra/Kassab é o projeto Cidade Limpa. Tem um novo programa que será a marca da nova administração? Acho que a lição que nós vamos deixar, com mais esses quatro anos, é que nós vamos mostrar que a cidade entende quando um governante começa a investir para o futuro. Vou continuar com essa linha. Não vou me preocupar em colocar nome em placa. Uma das marcas é que nós vamos deixar São Paulo com 100 parques, e nós encontramos com 31. O senhor vai fazer alterações em seu secretariado? Que tipo de mudança pretende fazer em sua equipe? É evidente que, assim como teve mudanças de secretários ao longo destes 2 anos e meio, vai continuar havendo mudanças rotineiras. Mas eu não tenho nenhuma obsessão em compor um novo secretariado. Estou muito feliz com esse quadro de secretários. Nem mudança para acomodar aliados? O PSDB vai continuar da mesma maneira ou vai ter menos espaço, já que agora o governo é do Kassab? Não. Eu não tenho preocupação com partidos. Eu tenho preocupação com eficiência. E o PMDB? Assim como nas alterações que aconteceram eu consultei o Serra, o Aloysio (Nunes Ferreira), agora eu também vou consultar o PMDB, o PR, o PSC. As escolhas serão minhas, eu não delego. Não tem sentido o partido indicar ninguém. Quem escolhe é o prefeito. Vou começar a refletir em eventuais mudanças daqui para frente. Como foi para o senhor ter tido sua vida pessoal devassada, exposta? Não foi devassada. Todos conhecem minha vida, que é muito simples. Em relação às insinuações maldosas, o que eu tenho a dizer é que a campanha da adversária errou e pagou pelos erros. A vitória do senhor em São Paulo sempre foi colocada como ponto de honra para o DEM. Qual é o efeito em termos de oposição, do partido em si e da sucessão presidencial? Quem se fortalece é o Serra. Ele foi eleito prefeito de São Paulo e ele tinha o compromisso com São Paulo de fazer uma boa administração. Eu sempre tive muita consciência disso, de que no momento em que a gestão fosse encerrada com uma boa avaliação era o Serra que ia chegar para a cidade e dizer: "Pessoal, cumpri meu papel. Foram quatro anos de eficiência, melhoria da qualidade dos serviços públicos". Eu fiz o meu papel também. Eu fui um bom prefeito e eu cumpri meu compromisso no sentido de corresponder às expectativas. Existia um ponto de interrogação. Eu nunca tinha ocupado um cargo público no Executivo com essa responsabilidade. O Serra é o grande vencedor. Então, na sucessão presidencial, reforça a candidatura do Serra? Sim. Mostrou que na maior cidade do País soube reconhecer o seu trabalho. Na sua opinião, então, isso já define a questão da candidatura dentro do PSDB? Aí seria uma intromissão minha. É uma questão interna do PSDB. Mas eu diria que na minha opinião fortalece o Serra e é natural que ele queira ser (candidato a presidente). Chegou a hora de ele ser presidente. É bom para o Brasil que ele seja. Fortalece o Serra e o caminho do Democratas para apoiá-lo. O senhor acha que o DEM deve refazer a aliança com o PSDB nos termos em que fez com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso? Deve indicar a vice ou pode não ocupar? No momento em que se faz uma aliança você tem de ter a consciência de que é preciso fazer tudo que estiver ao seu alcance para fortalecer as chances de vitória. O jogo é estruturar uma aliança sólida que possa dar condições para o Serra se eleger e para o Serra governar bem. O fenômeno da transferência de votos foi para o senhor desmentido nessa eleição? Minha eleição se deve à gestão. E a minha boa gestão se deve muito também ao Serra. Não me diminui em nada reconhecer isso. Politicamente, na opinião do senhor, essa eleição desmentiu o fenômeno da transferência de votos? Desmentiu. O próprio Lula, que tem uma avaliação extraordinária em São Paulo, não agregou nada (à candidatura dela, Marta Suplicy). O discurso do senhor está muito atrelado ao do PSDB. E a identidade do DEM? A maior cidade do País, um prefeito do Democratas. Se ele for um prefeito eficiente é uma boa imagem para o partido. Mas o DEM está ficando com uma cara de anexo do PSDB. Não é um anexo. É uma aliança que elegeu Serra. Como anexo? Eu sou do DEM e fui eleito. CRISE FINANCEIRA: ?Teremos de ficar atentos às receitas porque não podemos quebrar a prefeitura? MONTAGEM DE EQUIPE: ?Eu não tenho preocupação com partidos. Eu tenho preocupação com eficiência? DEM E PSDB: ?O DEM não é um anexo. É uma aliança que elegeu Serra. Como anexo? Eu sou do DEM e fui eleito.?

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