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Luiz Eduardo Ramos: ‘Quero fidelidade ao governo nas pautas para o País’

Ministro responsável pela articulação política com o Congresso condiciona nomeações a alinhamento às propostas do Planalto

Foto do author Felipe Frazão
Por Felipe Frazão
Atualização:

BRASÍLIA –À frente da articulação do Palácio do Planalto, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, trata a nomeação de apadrinhados por deputados e senadores como uma espécie de dote do presidente Jair Bolsonaro para o “casamento” com o Congresso. O governo federal tem cerca de 15 mil cargos comissionados nos Estados. Ramos cobra “fidelidade” como contrapartida. A seguir os principais trechos da entrevista:

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O que fez o governo passar a aceitar indicação política para cargos de confiança? 

Após seis meses, o presidente identificou que havia muitas pessoas nomeadas que não estavam alinhadas com governo, inclusive de esquerda. Ao constatar isso, da necessidade de se nomear pessoas alinhadas, ele tomou a decisão de, republicanamente, baseado em critério técnico e na necessidade de cada Estado, aceitar indicação de parlamentar.

Solenidade de Posse do General Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira, ministro da Secretaria de Governo da Presidência da República Foto: Marcos Corrêa/PRByline: 

Como? 

Estamos construindo uma nova articulação, uma adaptação cultural de um processo que havia no passado para o atual, que também é baseado em cargos e emendas, mas com muito critério e com banco de dados.

Qual é o processo?

O cronograma do processo, desde que o parlamentar apresenta a demanda dele, não pode ser para a semana seguinte. Ele passa por um processo criterioso, com consulta à Abin (Agência Brasileira de Inteligência). Talvez essa seja a nova cultura que eles não estão entendendo.

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E se o indicado tiver processo na Justiça, ainda que não julgado?

Não vai ser nomeado.

E se já estiver no cargo, pode perdê-lo?

Pode, claro.

Tem parlamentar que indicou familiar, esposa, tio... 

Para mim, não pediram, parente de político, não. Isso aí está exposto à opinião pública. Quem estiver nessa situação está correndo risco.

O sr. está mais sensível a essa questão dos cargos?

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Muito. Eu tenho tentando conversar com o nosso presidente, que é uma pessoa muito firme. O posicionamento dele está claro. Nos outros governos o ‘toma lá, da cá’ era assim: ‘Quem quer cargo?’ Era à vontade e tal. O Bolsonaro disse ‘não tem’. Aí está o problema. O parlamentar que não está lá nem cá fica perdido. O cargo é uma política republicana. Para que eu possa aplicar minhas políticas públicas, saneamento, escolas, o elemento que está lá tem de estar alinhado com o governo. E não adianta dizer ‘ministro, mas ele é funcionário de carreira’. Sim, mas é petista. Assim como tem funcionário de carreira de direita. Tem. Não é o ‘toma lá, da cá’. Eu preciso ter pessoas de minha confiança que vão fazer o que o governo central quer nesses cargos. Mas ainda não conseguimos descobrir todos. Os mais claros são Codevasf, Sudene, Banco do Nordeste...

Quem conseguir cargo tem de dar contrapartida?

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Sim. Eu considero uma fase de namoro. E gostaria de casamento. É a gente ter uma relação sincera, duradoura, leal, de confiança. Eu não posso a cada votação, a cada projeto, ter que fazer um programa. Eu até brinquei: parece até que a gente está namorando, “agora quero uma joia ou, então, um diamante”. Não. Eu quero casamento.

E quem não corresponder?

Eu sou casado, se minha mulher descobrir que eu tenho uma amante, acabou o casamento. Gostaria de fidelidade ao governo nas pautas para o País. Vou criar um caso estapafúrdio: o governo passou a adotar o aborto. O deputado evangélico não vai votar a favor do aborto. Ele pode ter dez mil cargos. A gente quer que o deputado esteja conosco nas reformas estruturantes, como foi a da Previdência, a tributária, a liberdade econômica, o saneamento básico, pacto federativo.

Isso envolve o Senado?

Claro, o Senado também. É com o Congresso.

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Pode ser de qualquer partido, menos de esquerda?

Se a esquerda me procurar... Você acha que a esquerda vai votar no Bolsonaro? Muito difícil. Coitado do pessoal do PDT que foi votar a favor da reforma (da Previdência). Está sendo expulso.

E o Centrão?

Eu não uso esse nome, eu uso pessoal alinhado com a postura do governo. Pessoal, exatamente, do meio.

São só os cargos nos Estados ou também nos ministérios?

Ministério, não. Há uma regra, determinação do presidente: em Brasília, não.

No Senado, passa por apoio à indicação do Eduardo Bolsonaro como embaixador nos EUA? 

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Sendo sincero, a indicação do Eduardo em nenhum momento houve contato comigo. Eu sei que o (Davi) Alcolumbre (presidente do Senado) tem conversado, isso aí tem me chegado. Eu até agora não fui chamado para isso.

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