PUBLICIDADE

"Quando vi entidades ambientais criticando Ricardo Salles, falei 'acertamos'', diz Bolsonaro

Presidente eleito defende escolha do futuro ministro do Meio Ambiente e diz que 'tempo' de demarcação de terras indígenas 'acabou'

Foto do author Julia Lindner
Por Julia Lindner
Atualização:

BRASÍLIA - O presidente eleito, Jair Bolsonaro, afirmou nesta quarta-feira, 12, que “não demarcaremos um centímetro quadrado a mais de terra indígena” e que “não tem mais terra para quilombola” no Brasil. “Já acabou esse tempo”, declarou durante reunião com parlamentares do DEM no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), sede da transição. Bolsonaro também disse que percebeu que acertou na escolha do futuro ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, quando viu as críticas de entidades ambientais contra a decisão.

No encontro, Bolsonaro defendeu ainda a extinção de decreto que permite descontos de até 60% nas multas ambientais e que transforma os 40% restantes em investimentos para recuperação de florestas. “Nós respeitamos o meio ambiente, mas, pessoal, não dá mais para conviver com a indústria da multa”, criticou. “Tem decreto que destina 40% das multas para ONG’s para preservar meio ambiente. O que vamos fazer com aquele decreto? Cair fora”, disse Bolsonaro dirigindo-se a futura ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que estava ao seu lado. “Não vamos deixar esse pessoal se retroalimentar constantemente trabalhando contra nós”, continuou Bolsonaro, que foi aplaudido.

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, deixa o centro de transição de governo em Brasília, o CCBB Foto: Dida Sampaio/Estadão

PUBLICIDADE

O Estado mostrou na semana passada que o Ibama recebe, todos os anos, menos de 5% das multas. Os valores não pagos são contestados na Justiça.  Neste ano, até esta terça-feira, 4, o Ibama havia emitido um total de 13.244 autuações por crimes ambientais em todo o País, multas que somam R$ 3,36 bilhões. O volume financeiro efetivamente recolhido pelo órgão, no entanto, não chegava a R$ 200 milhões. Em 2017, quando 15.341 autuações foram aplicadas, o valor total financeiro chegou a R$ 3,07 bilhões, mas apenas R$ 140,6 milhões foram pagos.

Bolsonaro chegou a cotar Tereza Cristina no comando do Meio Ambiente, quando cogitava fundir as pastas, mas recuou após perceber que teria “problemas fora do Brasil”. “Demos um passo atrás. A gente namora, fica noivo e casa. Não namora e casa. Recuamos e veio o garoto Ricardo Salles. Quando vi entidades ambientais criticando ele, eu falei: ‘poxa, Onyx (Lorenzoni), acho que acertamos’”, contou, provocando risadas entre os presentes. 

Ele lembrou a situação de Roraima, que enfrenta problemas por falta de energia elétrica, e possui entraves para a licença de uma linha de transmissão por questões indigenistas. “O Estado sem energia por problema ambiental indigenista. Indigenista vamos resolver com a Damares (Alves), continuou Bolsonaro, em outro momento, fazendo referência a futura ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos.

O presidente eleito lembrou que possui uma multa ambiental por pesca irregular no Rio de Janeiro de R$ 10 mil, mas alegou que estava em Brasília na ocasião. Também disse que no passado era comum transportar galões de gasolina e derrubar no chão, mas “se um trator derrubar um litro de óleo diesel no chão é uma multa milionária em cima do fazendeiro”. “Não querem nem saber”, criticou. Ele disse, ainda que é quase impossível derrubar uma árvore por causa de licenças ambientais atualmente e que isso deve mudar.

O futuro ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO

Ao falar da questão indigenista, Bolsonaro citou o caso de um empresário que quer iniciar uma obra no Paraná, mas depende de um laudo da Fundação Nacional do Índio (Funai). “No Paraná uma pessoa está querendo fazer um terminal de contêiner que agora necessita de um laudo da Funai. O cara veio me falar ‘estou há oito anos tentando construir e se tiver um vestígio de índio não vai sair’. Ele disse que foi processado pelo STF. Não demarcaremos um centímetro quadrado a mais de terra indígena e ponto final. Questão dos quilombolas, meu amigo Helio (Bolsonaro) aqui, não tem mais terra para quilombolas também, já acabou esse tempo. Não posso acordar e ver que via portaria se iniciou demarcação de terras.”

Publicidade

Ao falar dos quilombolas, atuais habitantes de comunidades negras rurais formadas por descendentes de africanos escravizados, Bolsonaro fez menção ao deputado eleito Helio Bolsonaro, um de seus principais apoiadores, que é negro. A menção ao aliado provocou novas risadas.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.