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PV e Cidadania avançam na construção de federação partidária; PCdoB busca esquerda

Federações permitem que siglas ameaçadas de extinção pela cláusula de desempenho se unam para tentar superar mínimo de votos

Foto do author Pedro  Venceslau
Por Pedro Venceslau
Atualização:

A confirmação de que federações partidárias poderão disputar as próximas eleições, definida esta semana, reacendeu as negociações em torno da construção de alianças. Partidos pequenos, ameaçados pela chamada cláusula de desempenho — mecanismo que tem o objetivo de restringir o funcionamento de siglas que não alcançarem porcentual mínimo de votos na eleição para a Câmara —  são os principais interessados. Entre as tratativas mais avançadas, PV e Cidadania podem caminhar juntos em 2022. 

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A federação prevê a união de dois ou mais partidos para formar um bloco durante a eleição e no exercício dos mandatos; necessariamente, a aliança deve vigorar por quatro anos no Congresso e nos Legislativos de todo o País. As legendas devem atuar no Congresso, Assembleias, Câmaras Municipais e eleições dentro desse período como se fossem um único partido. As siglas poderão, porém, manter seus símbolos, programas e procedimentos internos. 

O presidente nacional do Cidadania (que conta com 7 deputados federais), Roberto Freire, e o presidente do PV (4 deputados), José Luiz Penna, já se reuniram esta semana para discutir a união das duas agremiações. 

"Para o Cidadania vale a pena (formar uma federação). A gente tentou a Rede, mas ela aparentemente desistiu", disse Freire ao Estadão. Na avaliação dele, as federações devem ser o embrião da criação de novos partidos.

Roberto Freire, presidente nacional do Cidadania. Foto: Alex Silva/ Estadão

"É uma forma de fazer a transição após o fim das coligações. A federação funciona como um partido por toda a legislatura, e tem uma eleição no meio. É preciso que haja muito mais convergências. É diferente de uma coligação meramente eleitoral", afirmou o dirigente do Cidadania.  

A decisão do Congresso — que derrubou o veto do presidente Jair Bolsonaro para impedir as federações — representou uma derrota para o Palácio do Planalto e foi comemorada como especialmente pelo PCdoB. Hoje com 8 deputados, a legenda se empenhou diretamente na articulação política em torno da aprovação original da medida e derrubada do veto. Tradicional coligado do PT, o PCdoB teria enormes dificuldades de superar sozinho a cláusula de desempenho, não à toa chamada também de cláusula de barreira. 

Nos bastidores, as lideranças do PCdoB já discutem qual seria a melhor aliança à esquerda para o partido em 2022: PT, PSB, PDT ou PSOL. 

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As sondagens, por enquanto, foram feitas de maneira informal. "Eu vejo com naturalidade que o PCdoB converse com PSB, PT, PSOL, PDT, Rede e Cidadania", disse o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP). Mas há resistências entre esses partidos. 

"Vamos fazer um estudo sério e ver Estado por Estado se convém ao PSB formar uma federação. Essa é uma decisão séria, já que serão 4 anos juntos — duas eleições de forma verticalizada. É muito complicado", afirmou Carlos Siqueira, presidente do PSB. Ele se diz pessoalmente contra as federações, mas liberou a bancada do partido do Congresso, que votou para derrubar o veto.  

No caso do PSOL, a direção da sigla vai começar esse debate só após a posse da nova direção, no fim do mês, mas os dirigentes dizem que não têm pressa. O partido avalia que tem força suficiente em São Paulo e Rio de Janeiro para superar a cláusula de barreira no ano que vem. Reservadamente, lideranças da legenda dizem que o PSOL tem um perfil diferente e menos pragmático que o PCdoB, mas não descartam a hipótese de formar uma federação com a sigla comunista.  

Criada na reforma eleitoral de 2017, a cláusula de desempenho impede que partidos com menor expressão eleitoral tenham acesso a fundos públicos de financiamento e tempo gratuito de rádio e TV. Ela determina um número mínimo de votos que o partido deve obter nas eleições para deputado federal. Assim, após o fim das coligações, a federação partidária autoriza a soma dos votos obtidos por cada legenda da aliança para superar a barreira, mas essa aliança necessariamente deve durar quatro anos. Procurada, a assessoria da Rede (1 deputado federal) informou que o tema será debatido na próxima reunião do Elo Nacional, como eles chamam a executiva partidária. 

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