Caro leitor,
Uma frase é pronunciada com preocupação na sede do Comando do Exército, em Brasília. Ela traz um exemplo, um caso, uma advertência. “Olha o que aconteceu na Venezuela.”
E o comandante do Exército Edson Leal Pujol é desses que se preocupam com o exemplo que vem do vizinho cheio de petróleo. A realidade daquele País não existe apenas nos relatórios dos órgãos de assessoria do gabinete do comando – O Centro de Inteligência do Exército e o Centro de Comunicação Social da Força.
Pujol, a exemplo de seus colegas generais, sabe o que pensavam os militares venezuelanos, como eram seus treinamentos e seus valores, até porque muitos deles faziam cursos no Brasil nas escolas de aperfeiçoamento e de Estado-Maior do Exército brasileiro antes que o coronel Hugo Chávez chegasse ao poder em 1999. Veja aqui como foi.
O que houve com eles desde então? O que pensam diante da catástrofe humanitária provocada pela crise política e econômica que se aprofunda no País? Muitos são os generais brasileiros que veem na cooptação dos colegas venezuelanos pelo chavismo um alerta.
A um amigo, Pujol disse: ‘Quando Chaves chegou ao poder, seu discurso era o do combate à pobreza e à corrupção’. O governo então passou a interferir nas promoções e a política invadiu os quartéis a tal ponto que faz Pujol descrer de que a solução para a crise no País vizinho venha da cúpula militar por meio do reconhecimento de Juan Guaidó como presidente legítimo do País, a exemplo do que já fizeram mais de 50 países, inclusive o Brasil, como você pode reler aqui.
A contaminação política tomou conta dos altos escalões das Forças Armadas venezuelanas. O mesmo, porém, não teria acontecido com os escalões intermediários. Para Pujol, tenentes e capitães estariam sofrendo as mesmas agruras que o restante da população e poderiam ter uma atuação descolada do governo em um processo semelhante ao que levou à queda do salazarismo em Portugal, com o 25 de abril de 1974. Relembre aqui.
A catástrofe que toma conta da Venezuela reforça no comandante do Exército a convicção de que os generais precisam estar atentos para impedir que a política entre no quartéis, mesmo diante da enorme presença de militares no Ministério de Jair Bolsonaro. Nesta semana, o oitavo general assumiu um assento no primeiro escalão.
Bolsonaro foi ao Comando do Exército assistir à posse de Pujol, seu colega de turma na Academia Militar das Agulhas Negras. Na cerimônia de passagem de comando, o general Eduardo Villas Bôas,que tanto advertira os colegas para os riscos da entrada da política nos quartéis, elogiouBolsonaro, afirmando que ele havia tirado “o País da amarra ideológica que sequestrou o livre pensar” e retirado o Brasil do “pensamento único e nefasto”.
Não se sabe se o que Villas Bôas chamou de pensamento único era o que em política é conhecido como consenso ou o que na visão de mundo de Jair Bolsonaro é classificado como o “politicamente correto”. O fato é que Villas Boâs, que fora nomeado por Dilma Rousseff (PT) e mantido por Michel Temer (MDB), deixou o comando do Exército sem esclarecer se a frase era uma declaração política endereçada aos seu antigos chefes.
Agora, o general ocupa um lugar no Gabinete de Segurança Institucional, dirigido pelo general Augusto Heleno, no Palácio do Planalto. Tornou-se um assessor de um governo, cada vez mais identificado com os militares.
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