PT não se entende sobre jogo do bicho

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Por Agencia Estado
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A um mês do lançamento do programa de segurança pública do pré-candidato do PT à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva, o partido ainda não unificou um discurso sobre a polêmica proposta para reprimir o jogo de bicho no País. Lula prometeu que, se eleito em 2002, poderá legalizar esse tipo de contravenção. Mas essa proposta está longe de ser consenso no PT. "Nós já decidimos que não seremos hipócritas e vamos definir uma política para acabar com a contravenção, mas estamos longe de fechar uma posição sobre o jogo de bicho", reconheceu o petista Chico Alencar, da nova direção nacional do partido, deputado estadual do Rio e candidato a deputado federal. Em meio à crise no PT gaúcho por causa das denúncias envolvendo o governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra (PT), num esquema de favorecimento ao jogo de bicho, responsáveis pelo programa de segurança pública - a ser lançado no dia 10 de dezembro - admitem que o assunto é delicado e, por isso, ainda não sabem como será delineada a proposta. Escalado para ajudar no programa de segurança pública, o ex-procurador-geral de Justiça Antônio Carlos Biscaia é um dos críticos do discurso da legalização do jogo de bicho. "Precisamos debater melhor o tema porque a legalização do bicho é interpretada como se estivéssemos defendendo a anistia aos banqueiros do bicho", disse Biscaia. Filiado ao PT e suplente de deputado federal, ele foi escolhido pelo Instituto Cidadania, entidade encarregada de lançar os programas temáticos que sustentarão a campanha presidencial de Lula, porque é um dos maiores especialistas no combate à contravenção no Rio. Isto porque, na época em que era procurador-geral de Justiça, Biscaia desbaratou a cúpula do jogo de bicho do Rio de Janeiro, operação que levou à cadeia, em 1993, os 14 maiores banqueiros do bicho, entre os quais Castor de Andrade e Capitão Guimarães. Um ano depois, em uma ação ousada da polícia, ele revelou detalhes da chamada lista do bicho, registros contábeis encontrados no escritório da cúpula da contravenção, com nomes de beneficiários do dinheiro ilegal - políticos e delegados. Para Biscaia, Lula pode adotar em seu programa uma outra saída, não menos polêmica: a descriminação do jogo. "A descriminação é algo diferente, porque ela não é entendida como uma anistia aos atuais criminosos", declarou. "O bicho deixaria de ser crime simplesmente e não legalizado", acrescentou. Mesmo assim, Biscaia mantém a proposta do combate à ilegalidade por meio da atuação ofensiva da polícia. "Eu tenho a certeza de uma coisa: não dá para deixar o jogo livre nas ruas, como ocorre atualmente no Rio de Janeiro, porque o esquema está associado ao tráfico de drogas e aos homicídios. E tenho outra convicção: o fim a este tipo de crime será o principal compromisso do Lula."

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