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PT está de olho em eleitores brasileiros no exterior

Por Tania Monteiro
Atualização:

O Partido dos Trabalhadores quer fazer uma intensa campanha para o cadastramento de brasileiros que moram no exterior e, com isso, captar votos para a pré-candidata governista à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff. Os petistas querem que as embaixadas e consulados se mobilizem para convocar os brasileiros que moram no exterior para que comparecerem até o dia 5 de maio às representações pelo mundo a fora e se cadastrem a fim de poderem votar nas eleições de outubro próximo. O PT está de olho nos 4 milhões de brasileiros que moram no exterior. Na última eleição presidencial, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral, apenas 125 mil desses brasileiros compareceram às urnas.A intenção de captar eleitores no exterior consta da política internacional do PT, apresentada ontem aos militantes, que servirá de diretriz para o programa de governo de Dilma Rousseff. Durante a discussão do documento de 28 páginas, em cerca de quatro horas de reunião, não faltaram críticas à política externa do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e ao possível candidato tucano à sucessão de Lula, governador de São Paulo, José Serra, pelo "apoio implícito ao golpismo em Honduras".As políticas dos Estados Unidos e de Israel também foram atacadas e o presidente israelense, Shimon Peres, foi classificado pelo assessor internacional do Planalto, Marco Aurélio Garcia, como "um homem de convicções socialistas absolutamente aguadas".Em um dos inúmeros ataques à imprensa durante a apresentação do documento, Marco Aurélio queixou-se da mídia, sugerindo que ela é tão perigosa quanto a ameaça que representaria a recriação da 4ª Frota norte-americana para atuar no Atlântico Sul. "Hoje em dia, tão importante quanto a 4ª frota são os canais a cabo. Eles têm um processo de dominação muito eficiente no despejo de toda esta quantidade de esterco cultural que não tem sequer a função de criticar alguma coisa", disse ele.Contraofensiva - O texto fala da preocupação com a "contraofensiva da direita latino-americana", que é caracterizada pela ampliação de bases militares na Colômbia, pelo golpe de Estado em Honduras, e pela eleição de Sebastián Piñera, eleito para a presidência do Chile, colocando fim a 20 anos de poder da centro-esquerda naquele país.Depois de citar a necessidade de reforço da integração latino-americana, destaca que deve ser mantida a política de ajuda aos países vizinhos para diminuir as assimetrias econômicas, com realização de investimentos em infraestrutura "a fundo perdido". O texto ressalva que, para que o Brasil possa assumir estes investimentos, "é preciso que exista uma maioria política que perceba as vantagens que o desenvolvimento da América do Sul traz para o desenvolvimento brasileiro".Salienta ainda o documento que "ao mesmo tempo, para que a implementação desta política seja bem recebida pelos países vizinhos, é necessário afastar o temor de que esteja em marcha algum tipo de "subimperialismo brasileiro (temor muitas vezes reforçado pela atitude arrogante e predatória de grandes empresas brasileiras)".Ao falar sobre este tema, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, alertou para a necessidade de atenção aos desequilíbrios comerciais que estão sendo provocados pelas empresas brasileiras nos países vizinhos.União Soviética - No rol de críticas feitas por Marco Aurélio nas suas intervenções durante a apresentação do documento aos petistas, sobrou até para a antiga União Soviética. Marco Aurélio lembrou que nunca foi "simpatizante do regime", que "não tem nada a lamentar" por ele ter acabado, principalmente porque foi "o regime que mais matou comunistas no mundo".Para Marco Aurélio, "embora (a União Soviética) seja uma história cheia de grandezas de resistência ao fascismo, foi uma tentativa de construir uma grande alternativa no mundo, mas ela foi definitivamente manchada pela tragédia que foi o stalinismo". Ressalvando que falava em seu nome pessoal, e não como representante do governo, o assessor presidencial ponderou que o fim da União Soviética "representou algo gravíssimo, o desequilíbrio de forças no equilíbrio internacional".Ele justificou que havia um mundo bipolar, que era de fundamental importância para não permitir a hegemonia econômica, política e militar de um só país, os Estados Unidos. "Esta situação não está totalmente superada, a despeito do declínio do império americano. O grande perigo é que, quando uma força declina e outra não aparece, produzem-se no interior da sociedade os fenômenos mais perversos e o risco de perversidades enormes no plano internacional não pode ser descartado. Às novas gerações, que não viveram a experiência trágica de duas guerras, não podemos descartar a possibilidade de conflitos graves mundiais", completou.No documento, o PT exige o fim da ocupação dos Estados Unidos no Iraque e Afeganistão, defende a criação do Estado Palestino, a luta pela independência de Porto Rico, a constituição de um estado livre e independente para o povo saaraui, a República do Saara Ocidental, e a solução negociada dos conflitos Internacionais. Defende também Cuba e as conquistas sociais da revolução cubana e apoio à reconstrução do Haiti.

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