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PT e PSB deixam discussão sobre programa de governo em 2º plano

Nas negociações por uma federação, siglas deixam de lado debate sobre propostas comuns e se concentram nos interesses eleitorais

Foto do author Luiz Vassallo
Por Gustavo Côrtes e Luiz Vassallo
Atualização:

O PT e potenciais aliados deixaram em segundo plano o debate sobre programa de governo nas negociações para formar uma federação partidária. O novo modelo de aliança, com foco em uma atuação parlamentar conjunta, pressupõe afinidade de propostas. Dirigentes de partidos aliados, contudo, expõem divergências com os petistas que ainda não foram superadas. Na prática, as discordâncias interditaram qualquer discussão programática.

O programa comum é essencial às federações. Uma vez oficializadas, essas alianças terão de durar por pelo menos quatro anos. O período abrange, por exemplo, as eleições municipais de 2024. Legendas e até parlamentares que deixarem suas federações sofrerão sanções, como a perda do acesso ao Fundo Partidário.

Carlos Siqueira, presidente do PSB: 'Podia ser um pouco melhor, mas será sempre desfavorável. Não porque o PT seha ruim, mas porque eles são maiores'. Foto: Dida Sampaio/Estadão

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“Essa parte do programa de governo nós nem sequer começamos a discutir (com o PT)”, disse o presidente do PSB, Carlos Siqueira. Para o dirigente, sem um acordo em torno da federação, “não faria sentido” debater as propostas em comum para o País. “Nós já temos, inclusive, sugestões, mas não queremos adiantar porque não sabemos se realmente vamos chegar lá”, afirmou.

Durante o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva – pré-candidato petista e líder nas pesquisas de intenção de voto –, a formação de uma base de apoio no Congresso desembocou no processo do mensalão, que apurou corrupção e compra de apoio parlamentar e no qual a então cúpula do partido foi condenada.

Nas últimas semanas, as tratativas entre PT e PSB em torno de uma união partidária travaram. Os petistas querem que a assembleia nacional da federação leve em consideração a representação dos partidos no Congresso, o que lhes daria mais cadeiras. Já o PSB propôs que o número de prefeitos seja levado em conta. Esse cálculo daria mais espaço à legenda, já que ela comanda mais prefeituras do que o PT. Não houve acordo.

“Podia ser um pouco melhor, mas, mesmo sendo um pouco, será sempre desfavorável. Não porque o PT seja ruim, mas porque eles são maiores”, admitiu Siqueira. Com o impasse, petistas disseram ao Estadão que a ideia de uma federação está mais distante de se concretizar.

Além do PSB, o PCdoB e o PV debatem uma federação com o PT. O novo modelo de união interessa mais aos partidos menores, pois facilita o cumprimento da chamada cláusula de desempenho. PSB e PCdoB estão mais alinhados com os petistas. Nos últimos anos, o mais distante no campo ideológico tem sido o PV. Além de ter ocupado secretarias tucanas, o partido lançou Eduardo Jorge em 2014 e apoiou Aécio Neves (PSDB) no segundo turno contra a petista Dilma Rousseff. Em 2018, fez chapa com Marina Silva (Rede), que declarou apoio a Fernando Haddad (PT) contra Jair Bolsonaro no segundo turno com um “voto crítico”.

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O presidente do PV, Luiz Penna, afirmou que em primeiro plano estão mesmo as alianças. Sua reunião com petistas, no dia 11 último, foi para debater as eleições no Rio Grande do Sul, onde PCdoB, PSB, e PT mantêm firmes seus candidatos ao governo. “E na federação só pode um. Estamos trabalhando para ver o que a gente consegue juntar, distribuir”.

A respeito de um eventual plano de governo, o PV mantém conversas mais superficiais com dirigentes petistas, como a presidente do partido, deputada Gleisi Hoffmann. “Hoje, eles nos compreendem melhor”. Penna, no entanto, reconheceu que os partidos “não são iguais”. “Você conhece a história do PV, como é nossa maneira de ver, mas, neste momento, a gente está aderindo a uma candidatura que pode ganhar, não por oportunismo, mas por visão política de que não podemos continuar com isso que está aí."

Penna pregou que o debate deixe o ambiente intrapartidário. “Temos de chamar a sociedade de maneira geral, o empresário, o bancário.” Falar com o povo e propor uma grande união para recuperarmos inclusive a confiança entre nós.”

'REVOGAÇO' DO PSOL

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Fora do cenário das federações, o PT recebeu do PSOL uma sugestão para o programa de governo com 12 itens. O PSOL tem discutido uma federação com a Rede, de Marina, que ainda não aceitou nem conversar com Lula. Alinhado às discussões antirreformistas do PT, o PSOL apresentou como prioridade as revogações da reformas trabalhista e previdenciária, e do teto de gastos. Também propõe um enfrentamento mais duro à crise climática e ao desmatamento na Amazônia e uma reforma tributária que proponha a taxação de grandes fortunas.

No PT, temas que provocaram polêmica em eleições passadas continuam presentes no debate interno. Um documento da Fundação Perseu Abramo, elaborado em 2020, voltou a propor a “(re)constitucionalização do País”. Em 2018, Haddad retirou esse ponto de seu programa. Também há menções à regulamentação dos meios de comunicação. Lula voltou a falar em “regular” a imprensa e as TVs.

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