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PT e governo 'lavam as mãos' sobre destino de Delcídio

Com o argumento de que senador agiu em 'caráter pessoal', petistas rifam senador para que crise causada por sua prisão não respingue na presidente

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Por Vera Rosa
Atualização:
Senador Delcídio Amaral (PT-MS) Foto: UESLEI MARCELINO

Brasília - O Palácio do Planalto e a cúpula do PT decidiram lavar as mãos sobre o destino do senador Delcídio Amaral (MS) e abandoná-lo à própria sorte para que a nova crise não prejudique ainda mais a presidente Dilma Rousseff. Até ser preso pela Polícia Federal, na manhã desta quarta-feira, Delcídio era líder do governo no Senado. O escândalo deixou o núcleo político do Planalto em estado de alerta.

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Logo que soube da prisão de Delcídio, Dilma convocou uma reunião com ministros. A avaliação ali foi a de que o episódio envolvendo o líder do governo agravou a situação política, tendo potencial para fragilizar ainda mais a presidente. Para que a crise não colasse em Dilma, porém, o Planalto resolveu rifar Delcídio.

Ao longo do dia, ministros disseram que as ações do senador foram feitas em “caráter pessoal”, não tendo qualquer vinculação com o Executivo.

“O governo foi surpreendido pelos fatos ensejados pela ação do Supremo Tribunal Federal”, afirmou ao Estado o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. “Nossa posição é muito clara, na linha de que a Justiça deve seguir o seu curso normal e que as investigações devem ser feitas, em profundidade, sobre todos os aspectos envolvidos na questão”.

Cardozo disse ter sido informado sobre a operação que a Polícia Federal realizaria somente por volta das 6h30 desta segunda-feira. “Fui avisado pelo diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello, logo de manhã e comuniquei a presidenta Dilma”, contou o ministro. Questionado sobre as consequências da prisão de Delcídio para o governo, Cardozo procurou desvincular os fatos.

“Não vejo impacto maior sobre o governo, uma vez que os fatos relatados não derivam de ação do governo ou por ele solicitado”, disse Cardozo. Em conversas reservadas, porém, auxiliares de Dilma ponderaram que a estratégia foi adotada para blindar a presidente. Não sem motivo: além de ver a investigação da Operação Lava Jato avançando sobre o Planalto, a prisão de Delcídio ressuscitou o escândalo da compra da refinaria de Pasadena, em 2006, quando Dilma era ministra-chefe da Casa Civil.

A refinaria foi comprada por preço superfaturado e Dilma depois afirmou que autorizou o negócio com base em um relatório produzido por Nestor Cerveró, então diretor da área internacional da Petrobrás. De acordo com a presidente, ela constatou depois que o relatório tinha falhas.

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O presidente do PT, Rui Falcão, disse estar “perplexo” com os fatos que ensejaram a decisão do Supremo Tribunal Federal de ordenar a prisão de Delcídio. “Nenhuma das tratativas atribuídas ao senador tem qualquer relação com sua atividade partidária, seja como parlamentar ou como simples filiado”, escreveu Falcão em nota. “Por isso mesmo, o PT não se julga obrigado a qualquer gesto de solidariedade.”