PT defende renúncia de Vargas, que resiste

Deputado ligado a doleiro chegou a anunciar que abandonaria o cargo, mas acabou desistindo; ele deixou apenas a vice-presidência da Câmara

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Por Erich Decat e Ricardo Galhardo
Atualização:

Brasília e São Paulo - (atualizado às 22h42) O recuo do deputado licenciado André Vargas (PR) de renunciar ao mandato causou constrangimento à cúpula do PT e levou a lideranças da legenda a defenderem publicamente que o correligionário deixe a Câmara. Contrariada, a direção partidária avisou Vargas que, se ele não renunciar até terça-feira, 22, terá de enfrentar a Comissão de Ética da legenda. Ele já é alvo de processo no Conselho de Ética da Câmara.

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Na segunda-feira, 14, Vargas disse à direção petista e em entrevistas que iria deixar o mandato, mas optou por comunicar oficialmente apenas a renúncia à vice-presidência da Casa. Ao contrário dos dias anteriores, em que recorreu às redes sociais, mensagens de texto e notas para dar declarações em sua defesa, nesta quarta, 16, o petista optou pelo silêncio.

Em conversas com colegas de bancada, o deputado justificou a mudança de posição alegando que a renúncia não teria efeito prático sobre sua situação, já que o processo no Conselho de Ética foi protocolado e, portanto, seus efeitos são irreversíveis.

As idas e vindas de Vargas passaram a ser alvo de crítica do próprio presidente nacional do PT, Rui Falcão. "Acho que ele já deveria ter renunciado", disse o dirigente ao Estado. Falcão ressaltou que a renúncia seria uma decisão pessoal e nem ele nem o partido poderiam obrigar o deputado a tomar tal medida. A ressalva, no entanto, veio seguida da seguinte afirmação: "Mas seria bom para ele se o fizesse. E agora".

Na segunda passada os três integrantes de uma comissão criada pela executiva nacional do PT para ouvir Vargas entregaram um parecer a Falcão recomendando a investigação pela Comissão de Ética, que pode até recomendar a expulsão de Vargas do partido. A saída oferecida é a renúncia ao mandato.

‘Sangria’. Em sintonia com Falcão, o líder do PT na Câmara, Vicentinho (PT-SP), passou a pressionar Vargas abertamente. "Nossa expectativa é que ele renuncie ao mandato. Esperamos isso até para ele não ficar sangrando permanentemente", defendeu. "Mesmo respeitando a sua intimidade, a sua dor, a sua dificuldade, acredito que é chegada a hora da renuncia ao mandato."

O ex-líder do partido na Câmara Fernando Ferro (PE) também não poupou o "companheiro" e considerou a permanência de Vargas um "constrangimento" para a bancada. "É uma situação constrangedora. Esperávamos que tivesse outro encaminhamento", afirmou Ferro.

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As declarações públicas dos dirigentes do PT revelam o que antes era discutido nos bastidores da legenda e tornam explícita a disputa entre a cúpula partidária e a ala majoritária da bancada petista na Câmara rebelada contra o Planalto, da qual Vargas é um dos líderes.

Segundo aliados de Vargas, a tendência é que o deputado permaneça no cargo pelo menos até a próxima sessão do colegiado da Câmara, prevista para terça-feira. "Ele consultou os advogados e decidiu que vai se defender. Acho que vai aguardar até o dia 22", disse o deputado José Mentor (PT-SP).

Na ocasião, integrantes do conselho devem votar a admissibilidade do processo disciplinar contra o paranaense. Até lá, o presidente da Casa, Henrique Alves (PMDB-RN), estará de volta de uma viagem à China. Caso o parecer pelo prosseguimento da ação seja derrubado pela maioria do integrantes da comissão, o caso deve ser arquivado, sem a necessidade da elaboração de um relatório final.

O presidente do conselho, Ricardo Izar (PSD-SP), não esconde o temor de alguma manobra por parte de aliados do paranaense. "Na pior das hipóteses vai ser apresentado um pedido de vista para ganhar mais uma semana", avaliou Izar. O deputado também não descarta a possibilidade de o petista recorrer a outras instâncias para tentar impedir o andamento do processo na Câmara.

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