PT aumenta mais uma vez teto dos gastos

Comitê da presidente decide elevar limite a quase R$ 400 milhões; valor é duas vezes maior que o de quatro anos atrás

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Por Ricardo Galhardo
Atualização:

O comitê da presidente Dilma Rousseff decidiu aumentar pela segunda vez o teto de gastos da campanha pela reeleição. Inicialmente, em julho, o partido declarou à Justiça Eleitoral que esperava gastar R$ 298 milhões. Elevou o teto para R$ 338 milhões em outubro e agora chegou a R$ 383 milhões. O valor representa quase o dobro dos R$ 219 milhões gastos para eleger Dilma em 2010. Os principais adversários da presidente, Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB), estipularam tetos de R$ 290 milhões e R$ 150 milhões respectivamente. O objetivo da manobra é incluir na prestação de contas de Dilma gastos feitos por candidatos a governador com material no qual a candidata à reeleição também aparecia. “São as chamadas doações estimadas. Todas as despesas feitas nas campanhas estaduais com material que incluía Dilma têm de ser lançadas como doações estimadas (em espécie) à campanha presidencial”, disse o coordenador financeiro petista, Edinho Silva. Segundo ele, a nova elevação do teto de gastos, cuja declaração é uma exigência da Justiça Eleitoral, é uma precaução. “Vamos ficar dentro do primeiro teto fixado junto à Justiça Eleitoral (R$ 298 milhões), mas, por receio, decidimos aumentar. É melhor ter do que não ter”, disse ele.Dívidas. O prazo para entrega das prestações de contas das campanhas ao Tribunal Superior Eleitoral termina dia 4 de novembro. Internamente o PT se preocupa com as dívidas de campanhas estaduais que tiveram desempenho aquém do esperado pelo partido. São os casos de Alexandre Padilha em São Paulo, Lindbergh Farias no Rio de Janeiro e Gleisi Hoffmann no Paraná. O caso mais preocupante é o de Padilha, que ficou em terceiro lugar na disputa estadual e deve deixar uma dívida de aproximadamente R$ 30 milhões. Segundo a coordenação da campanha do ex-ministro da Saúde, a dívida será repassada para o diretório estadual do PT de São Paulo, que, por sua vez, terá a obrigação de renegocias os valores e prazos com fornecedores e captar recursos. A prioridade é pagar os funcionários da campanha. Ajuda nacional. Alguns dirigentes estaduais afirmam, em conversas reservadas, que a direção nacional tem de assumir parte das dívidas nos Estados. O assunto deve ser tema de discussão na reunião da executiva nacional do PT marcada para segunda-feira, na qual o partido fará o primeiro balanço do resultado das eleições. Além disso, candidatos a cargos proporcionais, cuja disputa acabou no 1.º turno, foram convocados pela direção nacional do PT a manter em funcionamento suas estruturas de comitês e cabos eleitorais pagos para alavancar a candidatura de Dilma no 2.º turno. O comitê presidencial deve arcar com essas despesas. Em São Paulo, por exemplo, dirigentes estimam que o número de cabos eleitorais pagos pelo PT no 2.º turno dobrou em relação ao 1.º turno. Eles eram contratados por valores que iam de R$ 30 por dia a R$ 500 pelas três semanas de campanha na segunda rodada das eleições, mais refeições. Embora não negue a existência de pedidos de ajuda financeira vindos dos Estados, o tesoureiro de Dilma negou que a campanha presidencial vá assumir dívidas dos candidatos a governador. “Quem assume são os diretórios estaduais. Depois, se o PT nacional decidir ajudar, é outra história. A campanha da Dilma não pode arcar com isso”, disse ele. Lava Jato. Outro fator complicador é o envolvimento do nome do secretário nacional de Finanças do PT, João Vaccari Neto, nas denúncias de desvios na Petrobrás investigadas pela operação Lava Jato da Polícia Federal. Vaccari nega enfaticamente ter tido qualquer relação com o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa. Na última reunião da executiva petista, realizada no dia 20 de outubro, ele chegou a ser cobrado por outros dirigentes e teve de se explicar dizendo que “nunca operou” com Costa.Quarentena. No entanto, apesar das alegações de inocência, Vaccari vive uma espécie de quarentena. Enquanto o caso não esfriar, o tesoureiro do PT está impedido de circular entre empresários que normalmente contribuem com quantias milionárias para o partido. Segundo dirigentes do partido, isso já tem afetado o funcionamento do PT. Passadas as eleições, parte da equipe que compunha a Agência PT de Notícias, uma central de informações criada para funcionar além dos períodos de disputa eleitoral, foi dispensada.

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