PT ainda paga dívida de Delúbio

Do rombo de R$ 43 milhões, quase R$ 28 milhões foram deixados pelo ex-tesoureiro, que tenta voltar ao partido

Por Clarissa Oliveira
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Enquanto o ex-tesoureiro Delúbio Soares articula seu retorno ao PT, o partido ainda se esforça para tapar o buraco que restou em suas contas após a passagem dele pela Secretaria de Finanças. Decorridos quase quatro anos do escândalo do mensalão, o Diretório Nacional do PT ainda está às voltas com uma dívida de R$ 43 milhões. Desse total, pelo menos R$ 28 milhões foram herdados da gestão Delúbio. A metade dessa herança do ex-secretário se refere a empréstimos contraídos no Banco Rural e no BMG. Os outros R$ 14 milhões são de uma dívida com a Coteminas, relativa à compra de camisetas para a campanha eleitoral de 2004. O problema já foi maior. Em 2005, a dívida do PT superava R$ 50 milhões. De lá para cá, o partido quitou parte das dívidas, entre elas um leasing com o Banco do Brasil, para a compra de computadores. Apesar da redução, o rombo ainda é exageradamente grande, admite o sucessor de Delúbio na secretaria, Paulo Ferreira. "O partido ainda gasta além da conta", reclama o tesoureiro. Ele conta que, na tentativa de equilibrar as contas, tem tomada "antipáticas", que vão da limitação de viagens à redução do número de eventos partidários. "Sem uma contenção de gastos profunda, o PT não sai do endividamento no próximo período." Ferreira ressalta que a saúde financeira do PT já é melhor que a de 2005: "O partido tem hoje uma situação funcional ajustada." Ainda de acordo com suas explicações, a dívida foi inteiramente renegociada e o partido só gasta o que pode pagar. Isso não significa que gaste pouco. Só no encontro do Fórum Social Mundial, realizado neste ano, em Belém, desembolsou R$ 1 milhão. Ferreira também reconhece que aumentou para R$ 11 mil o salário de dirigentes nacionais que não têm mandato. O presidente Ricardo Berzoini (SP), por ser deputado, não recebe remuneração do partido. "É uma questão de valorizar a responsabilidade dos cargos", diz Ferreira. BURACO SEM FIM Apesar das medidas para reduzir gastos, o fato é que a dívida da sigla se reconstitui ano a ano. Hoje, além dos empréstimos bancários e do valor devido à Coteminas, a dívida do Diretório Nacional inclui o buraco deixado pela campanha pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006. Inicialmente, eram aproximadamente R$ 10 milhões negativos. Hoje são R$ 6,5 milhões. Na eleição do ano passado, o PT nacional deixou de assumir débitos dos diretórios regionais, o que amenizou o problema. Mas a sigla ajudou com o fornecimento de material institucional, como 10 milhões de adesivos com o slogan "Lula é PT". Com isso, a dívida teve um salto de $ 4,5 milhões - valor já reduzido para R$ 2 milhões. Os demais R$ 6,5 milhões que completam a dívida de R$ 43 milhões se referem a encargos sociais e débitos diversos. Em 2007, o PT chegou a se animar com um plano para cobrir parte do rombo: decidiu cobrar os filiados ocupantes de cargos públicos que não estavam em dia com o pagamento do dízimo previsto no estatuto da sigla. A estratégia surtiu efeito e a arrecadação com contribuições superou R$ 500 mil ao mês. Mas não demorou para que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ao analisar consulta do DEM, proibisse a cobrança no caso de ocupantes de cargos de confiança. "Nos custou R$ 250 mil por mês", reclama Ferreira.

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