PSDB tentará diminuir relevância de Lula, diz Lavareda

Por Ana Conceição
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Para fazer frente à comparação de governos nas próximas eleições, como quer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PSDB mostra que deve levar o pleito para o embate entre os currículos do ex-governador José Serra e da ex-ministra Dilma Rousseff. Para isso, os tucanos tentarão despolitizar e "despartidarizar" a disputa para diminuir a relevância do presidente e de seus oito anos de governo, afirmou hoje o cientista político e especialista em estratégias eleitorais, Antonio Lavareda. "O confronto PT versus PSDB é perdido", afirmou ele, durante um seminário "Eleições e Emoções", na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. "Os tucanos querem esvaziar o protagonismo do presidente e fazer da eleição a disputa pelo melhor currículo."Lavareda identifica no discurso recente do pré-candidato José Serra a tentativa de colocar no mesmo patamar todos os governos desde a redemocratização, em 1984. "Isso começa com Tancredo Neves, passa por José Sarney, continua com Fernando Collor, vai a Itamar Franco, FHC e chega a Lula. Todos eles, a despeito de terem pertencido a partidos políticos diferentes, estão sendo de certa forma homogeneizados no discurso do pré-candidato. A função básica disso é diluir a relevância do governo petista", afirmou.Para o cientista político, que vai assessorar oito campanhas pelo País neste ano, a campanha tucana vai bater com insistência na tecla de Serra ter disputado seis eleições, contra nenhuma da ex-ministra. "O discurso dele é de que a diferença não está na política, mas na trajetória dos candidatos", acredita Lavareda.A estratégia pode ser eficiente, em sua avaliação, porque 80% dos brasileiros consideram política algo desagradável, distante e que não entusiasma. Na outra ponta, a pré-campanha de Dilma segue na direção de associar as conquistas do País aos dois mandatos do governo Lula e do PT à frente do governo. "É neste sentido que a campanha do Serra vai fazer o confronto de biografias. Ele precisa despolitizar a representação na mente das pessoas desse passado político do PT/Lula".EmoçõesPesquisador do papel das emoções nas campanhas - ele lançou recentemente o livro "Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais" -, Lavareda disse que ainda é cedo para saber se a campanha deste ano será mais para o lado das emoções positivas, como o orgulho, ou negativas, como o medo. Para ele, são esses sentimentos, que influenciam a percepção do eleitor a respeito de seu próprio bem-estar, que definem um pleito.Lavareda prevê que, no lado das emoções positivas, os pontos que a campanha de Dilma pode trabalhar, nesta ordem, é o orgulho (realizações do governo Lula), compaixão (políticas de inclusão social e de distribuição de renda) e entusiasmo (resolução de novos problemas). Na oposição, a campanha serrista poderá explorar o entusiasmo (o slogan ''O Brasil pode mais'' mostra isso), orgulho (realizações de Serra no executivo e como ministro da Saúde) e compaixão.Nas emoções negativas, Dilma deve explorar a aversão ao segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, o medo de a oposição acabar com os programas sociais e a estabilidade política, neste caso, explorando a polêmica da autonomia do Banco Central. A equipe de Serra também deve explorar o medo de Dilma ser diferente de Lula, uma incógnita. Qual a dose de exploração dessas emoções na campanha, só o tempo vai dizer, disse o especialista.

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