PSDB refaz aliança com PT para reeleger Cauê Macris na Assembleia

Deputados elegem nesta sexta-feira, 15, a Mesa Diretora da Alesp; PSL, PSOL e Novo também concorrem à presidência

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Por Fabio Leite e Pedro Venceslau
Atualização:

O PSDB reeditou uma aliança histórica com o PT na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) para manter a hegemonia na Casa e reeleger nesta sexta-feira, 15, o deputado tucano Cauê Macris para mais dois anos à frente do Parlamento paulista. A eleição será com voto aberto, logo após a posse dos 94 deputados estaduais eleitos em 2018.

Nos últimos 24 anos, período em que os tucanos governam o Estado, o partido só não comandou a Assembleia no biênio 2005/2007, quando o atual vice-governador, Rodrigo Garcia (DEM), então no PFL, derrotou o tucano Edson Aparecido, também com apoio do PT, por dois votos de diferença. De lá para cá, o PSDB sempre conquistou a presidência com folga, compondo com os petistas na primeira secretaria e o DEM na segunda – os três principais cargos na Mesa Diretora.

Os deputados estaduaisCauê Macris (PSDB) e Janaina Paschoal (PSL), que concorrem à presidência da Assembleia Legislativa de São Paulo Foto: AMANDA PEROBELLI E SÉRGIO CASTRO/ESTADÃO

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A novidade nesta legislatura é o surgimento de uma nova força política na Casa, o PSL. O partido do presidente Jair Bolsonaro elegeu 15 parlamentares e lançou a deputada Janaina Paschoal, mais votada nas urnas, com 2 milhões de votos, na disputa contra Cauê. Os outros dois postulantes ao cargo também são novatos no Parlamento, mas com bancadas bem menores. Daniel José (Novo) e Mônica Seixas (PSOL), cada um com quatro deputados.

Desde que se colocou como candidata ao cargo, em meados de fevereiro, Janaina só repeliu seus pares com um discurso contundente e uma pressão externa. A defesa de que é preciso “abrir a Assembleia”, que hoje concentra as decisões no colégio de líderes a portas fechadas, e as mensagens agressivas que seus apoiadores nas redes sociais mandaram aos deputados pressionando por apoio a ela, isolaram o PSL.

Até o Novo, que empunha a mesma bandeira da “nova política”, preteriu a advogada, que se notabilizou como autora do pedido de impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, para ter candidatura própria. “A gente conversou com a Janaina, mas percebeu que ela não tinha viabilidade porque a postura que adotou criou uma rejeição muito grande na Assembleia”, disse Daniel José.

Janaina, que conta com apoio declarado apenas dos seus 14 colegas de bancada e do deputado Arthur Mamãe Falei (DEM), nega que tenha estimulado os ataques. “Não compactuo com nenhum tipo de agressão, inclusive tenho pedido publicamente para que isso não aconteça. Desconfio que tem gente fazendo certos tipos de ataques para me prejudicar”, disse.

Posto. A bancada do PSL, porém, não poupou críticas ao presidente Cauê e cobrou investigações sobre as doações de mais de R$ 100 mil que ele recebeu de assessores da Casa e de fiscais da Receita estadual, e pelo uso de seu posto de gasolina para compensar R$ 881 mil em cheques emitidos pela campanha dele e do pai, o deputado federal Vanderlei Macris (PSDB). O caso foi revelado pelo Estado. Ambos disseram que fizeram isso para “facilitar o pagamento de cabos eleitorais”.

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Nesta quinta-feira, 14, o líder do PSL, Gil Diniz, entrou com um mandado de segurança na Justiça para tentar impedir a candidatura de Cauê, alegando que a Constituição do Estado e o regimento interno da Assembleia proíbem a “recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente” no Legislativo. O desembargador Antonio Celso Aguilar Cortez, porém, indeferiu o pedido, afirmando a restrição não está expressa no caso de um novo mandato e que o entendimento do Poder Legislativo é de que a proibição só se aplica na mesma legislatura.

“Depois do denuncismo agora estão apelando para a técnica do tapetão. Estamos tranquilos que isso não vai prosperar. Eleição se ganha no voto”, criticou Cauê, que recebeu amplo apoio de seus pares nas últimas semanas. Aliados dizem que o candidato apoiado pelo governador João Doria (PSDB) deve ter cerca de 70 votos, incluindo os oito do PSB, partido do ex-governador Márcio França, adversário na eleição estadual.

Apesar do favoritismo do PSDB na Casa, o governo Doria não deve ter uma base tão ampla quanto seus antecessores tucanos e terá de negociar com a Assembleia mais fragmentada da história, com 24 partidos. Aliados de Cauê, PT e PSB devem ir para oposição ou ficar neutro.

3 PERGUNTAS PARA...

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Cauê Macris, deputado estadual (PSDB) e presidente da Alesp

1. O acordo feito com o PT na disputa da mesa diretora da Assembleia é criticado por sua adversária. Qual o motivo dessa composição, que se repete há tantos anos? Não é possível matematicamente que um único partido eleja o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo. Mesmo que fosse, não seria democrático.

2. Como avalia o impacto em sua campanha das notícias sobre a suspeitas de uso de uma empresa para compensar mais de R$ 800 mil em cheques da campanha?  Todas informações foram públicas e transparentes. Nossa conta eleitoral foi analisada pelo Ministério Público Eleitoral e aprovada pela Justiça Eleitoral. 

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3. Deputados têm se queixado de mensagens agressivas de apoiadores da sua adversária, na internet. Como o sr. avalia esse tipo de pressão externa que vem sendo feito sobre o Parlamento? Cada um tem uma forma de fazer política. Não vou entrar no mérito. Para nossa candidatura procurei cada um dos deputados estaduais. / F.L. e P.V.

Janaina Paschoal, deputada estadual (PSL)  

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1. A sra. tem defendido ‘abrir’ a Assembleia. O que isso significa e como fará? Só percebi que tudo é decidido no Colégio de Líderes, a portas fechadas, depois de eleita, quando comecei acompanhar os trabalhos na Casa e vi que o projeto já vai praticamente aprovado ao plenário. Por isso nunca tem ninguém no plenário. Na condição de presidente, vou levar os projetos para serem discutidos no plenário, com transparência.

2. Por que não conseguiu apoio à sua candidatura fora da bancada? Acredito que meu perfil independente, embora conciliador, mas que não faz trocas, a minha formação jurídica, o fato de eu ter feito processo de impeachment e até mesmo os 2 milhões de votos assustem um pouco meus pares.

3. A sra. tem cobrado investigações sobre a campanha do Cauê Macris. E as suspeitas envolvendo o PSL?  Defendo que toda suspeita de irregularidade seja apurada, seja do PT, PSDB ou PSL. A minha postura é a mesma diante de fatos idênticos ou equiparáveis. / F.L. e P.V.