BRASÍLIA - O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) apareceu de surpresa na reunião do Conselho de Ética na manhã desta quinta-feira, 12, que define o relator do processo de quebra de decoro parlamentar contra ele, pela denúncia de envolvimento com o empresário do ramo de jogos ilegais Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Assim que foi aberta a sessão, o senador pediu a palavra para dizer que provará sua "inocência" durante o processo, mas pediu respeito ao regimento da Casa.
Demóstenes alegou que a escolha do presidente da comissão, senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), poderia ser questionada como irregular porque não houve, segundo o parlamentar, eleição em sessão secreta para o cargo. O senador goiano, porém, disse que não alegará qualquer nulidade do processo.
"Pode parecer uma filigrana", afirmou. "Eu quero provar a minha inocência é no mérito, até agora não tive a oportunidade de me defender. Provarei que sou inocente", afirmou.
Eleito nessa terça-feira, 10, para a presidência do Conselho de Ética, Valadares foi escolhido por ser o senador mais antigo do colegiado. Tem 69 anos, completos na última sexta-feira. Mas, segundo Demóstenes, ele só poderia permanecer "interinamente" no cargo, apenas para presidir, em até cinco dias, a eleição do presidente. O prazo, observou, venceria na próxima terça-feira, 17.
"O titular mais idoso somente assume a presidência interinamente para presidir a sessão de eleição da presidência", afirmou. "Neste caso, não há outra alternativa a não ser a eleição para presidente", disse o senador goiano, dizendo que o próprio Valadares poderia, sim, ser o presidente eleito para conduzir seu processo de quebra de decoro.
Demóstenes informou que deixaria em seguida a reunião para não constranger a comissão, e que se considerava notificado desde essa quarta, 11, do prazo para responder à representação do PSOL. Ele considerou adequado ter os 10 dias para fazer sua defesa, inicialmente por escrito, e depois diretamente aos integrantes do conselho, respondendo a perguntas.
No momento em que Demóstenes deixava a sala, o presidente do conselho pediu que ele ficasse para ouvi-lo. Valadares disse que sua escolha está amparada legalmente, diante da dificuldade do PMDB, partido a quem caberia a indicação, encontrar um nome. "Todos os atos praticados por mim foram inteiramente observando os tramites constitucionais e legais", afirmou.
Demóstenes deixou a sala em seguida, sem falar com a imprensa. No momento, os senadores do conselho discutem se devem ou não eleger o presidente do conselho. O líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), disse que apoia a continuidade de Valadares no cargo.