Protestos marcam abertura de conferência sobre aids

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Por Agencia Estado
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A 15ª Conferência Internacional sobre Aids começou hoje sob protesto. Antes mesmo da abertura oficial, cerca de mil manifestantes ocuparam parte da área externa, onde acontece o encontro para pedir acesso universal a medicamentos - uma política iniciada pelo Brasil e hoje aceita por todos como essencial, mas ainda longe da realidade na maioria dos países em desenvolvimento. Apesar do tema da conferência deste ano - Acesso para Todos - a maior parte dos países em desenvolvimento não consegue tratar seus doentes. Hoje, seis milhões de pessoas no mundo deveriam receber drogas anti-retrovirais. Apenas pouco mais de 500 mil a recebem, incluindo os mais de 100 mil em tratamento no Brasil por conta do governo brasileiro. "Avanços foram feitos. Mas ainda não estamos nem próximos de fazer o suficiente. Mais importante, não estamos nem mesmo no caminho de começar a reduzir a escala e o impacto da epidemia até 2005, como prometemos", cobrou o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, durante a cerimônia de abertura da Conferência. Mesmo o programa da Organização Mundial da Saúde (OMS), que deveria colocar três milhões de pessoas em tratamento até 2005, está longe de funcionar. Menos de um ano da meta, apenas 440 mil doentes estão sendo tratados. De acordo com dados do programa das Nações Unidas para Aids, o gasto total dos países em desenvolvimento hoje com Aids é de US$ 5 bilhões. No entanto, para controlar o avanço da doença seriam necessários US$ 12 bilhões no próximo ano e cerca de US$ 20 bilhões em 2006. No seu discurso de abertura, Annan cobrou mais liderança e envolvimento de líderes governamentais. Segundo ele, não apenas os ministros da saúde, mas da fazenda, defesa e educação devem se envolver. "Aids é muito mais do que uma crise de saúde. É uma ameaça ao desenvolvimento. Não podemos mais ter cabeças escondidas na areia, vergonhas ou aqueles que se escondem atrás de um véu de apatia", disse. A meta da conferência deste ano é, mais uma vez, levantar o tema do tratamento gratuito para todos. Há quatro anos, no encontro de Durban (África do Sul), a posição brasileira, de garantir o acesso universal, foi criticada em todos os níveis, incluindo a Organização Mundial de Saúde e as Nações Unidas. A posição mundial era de que países pobres deveriam investir em prevenção, não em tratamento, porque pessoas pobres teriam maior tendência a abandonar os medicamentos e, conseqüentemente, criar resistência aos remédios existentes. Dois anos depois, na Conferência de Barcelona (Espanha), a posição brasileira virou tema central da discussão sobre a doença, adotada pelo Banco Mundial e as Nações Unidas. No entanto, ainda faltam recursos para garantir aos países mais pobres - especialmente na África, onde se concentra o maior número de casos - o tratamento universal.

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