A organização das manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro já provoca ao menos uma consequência política fortemente negativa para o governo e, dependendo da extensão dos atos, que será medida pelo fluxo de pessoas, pode suscitar um segundo efeito nocivo que é ampliar as dificuldades de suas relações com o Congresso Nacional.
A primeira consequência já sentida é que há uma diferença significativa em relação a atos anteriores. Este, junta num mesmo espaço e com o mesmo objetivo, organizações partidárias distintas como o PT, o PSOL e o Novo, o PSDB e o PSL, bem como lideranças de partidos como o DEM, o MDB e o Podemos. Essa amplitude é reveladora da dificuldade que Jair Bolsonaro, ainda sem filiação partidária, terá para viabilizar a sua reeleição. Mais de 20 partidos já confirmaram presença nesses atos contra o seu governo. Sua margem de manobra nesse momento restringe-se, em termos de partidos importantes, ao PP e ao PTB, se consideramos a pouca importância política de legendas governistas como o PRTB e o Patriota.
Por fim, do tamanho dos atos é que se poderá saber se o governo ainda contará por muito tempo com um Centrão vigoroso a ponto de o grupo continuar sendo principal obstáculo a tramitação de um dos pedidos de impeachment. Mais do que isso, se os atos forem massivos e bem-sucedidos, os parlamentares do Centrão, que sabem que precisam ser reeleitos para continuarem no mercado político, vão rapidamente buscar abrigo em outras candidaturas já que falta apenas um ano da eleição. Todavia, o contrário é verdadeiro, se as manifestações mobilizarem poucas pessoas, o bolsonarismo ganhará fôlego novamente.
*CIENTISTA POLÍTICO E PROFESSOR DO DEPARTAMENTO DE GESTÃO PÚBLICA DA FGV EAEP ONDE COORDENA O MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS