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Propina em usina no Rio Madeira foi de R$ 80 mi

Agentes políticos de PT, PMDB, PP e PSDB receberam da Odebrecht e da Andrade

Por Josette Goulart
Atualização:

A Odebrecht e a Andrade Gutierrez pagaram cerca de R$ 80 milhões em propinas a diferentes políticos em torno do projeto da Usina de Santo Antônio, no Rio Madeira, em Rondônia. Esta é uma das obras mais citadas nos inquéritos autorizados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) com base nas delações da Odebrecht.

Usina de Santo Antônio foi construída no Rio Madeira, em Rondônia Foto: Paulo Vitale / Divulgação

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Apesar de ser um empreendimento encampado pelo governo do PT, a maior parte dos pagamentos foi feita a políticos do PMDB, PSDB e PP. As acusações citam o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – condenado e preso em Curitiba –, os senadores Aécio Neves (PSDB-MG), Edison Lobão (PMDB-MA), Ivo Cassol (PP-RO), Romero Jucá (PMDB-RR) e Valdir Raupp (PMDB-RO), além de Sandro Mabel, assessor especial do presidente Michel Temer.

A usina foi o primeiro grande projeto da Odebrecht como investidora no setor de energia, em meados dos anos 2000. As pretensões da empresa na época era a de se tornar a maior geradora do País. O modelo de negócio seria o de competir agressivamente nos leilões do governo federal e fazer a obra depois, como fornecedora, onde teria sua maior margem de lucro. 

O primeiro tropeço, porém, foi justamente no projeto do Madeira. Além da Usina de Santo Antônio, o governo licitou Jirau, poucos quilômetros distante. Juntas as duas usinas tinham ganhos extraordinários de eficiência na produção de energia.

O leilão de Jirau, contudo, se transformou em uma guerra declarada. O governo Dilma Rousseff teria apoiado outro consórcio, liderado pelo grupo Suez, que ganhou a licitação. Nos relatos dos delatores, a perda de Jirau foi lembrada e até virou uma petição que foi enviada à Procuradoria da República no Paraná. Mas são os pagamentos de propinas a políticos o que mais chama a atenção nas delações – são oito inquéritos no STF contra políticos em função desses pagamentos.

Influência. De acordo com os inquéritos, parte da propina foi paga a políticos que tinham influência sobre Furnas, que durante muito tempo foi comandada politicamente por Cunha. Furnas é a principal sócia de Santo Antônio (40% da sociedade).

Os inquéritos derivados da delação da Odebrecht revelam ainda que Aécio tinha atuação em Furnas, com forte presença em Minas. Além disso, Aécio comandava a Cemig, também sócia de Santo Antônio, quando era o governador de Minas. Para o projeto do Madeira, ele recebeu parcelas de R$ 1 milhão a R$ 2 milhões, segundo delatores.

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Pelos relatos, Cunha recebeu R$ 20 milhões. Outros R$ 30 milhões foram divididos igualmente entre o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), o senador Romero Jucá (PMDB-RR) e Sandro Mabel, ex-deputado do PMDB, segundo os delatores. Eles acusam Lobão de ter recebido R$ 5,5 milhões, com o objetivo de intervir no governo no caso Jirau, e Cassol, então governador de Rondônia, ficou com R$ 2 milhões para facilitar processos administrativos. Outros R$ 20 milhões foram a ex-diretores de Furnas e a Raupp.

O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, Kakay, que defende Jucá e Lobão, disse que, com os inquéritos, será possível fazer uma defesa técnica e provar que não houve propinas. Procurados, os outros investigados não responderam. A Odebrecht reafirmou que é de responsabilidade da Justiça a avaliação de relatos feitos pelos delatores, e a Andrade não quis comentar. Furnas informou que é a principal interessada em elucidar os fatos. O Planalto disse que não comenta investigações em andamento.

Em nota, o senador Aécio Neves, por meio da assessoria do PSDB, afirma que "os leilões para licitação das obras das usinas hidrelétricas do rio Madeira foram de responsabilidade da Aneel e do governo do PT, não tendo, portanto, qualquer possibilidade de interferência do então governador de Minas. Em Jirau, o consórcio Madeira integrado pela Cemig perdeu a licitação."

"Na usina de Santo Antônio, a Cemig teve participação minoritária (10%) no consórcio. Ainda nas gestões do PSDB e aliados em Minas, o grupo Odebrecht teve negado pela Cemig o atendimento de pleito importante e a empresa mineira chegou a ir à Justiça contra a empreiteira. Dessa forma, não há qualquer elemento ou mesmo indício de qualquer atuação do senador Aécio Neves em favor da empresa, o que não aconteceu. Em sua delação Marcelo Odebrecht afirma que as doações ao senador nunca tiveram contrapartida", completa a nota