Produção da Vale em Carajás continua parada devido a invasão de índios

Os indígenas marcaram uma reunião para a manhã de sexta-feira com representantes da Vale, mas Soares garante que ninguém da empresa irá comparecer

Por Agencia Estado
Atualização:

A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) divulgou novo comunicado a respeito da invasão, iniciada na terça-feira, dos cerca de 200 índios da Terra Indígena Xikrin, das aldeias Cateté e Djudjêkô, nas instalações da empresa em Carajás (PA). A Vale informou que os índios continuam ocupando o local. A mineradora esclareceu que a produção em Carajás continua paralisada. "As atividades operacionais estão suspensas e os 15 mil funcionários, parados. A produção diária de Carajás é de 250 mil toneladas de minério de ferro, que deixam de ser exportados, podendo levar a companhia a adotar medidas jurídicas com relação aos contratos de fornecimento com seus clientes", detalhou a Vale, em comunicado. "A CVRD entende que a Funai é responsável por qualquer negociação com os índios, mas, até o momento, a fundação não teve êxito em convencê-los a desocupar a área. A CVRD reitera que não compactua com tais métodos ilegais e não cederá a chantagens de qualquer espécie. A Mina de Carajás não está localizada em terra indígena", encerrou a empresa, no comunicado. Os índios decidiram na noite de quarta-feira não cumprir a decisão judicial que mandou liberar em 24 horas a mina e os vagões com carregamento de minério de ferro da Companhia Vale do Rio Doce em Parauapebas, no sudeste do Pará. A mineradora informou que os índios foram notificados pela Justiça Federal com um mandado de reintegração de posse, determinando a desocupação da área invadida no dia 17. A justiça de Redenção poderá determinar o envio de força policial para a retirar os índios da mina. Reivindicações De acordo com a Agência Brasil, o cacique da tribo, Karangré Xikrin, confirmou o ocupação. Por telefone, segundo a agência de notícias estatal, ele teria dito que os indígenas querem negociar pessoalmente com um representante da Vale do Rio Doce e não aceitam "recado por telefone ou documento". Os indígenas marcaram uma reunião para a manhã de sexta-feira com representantes da Vale, mas Soares garante que ninguém da empresa irá comparecer. Em nota distribuída nessa quarta-feira, a Funai informa que intermediou acordo entre os índios e a empresa. Líderes das tribos afirmam que só deixarão o local quando a Vale reajustar os R$9 milhões que libera anualmente para a tribo por força de um acordo que permite a atividade mineral e a passagem dos vagões com minério por suas terras em direção ao porto de Itaqui, no Maranhão. Eles também reivindicam a construção de 60 casas nas aldeias Caeté e Djedjokô e a reforma de estradas de acesso às duas comunidades. Pé firme O diretor de operação do Sistema Norte da Vale, José Carlos Soares, afirmou à tarde que a empresa não cederá à pressão dos índios enquanto eles não saírem de Carajás. "A Vale não negocia sob chantagem", resumiu Soares. Dois caciques que lideram o movimento foram taxativos: "Ninguém sai daqui, estamos preparados para ficar até por mais de três semanas". Além do reajuste do recurso, eles também exigem a construção de quarenta casas na comunidade Cateté e vinte casas na Djedjokô, recuperação e manutenção das estradas de acesso às duas aldeias. A Fundação Nacional do Índio (Funai) está apoiando os xicrins na luta por uma fatia maior que os R$ 9 milhões pagos pela Vale e melhorias nas condições de vida dos índios. O diretor da Funai, Almir Queiroz, entende que a Vale não está fazendo nenhum favor aos índios ao atender suas reivindicações. "Ela deve dar uma compensação melhor pela exploração de todo esse minério nas terras de Carajás. E nós não podemos esquecer que essa exploração traz prejuízos para as comunidades que vivem por aqui", salientou Queiroz. Para que alguém da empresa sentasse na mesa de negociação com os xicrins, resumiu o diretor, a solicitação teria de ser feita por intermédio da Funai e "sem nenhum índios aqui dentro". E atacou: "sob chantagem não tem negociação". Conteúdo ampliado às 18:02

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.