Procuradoria liga Daniel Dantas ao mensalão em denúncia por 5 crimes

Controlador e diretores do Opportunity são acusados por lavagem de dinheiro, entre outros delitos

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Por Fausto Macedo e Roberto Almeida
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A Procuradoria da República em São Paulo denunciou ontem o sócio-fundador do Grupo Opportunity, Daniel Dantas, e mais 13 pessoas por formação de quadrilha e organização criminosa; gestão fraudulenta; gestão temerária; evasão de divisas; e lavagem de dinheiro. De acordo com a nova denúncia, Dantas, já condenado a 10 anos de prisão por tentar subornar um delegado da Polícia Federal, pode pegar mais 31 anos. Veja a cronologia e saiba quem são os personagens da Operação Satiagraha Base importante para a denúncia foi um documento encontrado no escritório de Dantas, que cita supostos pagamentos de propina a funcionários públicos. O documento, segundo a procuradoria, demonstra "prática contumaz e elemento definidor da organização criminosa que foi implementada e desenvolvida sob os auspícios do Grupo Opportunity". A apreensão foi realizada pela PF na casa de Dantas durante a Operação Satiagraha, deflagrada no dia 8 de julho de 2008. Já o conteúdo completo da denúncia tem como fontes os relatórios da PF da primeira fase da Satiagraha, conduzida pelo delegado Protógenes Queiroz, e da segunda fase, conduzida pelo delegado Ricardo Saadi. O foco é o suposto uso da Brasil Telecom para alimentar empresas de publicidade de Marcos Valério, no esquema conhecido como "valerioduto", que resultaria em pagamento de propina a parlamentares - o mensalão. Todos os acusados (veja lista nesta página) estariam envolvidos, de alguma forma, com atividades ilícitas na BrT. Segundo o procurador, os acusados "constituíram um verdadeiro grupo criminoso empresarial, cuja característica mais marcante fora transpor métodos empresariais para a perpetração de crimes, notadamente delitos contra o sistema financeiro, de corrupção ativa e de lavagem de recursos ilícitos". A denúncia enquadra como gestão fraudulenta o fato de que a BrT, sob o comando de Dantas, requereu seis trabalhos das agências de Marcos Valério, a DNA e a SMP&B, no valor de R$ 3.376.825,93 sem contrato firmado. Os serviços foram pagos em 2004, mas realizados apenas em 2005 com qualidade "muito aquém do razoável", quando Marcos Valério já estava sob investigação da PF e da CPI dos Correios. A responsável pelos contatos entre a BrT e as agências de Marcos Valério seria a ex-presidente da companhia Carla Cicco. Ela teria ordenado a contratação da DNA e da SMP&B e ratificado o repasse de valores. Além de alimentar o "valerioduto", de acordo com a procuradoria, o Opportunity facilitava operações de lavagem porque não cumpria regras do Banco Central, o que configuraria gestão temerária. Dessa forma, sem os controles, o grupo mantinha investidores brasileiros que supostamente aplicavam seu dinheiro no Opportunity Fund, com sede nas Ilhas Cayman, engenharia classificada como evasão de divisas. Há ainda casos que chamaram a atenção da procuradoria, como um depósito feito por Dantas na conta do lobista Roberto Amaral, no valor de US$ 250 mil, detectada em troca de e-mails informais em que ambos se tratavam a partir de codinomes. Amaral era, de acordo com a denúncia, a ponte entre Dantas e políticos. O procurador arrolou 20 testemunhas, entre elas o ex-ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos), que foi trustee do Opportunity nos EUA. "Mangabeira é testemunha, não é investigado", explicou.

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