Procurador denuncia Mares Guia e Azeredo por mensalão mineiro

Ministro e senador são apontados como principais artífices do esquema, em que são citados outros 13 envolvidos

PUBLICIDADE

Por Felipe Recondo e BRASÍLIA
Atualização:

O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, denunciou ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) 15 acusados de envolvimento com o mensalão mineiro, entre eles o ministro demissionário Walfrido Mares Guia (Relações Institucionais), o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e o empresário Marcos Valério. O procurador classificou o esquema, que teria sido montado para a campanha de Azeredo à reeleição ao governo de Minas em 1998, como "origem e laboratório" do mensalão desmantelado no governo Lula em 2005. Leia a íntegra da denúncia Azeredo e Mares Guia - principais artífices do esquema, segundo o procurador - foram denunciados por peculato e lavagem de dinheiro. Outras 13 pessoas foram denunciadas pelos mesmos crimes (veja quadro ao lado). O ex-ministro e o senador, com a ajuda do então coordenador financeiro da campanha, Cláudio Mourão, e do candidato a vice-governador na chapa, Clésio Andrade, montaram, conforme a denuncia, uma engrenagem de desvio de pelo menos R$ 3,5 milhões de recursos públicos e lavagem de dinheiro para o caixa eleitoral. A denúncia precipitou ontem o pedido de afastamento de Mares Guia do governo. Braço direito de Azeredo na época, ele é citado 50 vezes nas 80 páginas da denúncia apresentada pelo procurador e descrito como o "organizador da campanha", inclusive no aspecto financeiro. "Walfrido Mares Guia também era um dos responsáveis por indicar as pessoas que receberiam os recursos da campanha, fruto dos crimes descritos", escreveu o procurador. Mares Guia foi apontado ainda como responsável pela operação para calar Cláudio Mourão, que ameaçava revelar os crimes se dívidas da campanha contraídas em seu nome no valor de R$ 1,5 milhão não fossem quitadas. Azeredo, por ser então o candidato, é citado como o principal beneficiário e articulador do esquema. "Embora negue ter participado dos fatos, as provas colhidas, como se verá ao longo da denúncia, desmentem sua versão defensiva." VALÉRIO Valério é novamente apontado como partícipe e responsável por dar ao dinheiro aspecto de legalidade. "Marcos Valério optou por desenvolver suas atividades delituosas na área publicitária pela facilidade apresentada em tal setor para fraudar a execução de contratos e desviar recursos públicos", afirma o procurador. O mensalão mineiro funcionava nos mesmos moldes do que posteriormente foi montado no governo Lula: recursos públicos eram desviados, dinheiro de empresas privadas com contratos no governo era captado de forma ilícita e lavado por empresas de Valério com o auxílio dos empréstimos fictícios do Banco Rural. Segundo a denúncia, pelo menos R$ 3,5 milhões foram retirados "criminosamente" de três estatais: Companhia de Saneamento de Minas (Copasa), Companhia Mineradora de Minas (Comig) e Banco do Estado de Minas (Bemge). Ao contrário do mensalão petista, o esquema mineiro tem "inúmeras provas", afirmou o procurador.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.