Procurador acusado de mandar matar colega será transferido

Vicente Cruz deverá ficar detido em sua residência até o fim das investigações

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Por Agencia Estado
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O procurador-geral licenciado Vicente Cruz, preso no Ministério Público Estadual suspeito de ter mandado matar o colega Mauro Campbell, deve ser transferido no fim desta semana para sua residência, onde deve ficar detido até o fim das investigações. A decisão foi dos quatro procuradores que formam a comissão criada para investigar a suposta encomenda da morte de Campbell. Na segunda-feira, dois membros do Conselho Nacional de Justiça vêm a Manaus para acompanhar as investigações. Nesta quinta-feira, Cruz deu uma declaração a uma rádio local de que não precisaria "matar Mauro porque ele vai morrer nas eleições normais". "Vai ser a grande derrota dele pela injustiça que ele fez comigo e por ele ter colocado o MPE em situação vexatória", disse Cruz. O procurador referiu-se à eleição para escolha do novo procurador-geral, no dia 15 de fevereiro. Ainda segundo Cruz, nas conversas gravadas com autorização policial entre ele e do foragido Élson Moraes ele usou os termos laje e abortar referindo-se à construção de uma laje numa igreja, encomendado a Élson. Cruz contou ainda que Élson prestava serviço para ele num barco de sua propriedade, onde consertava rádio comunicador e, no início de dezembro, o chamou para consertar a fiação do barco. "Élson disse que estava apertado financeiramente e perguntou se eu não tinha outro serviço. Disse que estava ajudando uma igrejinha. Élson pediu um adiantamento e eu dei R$ 350 e ele sumiu dos meus olhos e eu sempre ligava para ele", afirmou na entrevista. A conversa gravada pela polícia, de acordo com Cruz, ocorreu quando ele insistia com Élson para que não fizesse mais o serviço da igreja pela demora para começar. "Disse: aborta isso aí. Aborta, aborta, aborta, meu irmão. Nesse tom. Eu vou até arranjar outras pessoas. Aí ele disse que o pessoal já estava na rua para fazer, e eu insisti para abortar", contou. Para Cruz, "tudo não passa de uma armação política", pois falta pouco mais de um mês para a eleição de procurador-geral. O motivo para a encomenda da morte seria supostamente eliminar o mais forte cotado para ser o novo procurador de Justiça nas preferências do governador Eduardo Braga (PMDB). Campbell foi secretário de segurança na primeira administração de Braga e cabe ao governador escolher o procurador-geral, ao receber a lista tríplice dos nomes mais votados, depois da eleição marcada para o dia 15 de fevereiro. Cruz e Campbell fazem parte da lista de seis candidatos ao cargo. O pistoleiro supostamente contratado para o crime, identificado como Frank, está no programa de proteção de testemunhas da polícia. Frank denunciou o esquema a Cambell na semana passada. Por sua vez, Cambell falou do caso para o Secretário de Segurança do Estado, Francisco Sá Cavalcanti. As ligações telefônicas aos celulares de Maria José Dantas da Silva, a suposta intermediária da encomenda da morte, presa na quarta, e Élson foram grampeadas e, na segunda-feira, houve uma ligação para Cruz em que ele desmancha o suposto pedido para a procura de um pistoleiro. Cassação O deputado Eron Bezerra (PCdoB) pediu a cassação do mandato do procurador-geral licenciado Vicente Cruz. O pedido de impeachment foi apresentado à mesa diretora da Assembléia Legislativa do Estado. Segundo Eron, compete apenas à Assembléia tirar Cruz da chefia do Ministério Público Estadual. O requerimento do deputado comunista foi embasado no artigo 28, inciso XXIII da Constituição Estadual: "É competência exclusiva da Assembléia Legislativa: aprovar por maioria absoluta e por voto secreto, a destituição do Procurador-Geral de Justiça e do Defensor-Chefe da Defensoria Pública". A Assembléia está em recesso até o início de fevereiro, mas a mesa diretora pode decidir votar o pedido do deputado em reunião extraordinária.

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