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Primeiro clone humano ainda causa polêmica na França

Por Agencia Estado
Atualização:

A tempestade provocada pelo suposto nascimento de uma pequena "Eva" por clonagem humana, continua causando furor na França. Talvez porque a seita Rael, que está na origem desta "estréia", tenha sido criada há trinta anos por um francês. Esta seita foi depois proibida na França e está instalada no Canadá. As grandes religiões ( cristãos, judeus e muçulmanos) fizeram pronunciamentos a respeito deste anúncio de clonagem humana. Durante algumas horas, pensávamos que todos iriam adotar uma atitude comum. Todos os monoteístas diziam a mesma coisa: criado por Deus, o ser humano é único e deve continuar único. Portanto, condenação unânime e drástica a toda clonagem humana. Algumas gaiatos chegaram a dizer que, com seu clone, os "delirantes" da seita Rael iriam conseguir esta façanha: colocar de acordo, por uma vez, todas as religiões monofisitas. Mas isso seria não calcular a capacidade genial que há dois mil anos, as religiões manifestam para disputar entre si, para fazer guerra, para matar-se, estripar-se, amaldiçoar , excomungar e mandar uns aos outros para os infernos... Esta maravilhosa concórdia entre todas as religiões durou vinte e quatro horas e depois explodiu. E, na segunda-feira pela manhã, as polêmicas começaram a pegar fogo, como antigamente, em Bizâncio, como outrora, durante a Guerra dos Trinta Anos e como hoje, na Irlanda do Norte. Os pastores, os padres, os imãs ou rabinos estão todos contentes e desde a manhã de segunda-feira, seus olhos brilham. Eles têm uma boa controvérsia para "mastigar": a seita Rael lhes proporciona um maravilhoso "casus belli". Vamos resumir como estão as coisas. Se o "clone humano" condensa a indignação de todos os religiosos judeus, cristãos ou ortodoxos, em contrapartida, a polêmica conseguiu ser desviada para um outro aspeto: não a "clonagem humana" (isto é, destinada a criar uma nova "pessoa humana") mas a "clonagem terapêutica". A linha divisória passa entre católicos e ortodoxos, por um lado, e muçulmanos, judeus e protestantes, por outro. Para os católicos, toda clonagem, mesmo que não deva dar origem a um bebê, é um atentado contra a vida. Porque abrange manipulações e destruições de embriões. A intransigência dos católicos, e sobretudo do papa João Paulo II, é radical. O aparecimento da vida ocorre desde o primeiro instante de vida do embrião e o embriaão é uma pessoa humana: esta é a doutrina católica. Conseqüentemente, a Igreja Católica se recusa a distinguir uma fase pré-embrionária e uma fase embrionária. Estes temas são conhecidos. Eles sustentam a posição da Igreja sobre a questão do aborto etc. As igrejas ortodoxas estão de acordo com os católicos: o zigoto formado na fecundação é um ser humano integral e distinto. O teólogo ortodoxo John Breck especifica: "Deus é o autor até mesmo de um pedaço de tecido constituído de células humanas". Conseqüência lógica: não se pode admitir a clonagem terapêutica porque esta provém de um clone reprodutivo, isto é, de uma reprodução de matéria viva. Os protestantes são mais flexíveis, embora algumas de suas igrejas - as "tradicionalistas" localizadas principalmente nos Estados Unidos - defendam a tese da "animação imediata" do embrião. Na França, porém, os protestantes são mais liberais. Um dos pastores franceses mais respeitados, M.Collange, afirma especificamente que "o momento capital é o momento da implantação no útero da mulher, não o momento da fissão dos gametos". Collange não exclui também os benefícios da clonagem terapêutica, que poderia trazer alívio para algumas doenças terríveis... Os judeus são também muito tolerantes. Eles acham que a Lei não é violada porque, por uma parte, não existe utilização de esperma e, por outra parte, o embrião não pode ultrapassar a data de quarenta dias: segundo os judeus, o embrião só é viável a partir de um prazo de quarenta dias. No mundo muçulmano, as opiniões são mais variadas: não existe uma autoridade muçulmana única. As opiniões variam, dos xiitas aos sunitas, de uma mesquita a outra mesquita. Vamos citar simplesmente o xeque Al-Qaradoui, conceituado teólogo de Catar: "A clonagem para o tratamento de doenças não contradiz os princípios do Islamismo".

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