PUBLICIDADE

Pressionado por crise, Lula pode ir à TV pedir paciência

Idéia é explicar crise e preparar a população para eventual reação dos grevistas; além disso, o presidente pode não reconhecer acordo que pôs fim à paralisação

Por Agencia Estado
Atualização:

Apesar de ter se comprometido, na sexta-feira à noite, a atender às reivindicações dos controladores de vôo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu sinais, durante a reunião ministerial de segunda-feira, 2, que está inconformado com a insubordinação dos controladores militares e vai enfrentar o movimento. Lula anunciou aos ministros a intenção de fazer um pronunciamento à Nação, depois de ouvir os comandantes militares e até mesmo o conselho político do governo, a partir das 9 horas. Em outra frente da negociação, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, vai se reunir, às 10 horas, com os controladores de vôo militares. Eles devem pedir gratificações salariais e detalhes do projeto do governo de desmilitarização do setor de controle aéreo. Também deverão cobrar uma postura do governo. A agenda do presidente prevê ainda, durante o dia, despachos com a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef; da Saúde, José Gomes Temporão; da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima e da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins. Lula receverá ainda os novos oficiais generais, promovidos recentemente, e o presidente em exercício do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Durante toda a segunda-feira, o presidente passou o dia na condição de bombeiro político para evitar uma crise institucional militar. Depois de se encontrar com o chefe da Aeronáutica, Força que serviu de palco para o motim dos controladores na sexta-feira, Lula decidiu convocar uma reunião conjunta com os três comandantes e pode não reconhecer acordo que pôs fim à greve. Para mostrar aos chefes do Exército, Marinha e Aeronáutica que seu governo está empenhado em restabelecer a disciplina militar, o presidente, segundo apurou o Estado, deu a entender aos comandantes que não reconhece o acordo fechado com os controladores em meio aos caos de sexta passada. Além de Saito, foram ao Planalto o general Enzo Peri, do Exército, e o almirante Júlio Soares de Moura Neto, da Marinha. O presidente referiu-se ao governo do ex-presidente americano Ronald Reagan, que, em crise similar, demitiu os controladores e reestruturou o sistema inteiro. Num desabafo, disse que se sentiu agredido pelas costas ao ser informado, logo após a viagem para a reunião com o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, que os aeroportos do País estavam em colapso, de ponta a ponta. Segundo apurou o Estado, o presidente classificou a ação dos grevistas de covarde e irresponsável e declarou a intenção de buscar ajuda externa para dar suporte ao controle do tráfego aéreo enquanto tenta criar condições de substituição do atual modelo. Nesse contexto, ele convocaria uma rede nacional de televisão para explicar a situação à população e pedir paciência e compreensão para novas dificuldades produzidas por uma eventual reação dos grevistas. Segundo fontes do governo, Lula afirmou ainda que diante da forma ?traiçoeira? como foi deflagrado o movimento dos controladores de vôo ele não teve outra saída a não ser negociar com os líderes dos sargentos para evitar o caos completo nos aeroportos. Na avaliação de alguns setores do Planalto, o movimento sindical-militar deflagrado na noite de sexta-feira ameaçava se transformar em ?uma questão de segurança nacional?. O desabafo presidencial foi ouvido pelo próprio ministro da Defesa, Waldir Pires. Sério, o ministro não fez nenhuma intervenção, preferindo manter-se em silêncio. O governo já sabe que a transferência dos controladores militares para um órgão civil de controle da aviação exige estudos jurídicos. ?Não é simples, não é só entregar a farda e encerrar a carreira militar?, relatou outra fonte ao Estado. Até mesmo a questão salarial terá de ser renegociada, porque os controladores civis ganham salários maiores que os dos militares. A ordem no Palácio do Planalto é também não atrapalhar os planos do Ministério Público Militar, que decidiu entrar com processo para investigar e processar os controladores de vôo que, em princípio, atentaram contra os códigos militares de disciplina. Com o temor de que a quebra de hierarquia se espalhe pelas três Forças - Aeronáutica, Exército e Marinha -, o presidente vai apoiar uma ação exemplar da Justiça contra os controladores que se rebelaram. De acordo com um ministro, o governo sabe que, caso a tolerância prevaleça, os motins se multiplicarão. Declaração de erro Na verdade, passada a crise, o governo reconheceu que errou ao ceder. Em conversa com assessores, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que se reuniu com os controladores a pedido do presidente, na sexta-feira à noite, contou que só entrou na negociação porque os amotinados não aceitavam a intermediação do ministro da Defesa ou de qualquer outro comandante da Aeronáutica. De acordo com o relato do ministro feito a amigos, essa radicalização por parte dos grevistas o teria levado a temer até pelo retorno do presidente Lula de sua viagem aos Estados Unidos. Na volta ao Brasil, o avião presidencial poderia ter problemas durante a aterrissagem, diante do caos provocado pela paralisação dos controladores. O que parecia ser um alívio acabou se transformando na primeira grande crise do segundo mandato de Lula. Para começar, a crise do apagão aéreo reduziu o impacto da primeira reunião com o novo ministério. O encontro, que funcionaria como marco do segundo mandato, foi ofuscado pela necessidade de o governo rever a sua estratégia em relação ao agravamento da crise do setor aéreo. E é nessa mudança de rota que o presidente vai apostar para retomar o controle da situação. Matéria alterada às 9h15, para acréscimo de informação

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.