PUBLICIDADE

Pressionado pelas Forças Armadas, Ramos pede transferência para a reserva

Estando na ativa, sua presença em cargo político incomodava as Forças por atrapalhar discurso de que os militares estão afastados de questões políticas

Por Tania Monteiro
Atualização:

BRASÍLIA - O ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos anunciou, em nota oficial, que pedirá transferência para a reserva remunerada no dia 1.º de julho, deixando assim o serviço ativo do Exército. A presença do general, ainda na ativa, em cargo eminentemente político, incomodava as Forças Armadas por atrapalhar o discurso de que os militares estão afastados de questões relacionadas à política. Havia pressão interna para que Ramos deixasse o serviço ativo por ocupar um Ministério, no Palácio do Planalto.

Luiz Eduardo Ramos Foto: MARCOS CORRÊA/PR

PUBLICIDADE

Nesta quinta-feira, 25, o general esteve no Quartel General do Exército, onde estava sendo realizada reunião do Alto Comando da Força, para comunicar sua decisão e conversar com os companheiros de farda. A pauta da reunião era a escolha dos militares a serem promovidos. Ramos já havia anunciado que pediria passagem para a reserva. Além dele, pelo menos dois outros oficiais de alta patente permanecem no governo: o general Eduardo Pazuello, que está no cargo de ministro interino da Saúde, e o almirante Flávio Rocha, que está comandando a Secretaria de Assuntos Estratégicos e trabalha ao lado do presidente Jair Bolsonaro. Há mal estar generalizado nos quarteis com a presença de militares da ativa ocupando postos políticos no governo.

Na nota, Ramos informa que, ao pedir transferência para a reserva, “afasta de forma definitiva e irrevogável, a possibilidade do (...) retorno às lides da caserna”. O generalchegou ao Planalto em 4 de julho de 2019 e, pela legislação, poderia permanecer fora da força por dois anos, até julho de 2021. Seu tempo no Exército, no entanto, só se encerra em dezembro de 2021, no final do governo Bolsonaro.

Com esta decisão de pedir transferência para a reserva remunerada, prossegue o ministro, está afastada a possibilidade de recebimento de uma nova missão oriunda do Comando do Exército. “Certamente, o meu retorno à Força ainda representava uma possibilidade e expectativa pessoal, se esta fosse a vontade do Comandante do Exército e do Alto Comando do Exército, subordinada sempre aos princípios da conveniência e oportunidade”, escreveu o ministro. Ramos ressaltou ainda que, desde que assumiu o cargo no Palácio do Planalto, estava “apartado de todas as reuniões e decisões estratégicas e administrativas a ele relacionadas”.

O general classificou o convite feito por Bolsonaro para assumir a Secretaria de Governo como “uma missão” e disse que o fez com “certeza inabalável de que integraria uma equipe reunida em torno do objetivo inalienável de mudar a história do Brasil e construir um futuro melhor para as nossas próximas gerações, sempre sob a direção firme e segura de Jair Bolsonaro, nosso Presidente”. Acrescentou, ainda, que permanece firme “com esse sentimento e certeza”.

O ministro observou que “a farda não abafa o cidadão no peito do soldado”. Citou também palavras do general Otávio Costa: “A farda não é uma veste que se despe com facilidade e até com indiferença, mas uma outra pele, que adere à própria alma, irreversivelmente para sempre”. Ramos disse, por fim, que “seguirá em frente, com a mesma vocação de soldado” que o acompanhou na sua trajetória, assim como “com os mesmos princípios e valores adquiridos e alicerçados no (...) Exército de Caxias”.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.