Presos 20 suspeitos de fraude na reforma agrária em MS

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Por JOÃO NAVES DE OLIVEIRA
Atualização:

Lotes da reforma agrária destinados aos sem-terra transformados em chácaras de lazer e assentamentos agrícolas do governo federal em áreas de especulação imobiliária. Essas e outras irregularidades constatadas no Programa Nacional de Reforma Agrária em Mato Grosso do Sul resultaram na prisão, hoje, do superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Valdir Cipriano do Nascimento, quatro funcionários do órgão no Estado e mais 15 suspeitos. Eles foram presos durante a Operação Tellus, que na mitologia romana era a deusa que personificava a terra. Outras 15 pessoas também passaram prelo mesmo procedimento, incluindo dois vereadores da cidade de Itaquiraí, extremo sul do Estado. Um deles é Joel José Cardoso (PDT), líder de sem-terra e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade, e o outro é Arcélio Francisco José Severo (PDT). Além deles, um empresário residente em Cosmorama, cidade do interior de São Paulo, também foi detido.O grupo era composto ainda por líderes dos trabalhadores rurais de Naviraí, Dourados, Ivinhema, Nova Andradina, Bataiporã e Angélica. Todos foram apontados pelo Ministério Público Federal (MPF) como membros ativos em esquemas criminosos que resultaram em prejuízos calculados, até agora, em mais de R$ 62 milhões aos cofres públicos.Desse valor, R$ 50 milhões desapareceram devido às fraudes aplicadas durante processo de abertura de estradas, construção de moradias e distribuição dos 497 lotes da Fazenda Santo Antônio, em Itaquiraí. No local, os melhores terrenos não foram entregues aos sem-terra, de acordo com a ordem de sorteio realizado para a posse das glebas. Um total de 425 sem-terra ficou sem os lotes, que foram entregues a terceiros.De acordo com a denúncia, os beneficiados são familiares e amigos dos líderes. Um deles ficou com a sede da fazenda. Os R$ 12 milhões restantes corresponderiam ao valor de 300 lotes do Incra vendidos para políticos, comerciantes e pessoas sem o perfil exigido pela reforma agrária. Todos esses lotes teriam sido "legalizados" fraudulentamente por funcionários do Incra-MS.RepúdioO superintendente acusado afirmou, em nota distribuída no início da tarde, que não tem a menor culpa nos crimes apontados pelo MPF. "Repudio as acusações direcionadas ao exercício de minha função no cargo de superintendente e as mesmas, com toda certeza, serão esclarecidas oportunamente", afirmou. Segundo Nascimento, durante os 8 meses de exercício no cargo, ele retomou 2 mil terrenos que haviam sido vendidos para pessoas não reconhecidas pelo órgão.A Fazenda Santo Antônio, com área de 16.926 hectares divididos em 1.236 lotes, custou em espécie R$ 130 milhões ao Incra. Os melhores lotes não foram sorteados, ficando reservados aos líderes dos movimentos sociais, havendo inclusive casos de lotes contíguos destinados a integrantes de uma mesma família.Posteriormente ao sorteio ocorreu a venda de lotes intermediada pelos líderes dos assentamentos e com a participação de servidores do Incra, que teriam formalizado a venda alterando os registros. Dentre esses lotes ilegalmente negociados, conforme a denúncia, diversos são usados como sítios de lazer, desvirtuando totalmente os objetivos da reforma agrária.

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