Presidente tenta demonstrar confiança e quer pressa

Dilma Rousseff reúne Ministério e pede mobilização contra impeachment; Planalto aciona governadores e aliados no Congresso

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Por Vera Rosa , Isadora Peron , Carla Araujo , e Adriano Ceolin
Atualização:

BRASÍLIA - Um dia depois de o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ter anunciado a abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, o governo indicou que vai agir para um desfecho rápido da crise. Em reunião com 23 ministros, nesta quinta-feira, 3, no Palácio do Planalto, Dilma mostrou confiança na derrota de Cunha, seu algoz. O Planalto articula para que o Congresso suspenda o recesso parlamentar, neste fim do ano, com o objetivo de votar o impeachment.

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“Vamos para o enfrentamento. Está chegando ao fim a estratégia de não deixar o governo governar”, afirmou a presidente, segundo relato de participantes da reunião. O ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, foi na mesma linha e disse que não faz sentido o Legislativo tirar folga neste momento. “Não me parece razoável que o Parlamento se desligue, já que se abriu um processo de tentativa de votar o impedimento da presidente”, disse ele.

A notificação do processo de impeachment dirigida a Dilma foi recebida no fim da tarde desta quinta-feira, no Planalto, pela Subchefia de Assuntos Parlamentares da Presidência da República. A partir de segunda-feira, Dilma terá até dez sessões para apresentar sua defesa formal à comissão especial da Câmara.

Pressão das ruas. O governo tem pressa por avaliar que, em 2016, a oposição pode mobilizar as ruas contra Dilma, uma situação considerada mais difícil no fim do ano. O temor na Esplanada é de que os protestos ganhem força, com a economia em recessão e o País paralisado. Além disso, 2016 é um ano de eleições municipais, o que agravaria ainda mais o cenário para o PT e o Planalto. Os adversários, porém, farão de tudo para prolongar a agonia da presidente.

“Agora que a faca foi puxada, as coisas ficarão mais claras e vamos ver quem é quem”, comentou Wagner. A estratégia do governo consiste em carimbar Cunha como “chantageador”, que só decidiu deflagrar o impeachment depois que os três deputados do PT no Conselho de Ética anunciaram que votarão contra a sua anistia.

Na noite desta quinta-feira, após a reunião com os ministros, Dilma teve uma conversa reservada com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Ela aposta na aliança com Renan para conseguir aprovar a convocação extraordinária do Congresso no recesso e segurar o pedido de deposição feito pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal.

A ordem no Planalto é para que todos defendam publicamente o governo e façam um contraponto com Cunha, acusado de manter contas secretas na Suíça com dinheiro desviado de contratos da Petrobrás.

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Dilma precisa de 171 votos no plenário da Câmara para derrotar o impeachment. Embora a base aliada esteja em frangalhos, a presidente avaliou que, se o Congresso aprovou a alteração da meta fiscal na quarta-feira, o governo conseguirá votos para vencer a articulação para afastá-la do cargo. 

Justiça. Na conversa com Renan e na reunião com os ministros, Dilma também demonstrou confiança nas ações no Supremo Tribunal Federal para barrar o processo aberto por Cunha. “Mas a entrada na Justiça nada tem a ver com postergação. Nossa decisão é fazer o processo mais rápido possível, combinando legalidade com celeridade”, insistiu Wagner.

Na próxima semana, Dilma deve receber governadores de partidos aliados, que vão lhe manifestar apoio. Em nota divulgada nesta quinta-feira, governadores do Nordeste escreveram que “a decisão de abrir o tal processo de impeachment decorreu de propósitos puramente pessoais, em claro e evidente desvio de finalidade”. O texto termina com um tom nacionalista: “Em vez de golpismos, o Brasil precisa de união, diálogo e de decisões capazes de retomar o crescimento econômico, com distribuição de renda”. 

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