Reverter os crescentes déficits fiscais, que ameaçam a solvência do Estado, ao levar a dívida pública a uma incontida e explosiva trajetória de alta, é o objetivo. Com isso, pretende-se restaurar a confiança dos agentes econômicos, abrindo espaços para a retomada dos investimentos e, na sequência, para o relançamento da economia. Para ser bem-sucedido, contudo, esse processo terá de vir acompanhado de indicações rápidas de que a vida cotidiana das pessoas vai melhorar.
Não se trata de missão impossível, mas são muitos os desafios a serem vencidos. Entre fatores favoráveis e desfavoráveis, o balanço dos riscos ainda resulta em incertezas. Tempo e tamanho do ajuste são os elementos críticos em jogo.
Ao comentar a suspensão do deputado Eduardo Cunha da presidência da Câmara, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, lembrou que “o tempo do Judiciário não é o da política nem o da mídia”. É o caso de acrescentar que também o tempo da economia é outro.
Para o novo governo, o prazo mais longo exigido para a correção dos desajustes não se encaixa, em princípio, no tempo da política. Não só porque se trata de um governo de transição, em que o tempo disponível é por definição mais estreito, mas também porque, se tem a vantagem de assumir como oposição a um outro rejeitado pela opinião pública, esta não lhe é inteiramente favorável.
Conciliar a “agenda das ruas” com a composição de uma base parlamentar para aprovar em tempo hábil medidas que dificilmente deixarão de ferir interesses estabelecidos será o principal desafio. O vaivém no desenho e na formação do novo ministério, composto por um time com qualidade abaixo da prometida, dá a medida de quão complicado é resolver a equação.
O relógio que vai marcar o período de graça, no qual o novo governo terá de encontrar saídas para manter as expectativas positivas iniciais, começa a rodar agora e tem corda no máximo até setembro, quando o Senado deverá julgar a cassação definitiva da presidente afastada. O presidente interino não tem tempo para errar.