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Presidente do TCU prepara mudança para imóvel do filho

Apartamento de alto padrão, em reforma, foi comprado por empresa de Tiago Cedraz, alvo de operação que apura tráfico de influência na corte de contas

Por Fabio Fabrini
Atualização:

O presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz, se prepara para usufruir de um dos imóveis comprados pelo filho, o advogado Tiago Cedraz, alvo de operação da Polícia Federal que apura suspeitas de tráfico de influência na corte. O ministro faz uma reforma em apartamento da Asa Sul, em Brasília, adquirido por R$ 2,7 milhões pela Cedraz Administradora de Bens Próprios. A empresa, com capital de R$ 20 milhões, foi aberta por Tiago em sociedade com a mãe e mulher do ministro, Eliana Leite Oliveira, como mostrou o Estado na quinta-feira.

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A obra no apartamento de 250 m², assinada por um dos escritórios de arquitetura mais renomados de Brasília, está em fase final. Há bancadas, pintura feita e ar condicionado. A montagem dos móveis está a cargo de uma loja da capital, cujo projeto descreve como cliente “Aroldo Cedraz de Oliveira”.

Um dos responsáveis pela encomenda diz que serviço semelhante ao do “Seu Aroldo”, como os funcionários do prédio se referem ao morador, custaria de R$ 250 mil a R$ 300 mil. “São basicamente armários”, disse, acrescentando que há itens de marcenaria previstos para três suítes, três banheiros, escritório e rouparia. Na sala, haverá móvel para adega, home theater e cristaleiras. “As proporções são grandes, porque o espaço é bem generoso.”

O piso será de mármore travertino, material de origem europeia cujo metro quadrado, conforme a configuração, varia de R$ 450 a R$ 650. Questionado sobre a reforma, um dos funcionários do prédio afirmou: “O homem é chique, tudo de primeira. ‘Chiquete mesmo’”. Ele diz que “Seu Aroldo” aparece de vez em quando para cuidar de detalhes e deve se mudar em breve.

O advogado Tiago Cedraz, filho do presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz Foto: Reprodução

Fortuna. No mesmo prédio, já moram o filho, Tiago, e a nora em apartamento com as mesmas dimensões, negociado por R$ 2,9 milhões, parte financiada pelo Banco do Brasil. Em pouco mais de nove anos de carreira, o advogado, de 33 anos, fez fortuna com uma banca que atua no TCU. Como revelou o Estado, os imóveis comprados em três anos em Brasília somam R$ 13 milhões.

Levantamento de técnicos do TCU mostra que advogados que integram ou já integraram o escritório, construído por Tiago numa casa de alto padrão no Lago Sul, têm procuração em ao menos 130 processos. Ministros da corte, incomodados com o escândalo, cobram do TCU a lista completa para “monitorar os casos”.

Na última terça-feira (14), o escritório de Tiago foi alvo de buscas da Operação Politeia. Em delação premiada, o dono da UTC, Ricardo Pessoa, disse que pagava R$ 50 mil mensais ao advogado para ter acesso a informações de seu interesse. Por um processo que tratava de obras na Usina de Angra 3, ele teria negociado R$ 1 milhão com Tiago, supostamente para que o caso fluísse.

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A investigação corre no Supremo Tribunal Federal, diante de suspeitas de participação de ministro do TCU. Processos que discutiam a montagem eletromecânica da usina foram relatados por Raimundo Carreiro.

Cedraz também teria favorecido a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp) junto ao Tribunal. Segundo reportagem no portal da revista "Veja", o escritório do advogado conseguiu reverter, no TCU, um relatório que pedia a reprovação das contas de 2005 da organização e a aplicação de multas que chegariam a R$ 500 mil. Os sindicatos rurais questionam ainda o fato de Cedraz ter sido advogado da Faesp no processo junto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) que criou, no ano passado, o Conselho dos Citricultores e das Indústrias de Suco de Laranja (Consecitrus).

No TCU desde 2007, Aroldo Cedraz recebeu R$ 18,1 mil líquidos pelo último contracheque. Veterinário e ex-deputado do extinto PFL (hoje DEM), declarou bens de R$ 1 milhão ao disputar sua última eleição, em 2006.

Questionado pelo Estado sobre os projetos de mudança, fontes de renda e os recursos que custeiam a reforma, Aroldo Cedraz não respondeu. Em nota, ao se referir ao apartamento em nome da empresa do filho e da mulher, disse: “Sobre imóveis de terceiros, recomendamos contato com o proprietário para obter as informações solicitadas”.

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