Presidente da Caixa diz que revisará operações com empresas investigadas pela PF

Segundo Gilberto Occhi, o banco não fará uma apuração sobre a conduta do ex-vice presidente Fábio Cleto porque ele não tem mais vínculo empregatício com a Caixa

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Por Murilo Rodrigues Alves
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BRASÍLIA - O presidente da Caixa Econômica Federal, Gilberto Occhi, disse nesta sexta-feira, 1º, que o banco estatal fará uma revisão nas operações com as empresas que estão sendo investigadas pela Polícia Federal pelo pagamento de propinas. Nesta sexta, a Polícia Federal deflagrou mais uma etapa da Operação Lava Jato, batizada de Sépsis, que tem como um de seus alvos a Eldorado Celulose, uma empresa do grupo J&F, holding da JBS, dona da Friboi. A ação tem origem em duas delações premiadas: a do ex-vice-presidente da Caixa Fábio Cleto e a do ex-diretor de Relações Institucionais do Grupo Hypermarcas Nelson Mello.

Ex-ministro Gilberto Occhi Foto: Dida Sampaio|Estadão

Segundo Occhi, o banco não fará uma apuração sobre a conduta de Cleto porque ele não tem mais vínculo empregatício com a Caixa. "Estamos fazendo uma revisão das operações que foram aprovadas pela Caixa dessas empresas que estão eventualmente sendo citadas", afirmou Occhi, depois de participar de entrega de moradias do Minha Casa Minha Vida em Paranoá (DF). Ele afirmou que as operações do banco com o grupo J&F estão sendo pagas em dia. Occhi disse que a Caixa está à disposição do Ministério Público Federal e da Polícia Federal para outros esclarecimentos. Cleto relatou, na delação, que o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), recebeu propinas em 12 operações de grupos empresariais que obtiveram aportes milionários do Fundo de Investimento do FGTS (FI-FGTS), que usa parte dos recursos dos trabalhadores para investir em infraestrutura. Ele contou que Cunha cobrava comissões que variavam entre 0,3% e 0,5% ou até mais de 1% dos repasses feitos pelo fundo. Em relação à Eldorado, Cleto disse acreditar que Cunha tenha recebido valor superior a 1% como comissão. O valor pedido inicialmente era de R$ 1,8 bilhão para obras numa fábrica em Três Lagoas (MT), mas acabou reduzido para R$ 940 milhões.

O ex-vice-presidente da Caixa, Fábio Cleto Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Brado. Como gestora do FI-FGTS, a Caixa abriu sindicância para apurar os pagamentos feitos pela Brado, sócia do fundo de investimento, a duas empresas de fachada (Link Projetos e Participações e Porte Projetos de Terraplanagem e Construção) que também estão na mira da Lava Jato. "A Caixa, por meio da sua corregedoria, vem adotando ações de análises e apuração, que, em conjunto com os resultados conduzidos pela Brado e seus auditores, permitirão conclusões sobre a existência de eventuais irregularidades, permitindo ações de responsabilização, se aplicáveis, para quem as tenha praticado", admitiu o banco, em nota. O FI-FGTS tem 22,22% de participação da Brado, que agora pertence ao grupo ALL/Cosan. A empresa não tem capital aberto. Em 2014, o valor da parcela do fundo na empresa de logística era calculado em R$ 410,4 milhões. Mas foi feita uma reavaliação do ativo em março deste ano para o fechamento do balanço de 2015. O valor contábil da participação do FI-FGTS caiu para R$ 217 milhões depois do chamado teste de imparidade (impairment, no jargão em inglês), que busca trazer a valor presente as receitas futuras da companhia. Depois que a Cosan incorporou a ALL, a Brado contratou uma firma de auditoria independente e um escritório de advocacia que conduzem, desde o último trimestre de 2015, uma devassa nos contratos da companhia. Nessa análise, foram constatados os pagamentos a empresas de fachada sem a contrapartida em serviços. "Como resultado ainda não conclusivo, identificou-se uma relação comercial, não deliberada ou previamente conhecida pelo FI-FGTS, da Brado com empresas que tiveram menções, seja diretamente ou via seus executivos, em fases da operação Lava Jato", afirmou, em nota, a Caixa. Os resultados ainda estão sendo analisados e, segundo o banco, serão entregues às autoridades competentes pelos atuais gestores da Brado. Em meio aos desdobramentos da Operação Lava Jato, a Caixa determinou que as empresas que fossem sócias do fundo contratassem consultorias para averiguar em que ponto estavam metidas no esquema de corrupção revelado pelas investigações. De acordo com o balanço do fundo de 2015, 19% dos R$ 21,7 bilhões que o FI-FGTS aplicou nas sociedades de empresas sem ação na bolsa e em financiamentos foram direcionados a empresas que são investigadas pela Lava Jato. Como o Estado informou, o fundo teve que baixar uma perda de R$ 900 milhões em 2015, quando teve rentabilidade negativa de 3%. Só para cobrir eventuais perdas com a Sete Brasil, empresa criada para construir as sondas da Petrobras para a exploração do pré-sal. Entre os aportes que estão sendo investigados está a decisão do fundo de aumentar para 30% a participação nas empresas Odebrecht Transport (R$ 2 bilhões) e Odebrecht Ambiental (R$ 1,2 bilhões), ambas fechadas, sem ação na Bolsa. Com patrimônio líquido de R$ 31 bilhões, o FI-FGTS se transformou em alvo da Lava Jato com a delação premiada de Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa. Aliado de Cunha, Cleto era membro do comitê responsável por decidir os aportes, o segundo maior financiador de infraestrutura do País, atrás apenas do BNDES. Ele foi exonerado do cargo no início de dezembro pela presidente afastada Dilma Rousseff. 

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