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Presença de Collor constrange, dizem historiadores

Para Werneck Vianna, falta ao País visão crítica da história; Fico atribui decisão de esconder o impeachment em painel do Senado ao fato de o ex ser membro da Casa

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Por Redação
Atualização:

RIO - Ao ser informado sobre o comentário do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), de que o impeachment de Fernando Collor foi um "acidente" e, por isso, não faria parte dos fatos históricos exibidos no corredor da Casa conhecido como "túnel do tempo", o cientista político Luiz Werneck Vianna ironizou: "Foi um acidente? Então vai ser corrigido?" Parecia antever que, poucas horas depois, Sarney voltaria atrás e mandaria acrescentar o episódio na exposição permanente.

 

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Esclarecido de que o "acidente" apontado por Sarney foi o impeachment, e não a omissão, o professor e pesquisador da PUC-Rio lamentou: "Não lidamos criticamente com a nossa história. Temos um instrumental de apagar o retrato das pessoas indesejáveis e devolver para a vida em outra circunstância".

 

Werneck citou que também "foi esquecida a era Vargas, e depois recuperada". Para o cientista político, a presença de Collor no Senado, depois de eleito em 2006, "deve ter sido determinante" para a opção de apagar o impeachment do rol de momentos marcantes da história. "A culpa não é tanto do Sarney, mas de quem o devolveu à ribalta: os partidos e o voto", afirmou.

 

Professor da pós-graduação em história social da UFRJ, o pesquisador Carlos Fico viu uma atitude "de muita condescendência e pouca fibra" na omissão do impeachment. "Sarney foi uma das pessoas mais humilhadas pelo Collor. O Senado não deveria se envergonhar, mas se orgulhar desse episódio (o impeachment)."

 

"A atitude foi completamente equivocada. No impeachment, não só o gesto em si foi importante. Revelou a indignação da sociedade contra a corrupção e mostrou que, depois da ditadura, tínhamos uma democracia relativamente bem estruturada que foi capaz de suportar o afastamento do presidente", diz o historiador. Carlos Fico não tem dúvida de que a decisão de esconder o impeachment "se deve ao desconforto com a presença do senador Collor".

 

Cara-pintada. Líder do movimento dos caras-pintadas e presidente da UNE na ocasião do impeachment, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) comentava o "grande erro de Sarney e da equipe" por retirar o fato histórico do "túnel do tempo" quando foi informado de que o presidente da Casa tinha mandado incluir na galeria o registro da cassação do ex-presidente.

 

"Era um erro, mas vejo que agora Sarney entendeu que não foi um acidente. Foi um momento do qual temos orgulho na nossa história. Foi um processo que veio das ruas, mas obedeceu os princípios da legalidade", comentou.

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"O pessoal do Senado tinha sido mais realista que o rei. O próprio Collor acha que este não foi um momento menor da história do País", disse Lindbergh. O petista afirmou que agora, no Senado, tem "relação educada e civilizada" com o ex-presidente, companheiro da base de sustentação do governo Dilma Rousseff.

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