A Portela, tradicional escola de samba do Rio, poderá desfilar no próximo carnaval a trajetória de vida do presidente Lula. O assunto está sendo estudado pelo presidente da agremiação, Nilo Figueiredo, que baterá o martelo nas próximas semanas. "Seria uma honra grande falar do assunto. Mas fica muito mais difícil conseguir patrocínio. Se ele é o enredo, os recursos federais ficam impedidos de chegar à Portela", disse Figueiredo.
Ele contou que foi "sondado" para levar o tema à avenida - mas não revela quem o propôs. Figueiredo conheceu Lula em 2004, quando a Portela preparava um desfile sobre as oito metas do milênio (que acabou rendendo à escola, no ano seguinte, o penúltimo lugar no grupo de elite do carnaval carioca). "Lula foi o primeiro presidente da República a visitar uma quadra de escola de samba. Se eu fizer, será tratando do homem, e não do governo."
O enredo seria baseado no livro Lula, O Filho do Brasil, de Denise Paraná, jornalista e historiadora que já foi assessora de Lula. A publicação, que enfoca os anos anteriores à sua entrada na política (vai da infância em Pernambuco à morte da mãe, quando ele se encontrava preso por liderar greves no ABC), serviu de base ao roteiro do filme homônimo, de Fábio Barreto, cujas filmagens foram encerradas recentemente, e poderá ainda gerar outro fruto: uma minissérie, pela qual emissoras de TV europeias já se interessaram.
Denise não sabia da possibilidade de o livro ser usado pela Portela, mas acredita que a vida de Lula renderia "muitos enredos". "A parte política já foi bastante coberta pela imprensa. O mais interessante é a história de vida, que é maravilhosa."
A pobreza no sertão, a relação dura com o pai, o vínculo forte com a mãe, a chegada a São Paulo e à escola, o trabalho, a vida sindical e a perda da primeira mulher, no parto, são algumas das passagens que poderão vir a ser mostradas pelos carnavalescos Alex Oliveira e Amauri Santos, a dupla (novata) que foi contratada pela Portela para o próximo desfile.
Política e carnaval se misturam há décadas. Mas falar de políticos parece não trazer sorte. Em 2000, a mesma Portela saiu com o enredo Trabalhadores do Brasil - A época de Getúlio Vargas, e ficou em 10º lugar (de 14 escolas). Getúlio já havia sido homenageado pela Mangueira, em 56 (terceiro lugar), e pelo Salgueiro, em 85 (sexto lugar).
Em 90, a Unidos do Cabuçu perguntou Será que votei certo para presidente? Chegou em último. Oito anos depois, cantando Luís Carlos Prestes, a Grande Rio ficou em oitavo. Este carnaval, Leonel Brizola foi lembrado pela Inocentes de Belford Roxo, escola do segundo grupo que amargou a penúltima colocação.
