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Por Previdência, Planalto pretende poupar infiéis

Para governo, mesmo que denúncia seja barrada, Temer ainda precisa da base para aprovar reforma

Foto do author Vera Rosa
Por Vera Rosa , Tania Monteiro e BRASÍLIA
Atualização:

Na ofensiva para garantir quórum no plenário da Câmara dos Deputados e derrubar hoje a denúncia por corrupção passiva contra Michel Temer, o governo passou a garantir aos aliados, nos bastidores, que não haverá retaliação a quem se posicionar contra o presidente. A nova estratégia tem como principal alvo o PSDB e mira não apenas na rejeição do processo contra Temer, mas também na reforma da Previdência.

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O Palácio do Planalto avalia que o plenário barrará a investigação. Mesmo assim, a crise política está longe de ser resolvida e, se escapar da denúncia, Temer precisa da base unida para aprovar a reforma da Previdência. É justamente aí que seus problemas aumentam ainda mais.

Dividido, o PSDB ameaça a todo instante deixar o governo. Dos 46 deputados da bancada tucana, 30 já falam em votar hoje contra Temer. O PSDB comanda quatro ministérios e o presidente pediu ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) que o ajude a reverter votos. Alvo de novo pedido de prisão apresentado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Aécio é um dos principais defensores de Temer no PSDB.

A deputada Mariana Carvalho (PSDB RO), 2ª secretária da Mesa da Câmara,faz leitura do parecer da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ), contrário àautorização para processar o presidente da República, Michel Temer, por crime de corrupçãopassiva Foto: Dida Sampaio/Estadão

Embora até mesmo o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, esteja há tempos mandando recados de que os traidores perderão cargos na administração, na prática auxiliares do presidente dizem que o momento não é de confronto. Em conversas reservadas, alguns deles afirmam que o troco pode até ser dado aos infiéis, mas não agora porque é preciso evitar um esgarçamento ainda maior da base de sustentação de Temer.

“Em política não se briga com ninguém”, argumentou o vice-líder do governo na Câmara, deputado Beto Mansur (PRB-SP), um dos integrantes da “tropa de choque”. “Queremos virar logo essa página para votar a reforma da Previdência e outras de que o Brasil precisa. Estamos fazendo um apelo para que todos marquem presença no painel e, se não puderem votar com o governo, que se abstenham.”

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse ter certeza de que o PSDB não virará as costas para Temer. “O PSDB tem um papel importante no governo e vai ajudar o governo”, afirmou. “Recebi vários deputados dizendo que iam votar contra o presidente, mas a favor da reforma da Previdência.”

Pelos cálculos do Planalto, Temer terá hoje entre 240 e 280 votos a seu favor, mas ainda há entre 30 e 40 “indecisos”. Para que a denúncia seja aceita, é necessário o apoio de 342 dos 513 deputados. A ideia inicial do governo era fazer da votação de hoje um teste para demonstrar sua força – o Planalto precisa de 308 votos para aprovar a reforma da Previdência. Percebeu, porém, que o presidente pode ganhar sobrevida, mas está muito enfraquecido.

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A intenção do governo de não punir os infiéis foi recebida com revolta por aliados de vários partidos. “Os colegas não vão aceitar isso e todos vão cobrar punição de quem for contra o presidente”, avisou o deputado Mauro Pereira (PMDB-RS). “Quem votar contra tem de ser afastado porque não tem responsabilidade com o País e aposta no caos na economia.”